Um novo estudo conduzido pelo laboratório de graham diering, professor assistente de biologia celular e fisiologia na escola de medicina da UNC, revela preocupantes implicações sobre os efeitos da interrupção do sono nos bebês e sua relação com o desenvolvimento cerebral e o risco elevado de desenvolver o transtorno do espectro autista (TEA). Afinal, você já parou para pensar o quão crítico é o sono para o nosso cérebro em desenvolvimento desde os primeiros dias de vida? Nos últimos anos, o entendimento sobre a importância do sono em adultos foi amplamente discutido, mas agora, os cientistas estão se voltando para as consequências que a privação de sono pode ter nas crianças em suas fases mais vulneráveis.
As consequências da privação de sono são amplamente conhecidas entre os adultos, incluindo problemas de saúde mental e física, como depressão, ganho de peso e um sistema imunológico mais fraco. Mas como as coisas se comportam quando falamos dos pequenos? Desde o nascimento, o sono é fundamental para o desenvolvimento do cérebro, especificamente na formação e conexão dos neurônios através de sinapses, que são essenciais para o aprendizado e memória. Começar a entender como a falta de sono pode interferir nesse processo delicado é vital.
O estudo, que foi co-liderado por sean gay, um estudante de pós-graduação do laboratório de diering, reuniu dados que sugerem que crianças e bebês são mais suscetíveis aos efeitos negativos da privação de sono. Os pesquisadores identificaram um impacto significativo na formação social e comportamental dos filhotes de camundongo quando a privação de sono ocorria na terceira semana de vida, situação que se assemelha à faixa etária de 1 a 2 anos em humanos. Isso é apenas um exemplo do peso que a privação de sono pode carregar: o estudo acentua a premência em olhar para esses aspectos em crianças, principalmente no que se refere ao autismo, condição que afeta uma em cada 54 crianças na América, segundo dados do centros para controle e prevenção de doenças (CDC).
Entre as revelações mais impressionantes do estudo, está a conexão entre a privação de sono e o risco genético subjacente para o autismo. Enquanto a privação de sono é um marcador importante de distúrbios neurodesenvolvimentais, incluindo TEA e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), a relação entre esses dois fatores ainda precisa ser esclarecida. É uma questão que intriga a comunidade científica: será que a privação de sono é uma causa ou uma consequência do autismo? O laboratório de diering está se esforçando para investigar esse dilema.
Uma das questões principais abordadas no estudo reside na forma como os modelos murinos respondem à privação de sono. Enquanto os modelos de camundongo adultos mostraram a capacidade de compensar a perda de sono ao aumentar o tempo de sono em períodos subsequentes, as crias mostraram-se incapazes de realizar esse “rebote de sono”. Essa incapacidade de compensação revela outro ponto crítico: a maneira como a privação de sono afeta a performance em tarefas de memória, onde os jovens mostraram deficiência, enquanto os adultos se mostraram mais resilientes. É como se os filhotes estivessem em um jogo, mas sem a chance de reverter as jogadas mal feitas, enquanto os adultos têm a experiência necessária para lidar com suas falhas.
A pesquisa também se debruçou sobre os sinapses, que são críticos para a comunicação entre os neurônios e a criação de memórias. Por meio de análises moleculares, os cientistas esperam desvendar a complexa relação entre a privação de sono e a formação sináptica na infância, tendo como resultado a construção de um dos bancos de dados mais abrangentes a respeito das consequências moleculares da escassez de sono na vida dos indivíduos.
O contínuo missionamento do laboratório se concentra em desenvolver medicamentos baseados em sono para crianças que possam abordar essas questões diretamente. Ao invés de apenas sedar, o objetivo é criar uma medicina que aumente a função sináptica e melhore o sono, sem interferir nas funções naturais do corpo.
A pesquisa de diering é um lembrete crucial de que o sono desempenha um papel vital em nossas vidas, principalmente na infância. O conhecimento adquirido através desses estudos pode abrir caminhos significativos para a compreensão e o tratamento do autismo e das condições de desenvolvimento, enfatizando que cuidar do sono das crianças não é apenas uma questão de conforto, mas uma necessidade para um desenvolvimento saudável.
Assim, enquanto você coloca suas crianças para dormir, lembre-se de que o simples ato de dormir pode ter um efeito duradouro em suas vidas e em sua capacidade de se desenvolver de forma saudável. A ciência tem muito a nos ensinar, e um dos maiores segredos pode estar escondido nas horas que passamos sonhando.