Na busca incessante por entender como as pessoas conseguem relaxar em um ambiente de trabalho tão estressante, o fotógrafo sul-coreano Kim Seunggu tem se dedicado ao projeto intitulado “Dias Melhores”, que captura a essência da cultura do lazer na Coreia do Sul. Essa nação é conhecida por possuir uma das jornadas de trabalho mais longas do planeta, ocupando o quarto lugar no ranking mundial, onde o conceito de “gwarosa” — que se refere à morte por excesso de trabalho — se tornou uma triste realidade, levando a um número significativo de fatalities anuais. No entanto, mesmo em meio a estas dificuldades, o trabalho de Kim revela as nuances de uma sociedade que anseia por momentos de diversão e socialização.
Desde 2010, quando iniciou suas fotografias, o artista tem documentado a vida cotidiana no quadro do lazer sul-coreano, enfatizando o contraste entre o estressante cenário urbano e as alegres interações sociais registradas em suas obras. No contexto atual, é interessante notar que o governo sul-coreano, em 2023, foi forçado a recuar de planos que pretendiam aumentar a carga horária máxima de trabalho de 52 para 69 horas por semana, após uma forte oposição de jovens trabalhadores das gerações Millennial e Z.
A cultura de lazer na Coreia do Sul, conforme menciona Kim, não é apenas uma fuga do cotidiano, mas um reflexo de uma “comunidade flexível”, que fundamenta suas interações nas tradições de coletividade herdadas do confucionismo, mas que também abraça as influências do individualismo ocidental. O fotógrafo observa: “Verão, natureza, festivais e encontros comunitários têm uma importância extremamente significativa. Eu sinto que a nossa cultura de lazer expressa a resistência e a alegria, mesmo diante das pressões diárias.”
Os trabalhos de Kim, que incluem locais populares como a piscina Jangheung Hanok, o Parque Mulbit e o exuberante Royal Azaleas Hill, têm sido elogiados em diversos círculos artísticos. Em uma torna evidente a importância do equilíbrio entre vida profissional e pessoal, Kim se torna uma voz poderosa competindo contra os estereótipos de uma sociedade obcecada pelo trabalho. Suas imagens vibrantes e coloridas têm como objetivo iluminar os desafios da vida moderna, todos enquanto ele ganha reconhecimento internacional, como o Grand Prix do Tokyo International Photography Competition.
Um aspecto marcante do trabalho de Kim é sua capacidade de capturar a diversidade das classes sociais na Coreia do Sul. Em seus registros, a classe média é o foco central, refletindo o verdadeiro espírito sul-coreano. Ele diz: “Pessoas da alta classe estão frequentemente em locais acessíveis apenas a uma minoria, enquanto a cultura da maioria é o que realmente representa a sociedade sul-coreana.” Essa perspectiva o levou a entender que as representações de pintura de gêneros da dinastia Joseon refletem histórias que mostram o cotidiano do povo comum, uma tentativa de criar conexão entre passado e presente.
Neste universo de trabalho árduo e explorações sociais, Kim busca resgatar momentos de alegria e união. O amor por festas sazonais, o desejo de liberdade e as conexões interpessoais são elementos que surgem como protagonistas em sua série. Suas preocupações não são apenas artísticas, mas também sociais, pois ele retrata a luta pelas circunstâncias que ainda impõem uma carga de estresse entre os jovens sul-coreanos, que constantemente se apaixonam por essa dualidade entre trabalho e lazer.
Aproveitando as festividades locais, Kim nos mostra que, mesmo em um clima de incertezas, a busca pela conexão humana e experiências compartilhadas é uma experiência firme no coração de uma sociedade, e esse é o grande tesouro da cultura do lazer. “Dias Melhores”, a publicação mais recente de Kim, está disponível e promete uma imersão profunda nos temas de comunidade, recreação e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Por meio de suas lentes e do compromisso contínuo com um estilo de “fotografia lenta”, Kim revela a beleza no cotidiano e as sutilezas esquecidas por muitos. A Coreia do Sul, apesar de suas adversidades trabalhistas, apresentadas de maneira vibrante através das imagens de Kim Seunggu, mostra que a cultura do lazer é uma importante forma de resistência e uma expressão de vitalidade em um mundo repleto de desafios.
Vale lembrar que Kim Seunggu não só captura imagens, mas também um espírito coletivo que busca, a cada dia, momentos de felicidade em meio a um ritmo frenético que nunca parece pausar. Com isso, ele lança uma provocação ao observador: é possível ver beleza e alegria, mesmo nas horas mais sombrias? O desafio é lançado e em suas fotografias, a resposta parece ressoar.
Leia mais sobre a cultura sul-coreana e o trabalho de Kim Seunggu: