A situação no Mediterrâneo se agrava a cada dia, com eventos trágicos ocorrendo em um ritmo alarmante. Recentemente, pelo menos 27 pessoas perderam a vida após o naufrágio de dois barcos carregados com migrantes na costa da Tunísia, de acordo com informações da emissora estatal Tunisia TV. Este triste evento ocorreu em um contexto mais amplo, que já se mostra fatal para muitos que buscam uma nova vida na Europa.
Os barcos, que estavam transportando africanos de países da África subsaariana, afundaram nas proximidades de Alataya, nas Ilhas Kerkennah da Tunísia. A situação piorou quando relatos indicaram que cerca de 83 pessoas foram resgatadas a três milhas da costa, onde as embarcações naufragaram. A Cruz Vermelha informou à CNN que um total de pelo menos quatro naufrágios ocorreram na região apenas na última semana, resultando na morte de 84 indivíduos, a maioria deles partindo da Tunísia e um de origem líbia.
Esses incidentes trágicos são apenas a ponta do iceberg em uma onda crescente de aflições que os migrantes enfrentam ao tentar cruzar o Mediterrâneo. UNICEF anunciou que mais de 2.200 pessoas já perderam suas vidas no mar em 2024, e esse número inclui centenas de crianças, as quais representam um em cada cinco migrantes nessa travessia perigosa. Muitas dessas crianças fugindo de situações de conflito violento e pobreza extrema esquematizam sua jornada em busca de segurança e melhores oportunidades.
Horas antes da virada do ano, a situação chegou ao cúmulo com o naufrágio de outra embarcação ao largo de Lampedusa, na Itália, deixando mais de 20 desaparecidos,entre os quais havia mulheres e crianças. Dentre os sobreviventes, encontra-se uma criança de apenas 8 anos que agora está sem notícias da mãe. Lampedusa, uma ilha italiana no Mediterrâneo, é frequentemente o primeiro ponto de chegada para muitos migrantes provenientes do norte da África, uma vez que a travessia até lá é mais curta do que alcançar a costa continental.
Desde 2014, a Organização Internacional para Migrantes (OIM) reporta que pelo menos 31.184 migrantes morreram ou estão desaparecidos no Mediterrâneo. A maioria desses incidentes ocorre na rota central do Mediterrâneo, que liga a África do Norte à Itália ou Malta. Embora se registre uma diminuição significativa no número total de chegadas à Itália em 2024 — 66.317, em comparação com 157.651 em 2023 e 105.131 em 2022 — as mortes e desaparecimentos continuam em níveis alarmantes. No último ano, 3.155 migrantes foram reportados como mortos ou desaparecidos, refletindo uma tendência preocupante nas águas do Mediterrâneo.
As fronteiras da Europa continuam a matar: um alerta urgente
Denúncias de organizações que atuam na ajuda aos migrantes, como o serviço Alarm Phone, apontam que inúmeros incidentes mortais têm ocorrido nas rotas de migração no Atlântico e Mediterrâneo nas últimas semanas. Com a população da Europa celebrando as festividades de fim de ano, as palavras do porta-voz do Alarm Phone ressaltam a tragédia: “As fronteiras da Europa continuam a matar. Lamentamos a perda de todas as vidas e expressamos nossa solidariedade com aqueles que perderam seus entes queridos nesta crise.” A situação exige uma resposta urgente e sensível por parte do governo.
O UNICEF fez um apelo aos governos, enfatizando a importância de priorizar a proteção de crianças migrantes por meio de operações de busca e resgate coordenadas, desembarque seguro, acolhimento comunitário e acesso a serviços de asilo. “É essencial que os governos abordem as causas raiz da migração e apoiem a integração de famílias nas comunidades que as acolhem, garantindo que os direitos das crianças sejam protegidos em cada etapa de sua jornada”, destaca a organização.
Como parte de suas estratégias para lidar com a crise migratória, a administração da Itália vem testando diversas abordagens para reduzir o número de migrantes que buscam abrigo em suas costas. Em outubro, o governo fez notícia ao transferir 16 migrantes que chegaram à Itália para centros de processamento na Albânia, uma medida que despertou críticas severas e foi chamada de um “dia sombrio para as políticas de asilo e migração da União Europeia” pelo Comitê Internacional de Resgate. Essas medidas acendem um alerta, fazendo com que o futuro da política migratória na Europa seja intensamente debatido.
A tragédia no Mediterrâneo não é apenas um relato de números e estatísticas, mas sim um apelo urgente à consciência e humanidade, lembrando a todos sobre a fragilidade da vida humana diante da busca por uma existência digna. Cada uma dessas histórias de perda deve nos fazer refletir sobre as consequências complexas do deslocamento humano, exigindo uma ação coletiva e solidária.
Imagens do sofrimento e da luta por sobrevivência frequentemente contrastam com a indiferença observada por aqueles que estão em um posicionamento mais privilegiado. A responsabilidade não deve ser apenas dos que atravessam o mar em busca de esperança, mas também da sociedade que os observa e do mundo que deve garantir que ninguém seja deixado para trás na busca por um futuro melhor.