O ex-presidente Donald Trump, em sua iminente reeleição, tem reafirmado táticas de diplomacia que lembram a abordagem imperialista e transacional que aplicou durante seu primeiro mandato. As suas recentes declarações sobre Groenlândia, Canadá e Panamá revelam uma clara intenção de moldar a política externa dos Estados Unidos em um estilo que se assemelha mais a negociações comerciais do que a alianças estratégicas. Este movimento coincide não apenas com as preocupações contemporâneas acerca da ascensão da China como superpotência, mas também reflete uma crescente tensão sobre a estabilidade global e as lacunas deixadas pela globalização ineficaz. Em um cenário complexo que envolve derretimento das calotas polares e um mundo interconectado, Trump aposta em suas propostas controversas como formas de garantir a segurança nacional e maximizar os interesses norte-americanos.
As reflexões de Trump sobre a Groenlândia, por exemplo, ecoam uma retórica que sugere que a política externa dos EUA deve ter como prioridade a procura por novos ‘negócios’. Ao comentar sobre a possibilidade de que os EUA adquiram a Groenlândia novamente, onde abundam minerais raros e novas rotas marítimas se tornam viáveis devido ao derretimento do gelo, Trump incorporou a filosofia do ‘América Primeiro’, que se baseia na ideia de que os EUA devem usar sua força para perseguir seus interesses nacionais de forma unilateral, não hesitando em coagir nações menores e alianças tradicionais.
A temática de ameaças à soberania de países vizinhos ressurge com a fala sobre a revisão do Tratado do Canal do Panamá, onde Trump expressou insatisfação sobre o controle panamenho do canal estratégico, sugerindo um desejo de reverter decisões políticas consideradas ‘follies’ de administrações anteriores, exacerbando ainda mais as tensões dentro da região. A preocupação com a influência chinesa nas Américas não é recente, tendo suas raízes no que ficou conhecido como a Doutrina Monroe, que defendeu contra a interferência europeia na América desde os anos 1820. No entanto, agora, figuras como a China, a Rússia e o Irã figuram como novas ameaças que desafiam os interesses dos EUA.
Ademais, o que pode ser visto como uma tentativa de reconfiguração das prioridades da política externa americana sob um prisma neocolonial é arriscado. Ao ameaçar usar força militar para recuperar Panamá ou Groenlândia, Trump pode estar cavando um buraco em suas relações internacionais ao mesmo tempo em que compromete a imagem dos EUA e deslegitima alianças construídas ao longo de anos. A possibilidade de utilizar a força militar repete padrões históricas de imperialismo, um conceito que é altamente censurado pela comunidade internacional e contradiz as ofensivas retóricas de Trump sobre evitar novos envolvimentos militares.
As implicações de uma retórica inflamável
Recentemente, em um evento, Trump alimentou a tensão global ao ser questionado por um repórter se ele descartaria o uso da força militar para reaver o Canal do Panamá ou controlar a Groenlândia, ao que ele respondeu: “Não vou me comprometer com isso, não”. Essa posição dividida revela características da sua gestão anterior, onde ele prometeu, de forma não convencional, uma robusta reafirmação do poder dos EUA.
A geografia política da América do Norte também traz à tona declarações que remetem à ideia de anexação econômica e de um desejo implícito de transformar a Canadá no 51º estado dos EUA. Tal visão automaticamente gerou reações de diversos líderes canadenses, que rapidamente lembraram que isso jamais seria aceito. O primeiro-ministro Justin Trudeau, por sua vez, deixou claro em uma plataforma social que “não há chance de que o Canadá se tornasse parte dos Estados Unidos”. É evidente que a retórica belicosa de Trump poderá colocar o país em uma posição vulnerável, o que potencialmente alienaria nações que outrora eram aliados leais.
A imagem de Trump se baseia na figura de um líder destemido que, perante um inimigo, não hesita em ir à guerra. Contudo, o risco de se ver interpretado como um ‘pirata geopolítico’ é alto. Um agir dessa forma perante a Groenlândia não só desrespeitaria a soberania da nação autônoma, como também minaria a confiança de seus aliados ao redor do mundo.
Muitos estudiosos e especialistas em política internacional temem que as atitudes de Trump podem não apenas afastar nações, mas também aproximá-las da órbita da influência chinesa. A pressão para uma aliança no hemisfério ocidental poderia ocorrer à medida que países buscam segurança frente à postura agressiva dos EUA. Especialistas alertam que a necessidade de unir forças contra a hegemonia norte-americana tem crescido na América Latina, o que poderia culminar em uma nova ordem geopolítica.
Por fim, a abordagem unidimensional de Trump às questões de política externa serve como um indicativo de que o valor das alianças e do respeito mútuo estão em risco, com perigos reais de que sua visão ‘América Primeiro’ evite a solução diplomática a problemas globais, favorecendo estratégias de confrontação que poderiam ter consequências desastrosas para a imagem e a segurança dos Estados Unidos no cenário mundial.