Todd Bridges, famoso por seu papel como Willis Jackson na icônica série ‘Diff’rent Strokes’, compartilhou seus pensamentos complexos sobre a experiência de ser uma estrela teen em meio ao racismo e às dificuldades enfrentadas nos bastidores do programa. Em uma conversa franca no podcast ‘Allison Interviews’, Bridges, que agora tem 59 anos, revelou que ser reconhecido tornou-se uma faca de dois gumes, repleta de alegrias e desafios.

Em sua narrativa, Bridges destaca a empolgação inicial de alcançar a fama. “Era animador, porque você era bem conhecido. Mas, ao mesmo tempo, você tinha um alvo em suas costas. Viver no sul da Califórnia era muito diferente de viver em São Francisco. Em São Francisco, todo mundo se dava bem e ninguém se importava com a cor da pele. Quando me mudei para Los Angeles, minha primeira experiência com racismo aconteceu durante a compra de uma casa em Culver City,” recorda. Essa transição geográfica levou Bridges a um entendimento profundo da desigualdade que ainda persiste em várias comunidades.

O ator também relatou uma experiência particularmente perturbadora ao tentar comprar uma casa. Sua mãe, a falecida atriz Betty A. Bridges, que “soava como uma mulher branca ao telefone”, teve as expectativas frustradas quando, ao visitar uma propriedade, os vendedores rapidamente mudaram de ideia ao se depararem com a presença de uma família negra. “Estávamos prontos para comprar, então nos disseram: ‘Ah, não temos mais casas à venda aqui’,” lembra, rindo da situação, mas também refletindo sobre a dureza dessa realidade. “No final, minha mãe conseguiu que uma amiga branca entrasse em contato e conseguíssemos a casa. Era difícil lidar com isso sendo criança, famoso e ainda enfrentando essa realidade.” Este tipo de discriminação racial não é um problema isolado e desafia a esperança de uma sociedade mais igualitária.

Bridges não parou por aí ao falar sobre as questões raciais que surgiam nos bastidores de ‘Diff’rent Strokes’. Juntamente com seu companheiro de cena Gary Coleman, ambos advogaram por uma maior representação de profissionais negros tanto entre os atores quanto na equipe técnica. “Eu e Gary éramos os únicos negros no show naquela época e não havia membros negros na equipe. Comecei a falar e finalmente conseguiram contratar membros da equipe negra, e conseguimos um diretor negro. Isso nos fez sentir muito melhor, porque tínhamos pessoas ao nosso redor que se pareciam conosco,” afirmou Bridges.

A série, que foi ao ar de 1978 a 1986, teve um impacto significativo na representatividade da comunidade negra na televisão, mas Bridges sente que nem sempre recebe o reconhecimento que merece. “É interessante, porque às vezes falam sobre programas negros e não mencionam ‘Diff’rent Strokes’. E eu me pergunto: ‘Como podem não mencionar ‘Diff’rent Strokes’? Isso foi um ponto pivotal para muitos outros programas começarem a surgir,” comentou sobre a falta de ênfase que este trabalho crucial recebeu ao longo dos anos.

Gary Coleman e Todd Bridges em 'Diff'rent Strokes'

A determinação de não comprometer a integridade pessoal é um ponto central nas lembranças de Bridges. Ele recorda um episódio em que os produtores queriam que seu personagem insultasse Muhammad Ali, um de seus ídolos. “Eles queriam que eu dissesse algo negativo sobre Muhammad Ali em um episódio de ‘Diff’rent Strokes’, e isso não era algo que eu poderia fazer. Eu disse: ‘Não vou insultar meu herói’. Os produtores insistiram: ‘Se você não fizer, vamos te demitir.’ Minha mãe prontamente respondeu: ‘Se quiserem demiti-lo, tudo bem. Não vamos comprometer sua integridade para isso'”, contou Bridges, enfatizando a importância de se manter fiel a si mesmo em situações difíceis. O compromisso dele e da mãe em defender sua integridade eventualmente resultou na mudança de decisão dos produtores.

Betty A. Bridges com Todd Bridges nos bastidores de 'Diff'rent Strokes'

A saúde mental e o bem-estar de Coleman também são discutidos, onde Bridges expõe a percepção comum entre os colegas de elenco de que os pais do ator colocavam a busca por dinheiro à frente da saúde e bem-estar de Gary. “Todos nós percebemos que Gary teve um transplante de rim e voltou ao trabalho apenas duas semanas depois. Isso não deveria ter acontecido, e foi terrível vê-lo passar por isso, ele estava sob tanto estresse que o corpo dele rejeitou o rim,” afirmou Bridges, mirando novamente na responsabilidade que os adultos têm com as crianças no mundo do entretenimento.

Elenco de 'Diff'rent Strokes'

A obra clássica ‘Diff’rent Strokes’ continua a ressoar com o público, e Bridges está envolvido em iniciativas para reviver essa influência benéfica da televisão. “Estamos tentando trazer isso de volta à TV. Estamos trabalhando em algo agora. Não há famílias tradicionais na TV atualmente. Estamos tentando criar isso novamente, e eu acredito que podemos,” disse Bridges, enfatizando a necessidade de conteúdo valioso que possa ser apreciado por todas as gerações. Ele conclui que a televisão deve ser uma ferramenta de aprendizado e entretenimento, e não um campo de batalha política. Para ele, a aposentadoria de histórias mais tradicionais e famílias na televisão é uma missiva que ainda pode ser resgatada.

Com esse relato, Todd Bridges não apenas elucida suas experiências pessoais, mas também dá voz a questões cruciais sobre raça, integridade na infância e a evolução da programação na televisão. É uma lembrança de que mesmo os ídolos do passado enfrentaram desafios que ainda são relevantes na sociedade moderna, e que é vital lembrar suas lutas e alegrias. Ele está certo ao afirmar que o objetivo da televisão deve ser promover diversão, aprendizado e, acima de tudo, união familiar.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *