A exploração contínua da tecnologia de vigilância e o impacto que ela tem sobre os líderes eleitos emergem em um novo capítulo com a recente ação judicial envolvendo a startup Flock Safety e Ulises Cabrera, prefeito da cidade de Moreno Valley, na Califórnia. Conhecida por sua tecnologia de reconhecimento de placas, a Flock Safety, avaliada em impressionantes US$ 3,5 bilhões, anunciou a contratação de Cabrera no ano passado, com a intenção de promover seus serviços no mercado cada vez mais competitivo de monitoramento. No entanto, a relação parece ter tomado um rumo inesperado, resultando em um processo judicial que levanta questões sérias sobre ética, política e as fronteiras entre os interesses do setor privado e a administração pública.
A contratação de Cabrera, que é prefeito de Moreno Valley desde 2022, ocorreu em um momento em que a empresa estava buscando expandir seu alcance. Embora a posição de Cabrera na prefeitura seja considerada parcial, sua presença em um cargo de representação pública apresentou desafios, particularmente em relação a possíveis conflitos de interesse. A nova função de Cabrera como Comunidade Engajamento Manager da Flock Safety durou de fevereiro a junho de 2024. Durante esse período, ele esteve envolvido em eventos que promoviam a tecnologia da empresa em cidades ao redor do país, elevando os holofotes sobre seu papel duplo.
De acordo com o processo, duas semanas após iniciar seu trabalho na Flock, Cabrera recebeu um pedido de um colega da empresa para que ele usasse sua posição de prefeito para beneficiar a startup. Cabrera expressou preocupações éticas acerca desse pedido e decidiu consultar seu advogado. A alegação de que um funcionário da Flock exibiu comportamento retaliatório após essa consulta levanta sérias preocupações sobre o ambiente de trabalho e a cultura da empresa. A tentativa da empresa de transformar um cargo público em uma máquina de impulsionar interesses privados, conforme observa Albert Fox Cahn, fundador do Surveillance Technology Oversight Project, ilustra a crescente necessidade de uma reflexão mais profunda sobre os vínculos entre governo e indústria de vigilância.
Segundo a Flock, todas as ações tomadas em relação à contratação de Cabrera estavam alinhadas com as regulamentações de conflitos de interesse da Califórnia. A empresa afirma que Cabrera foi treinado sobre as normas que proíbem a tomada de decisões que possam beneficiar interesses financeiros pessoais, enquanto ainda permite que funcionários públicos aceitem empregos no setor privado. No entanto, a própria carreira política de Cabrera apresenta um conflito de interesses quando ele não revelou sua ligação com a Flock enquanto promoveu publicamente a instalação de um sistema de vigilância em Moreno Valley durante sua campanha de reeleição.
Cabrera também levantou preocupações sobre a Flock aplicando sub-representações significativas no número de câmeras de vigilância instaladas em sua cidade e em outros locais. Uma investigação separada do Forbes apontou que a Flock supostamente violou leis em pelo menos cinco estados, instalando câmeras sem as devidas licenças. Em resposta, a Flock se defendeu, afirmando que “opera da melhor forma possível dentro dos limites da lei”. O fato de que Broncovs Flock pode estar operando em um espaço juridicamente nebuloso, enquanto tenta expandir sua capacidade de vigilância, levanta questões ainda mais profundas sobre a regulamentação e a ética no setor.
Além das questões de ética e conflito de interesses, Cabrera acusou um colega da Flock de assédio sexual durante uma conferência, afirmando que houve um contato físico inapropriado. A Flock negou todas as acusações feitas por Cabrera, desafiando a validade de suas alegações. Este processo não apenas expõe as complicações que surgem da intersecção entre o mundo corporativo e a política, mas também ressalta a natureza delicada e muitas vezes controversa do uso da tecnologia de vigilância ajustada às realidades de governança.
O caso de Cabrera com a Flock não é um incidente isolado. Nos últimos meses, a empresa enfrentou diversos desafios legais, incluindo um processo movido por uma organização de direitos civis que argumentou que suas práticas de vigilância violam a Quarta Emenda da Constituição dos Estados Unidos. Além disso, em setembro de 2024, o Departamento de Segurança Pública do Texas emitiu uma ordem de cessar e desistir à Flock, argumentando que a empresa não possuía as licenças adequadas para operar em locais privados. Essas questões destacam a necessidade urgente de uma supervisão mais rigorosa sobre as práticas de vigilância, especialmente à medida que empresas como a Flock se expandem.
Esta situação não apenas exacerba a desconfiança pública em relação ao uso da tecnologia de vigilância, mas também exige uma discussão aberta e transparente sobre as implicações para a democracia e os direitos civis. Como sociedade, devemos questionar quão longe estamos dispostos a permitir que a tecnologia influencie nossas vidas cotidianas e a integridade de nossas instituições governamentais. Assim, o caso de Ulises Cabrera, a Flock Safety e as complexidades em jogo constituem um chamado à reflexão sobre diretrizes e legislações que governam a intersecção entre a política e as corporações de tecnologia de vigilância.