a solidão se tornou um fenômeno alarmante em várias sociedades, mas na coreia do sul, a questão tomou proporções críticas que exigem ações imediatas. Diariamente, milhares de sul-coreanos, principalmente homens de meia-idade, falecem em situações de isolamento, muitas vezes sem que ninguém perceba. Esses falecimentos, conhecidos no país como “godoksa”, têm gerado um crescente alarme entre as autoridades e a sociedade civil, que veem nesse cenário uma verdadeira epidemia de solidão. As mortes solitárias estão se tornando um tópico de discussão nas esferas políticas e sociais, levando o governo a investir valor significativo em iniciativas que buscam reverter essa triste realidade.
recentemente, a capital sul-coreana, seul, anunciou um plano ambicioso que irá destinar cerca de 451,3 bilhões de won, equivalentes a aproximadamente 327 milhões de dólares, nos próximos cinco anos. O objetivo principal não é simplesmente evitar que mais pessoas morram sozinhas, mas sim “criar uma cidade onde ninguém se sinta só”, conforme declarado pelos líderes da metrópole. As ações propostas incluem a implementação de um serviço de apoio emocional disponível 24 horas por dia, a criação de plataformas online para aconselhamento e um sistema de busca dedicado a identificar aqueles residentes que se encontram em situação de isolamento.
o prefeito de seul, oh se-hoon, enfatizou a natureza coletiva desse desafio, afirmando que a solidão e o isolamento não são apenas questões individuais, mas problemas sociais que devem ser abordados em conjunto. De fato, os números alarmantes que acompanham a epidemia de solidão são suficientes para justificar essa mobilização. Desde 2011, o número de mortes solitárias na coreia do sul aumentou de 682 para 3.661 em 2023, conforme as estatísticas do ministério da saúde e bem-estar. O aumento neste número está, de certa forma, relacionado a uma nova definição amplificada do termo “morte solitária”, que agora abrange não apenas aqueles que morrem sem serem encontrados por dias, mas também aqueles que vivem isolados e falecem devido a doenças ou suicídio.
além das linhas de apoio, o governo sul-coreano busca estabelecer serviços psicológicos expandindo o acesso a espaços verdes e promovendo atividades comunitárias que incentivem os cidadãos a interagir socialmente. Um exemplo dessa estratégia inclui a oferta de planos de refeições nutritivas voltados especialmente para a população de meia-idade e idosos. O desafio é garantir que essas medidas sejam implementadas de maneira eficaz e que os recursos disponibilizados sejam suficientes para atender à demanda em uma sociedade que tem mostrado resistência cultural para lidar com a solidão.
os sociólogos e especialista em psicologia observaram que a solidão é um fenômeno que transcende as fronteiras sul-coreanas, embora existam características culturais específicas que tornam os sul-coreanos vulneráveis a esse sentimento. A professor de psicologia an soo-jung, da universidade myongji, destacou que a solidão, na perspectiva sul-coreana, está frequentemente ligada à sensação de inadequação e falta de propósito. Esse sentimento é amplamente cultivado em uma sociedade que valoriza profundamente conquistas e relacionamentos, levando a uma comparação que pode ser prejudicial para a saúde mental de muitos.
o fenômeno social do “hikikomori”, um termo japonês para descrever pessoas que se isolam por longos períodos, também ganhou destaque na coreia do sul. Estimativas indicam que cerca de 244 mil sul-coreanos têm se isolado em suas casas, criando um novo desafio para o governo no enfrentamento da solidão. Com uma população envelhecendo e uma taxa de natalidade em declínio, a coreia do sul enfrenta um problema demográfico que agrava a situação. Mais do que apenas um fator de saúde pública, a solidão se tornou uma questão social que requer uma abordagem integrada e a participação da sociedade civil. O aumento de 84% nas mortes solitárias entre homens em 2022, em comparação com as mulheres, revela disparidades que necessitam ser tratadas.
as iniciativas do governo sul-coreano não estão ocorrendo em um vácuo global. Outros países, como o japão, também tomaram medidas em resposta a crises semelhantes. Em 2021, o japão nomeou um Ministro da Solidão, seguido por planos que buscavam aumentar a conscientização e fornecer apoio emocional. O fenômeno da solidão, que já foi categorizado como uma “epidemia”, está sendo reconhecido como uma questão de saúde pública em várias nações, levando organizações internacionais, como a organização mundial da saúde, a incluir a solidão em suas agendas de saúde pública.
concluindo, a luta da coreia do sul contra a solidão e suas trágicas consequências se torna um campo de batalha social urgente. Embora os investimentos feitos pelo governo representem um passo significativo em direção a uma abordagem mais humanizada e inclusiva, o verdadeiro desafio será garantir que essas políticas alcancem e ajudem aqueles que mais necessitam. Em um mundo cada vez mais conectado digitalmente, mas, paradoxalmente, isolado socialmente, é mais crucial do que nunca que os cidadãos se unam para promover laços genuínos de amizade e apoio, evitando assim que mais vidas sejam tragicamente perdidas na solidão.