O presidente Joe Biden está prestes a dar um passo significativo em direção à reparação das relações entre o governo federal e as comunidades nativas americanas. Espera-se que ele emita um pedido de desculpas formal por conta do papel do governo na criação e operação das escolas de internato indianas, que, ao longo de um período de 150 anos, resultaram em abusos sistemáticos e no forçamento da assimilação cultural de crianças indígenas. Esta declaração simbólica ocorrerá durante a visita de Biden à Gila Crossing Community School, nos arredores de Phoenix, Arizona, como parte de sua primeira viagem oficial a “Indian Country” enquanto ocupa a presidência. Ao deixar a Casa Branca na quinta-feira, Biden expressou sua intenção de realizar um ato que deveria ter sido efetuado há muito tempo atrás ao dizer: “Vou fazer algo que deveria ter sido feito há muito tempo: fazer um pedido formal de desculpas às Nações Indígenas pela maneira como tratamos suas crianças durante tantos anos.

Análise da história e suas repercussões duradouras

O contexto dessa apologética é profundo e complexo. As escolas de internato indianas, administradas pelo governo federal, foram projetadas com a missão de assimilar crianças nativas americanas, destruindo deliberadamente suas culturas, línguas e identidades por meio de métodos brutais. O governo reconheceu, por meio de uma declaração da Casa Branca na última quinta-feira, que ao fazer essa reparação, o presidente está não apenas cumprindo uma obrigação moral, mas também enfatizando a importância de lembrar e ensinar a história completa do país, mesmo quando ela é dolorosa. A memória não deve ser considerada um fardo, mas um degrau para o aprendizado e a prevenção de recorrências de tais atrocidades.

Um marco fundamental que levou a esse apelo foi a iniciativa da Secretaria do Interior, liderada por Deb Haaland, a primeira americana nativa a ocupar um cargo no gabinete. Em 2021, Haaland comissionou a Federal Indian Boarding School Initiative, que fez um levantamento sobre o impacto das políticas federais de escolas de internato. O relatório final, publicado neste verão, confirmou que pelo menos 973 crianças nativas americanas morreram enquanto estavam sob esses cuidados estatais. Além disso, a revisão identificou pelo menos 74 locais de sepultamento, tanto marcados como não marcados, em 65 diferentes instituições. Entre 1819 e 1969, mais de 18.000 crianças foram retiradas de suas famílias e forçadas a frequentar mais de 400 escolas de internato indianas distribuídas por 37 estados ou territórios da época.

A dor e a luta pela reparação

Haaland salientou a gravidade desse episódio ao afirmar que o governo federal, assessorado pelo Departamento que ela lidera, executou ações deliberadas e estratégicas por meio das políticas de escolas indianas para isolar crianças de suas famílias, negar suas identidades culturais e roubar suas línguas, culturas e conexões que são a espinha dorsal das comunidades nativas. Essas políticas geraram traumas duradouros nas comunidades indígenas, traumas que a administração Biden-Harris se esforça para reparar. Uma das recomendações do relatório pedia ao governo dos EUA que reconhecesse formalmente seu papel nas escolas de internato e que acompanhasse esse reconhecimento com um pedido de desculpas às pessoas, famílias e tribos indianas que foram prejudicadas pelas políticas americanas.

Stephen Lewis, governador da Gila River Indian Community, se manifestou sobre a importância desse momento ao descrever a era das escolas de internato como um “tempo incrivelmente doloroso que ainda nos acompanha de maneira muito real, com o trauma geracional que surgiu desse período.” Lewis expressou sua esperança de que esse pedido de desculpas ilumine essa triste história e a documente para futuras gerações, garantindo assim que episódios dessa magnitude não se repitam.

Construindo um legado e o caminho a seguir

O evento de desculpas se alinha com os esforços de Biden para firmar seu legado em seus últimos meses de mandato. A administração tem promovido investimentos significativos nas comunidades nativas americanas, direcionando quase 46 milhões de dólares por meio de iniciativas do American Rescue Plan, da lei de infraestrutura bipartidária e da Inflation Reduction Act. Esses investimentos abrangem desde a construção de estradas até a mitigação de problemas de seca e a expansão do acesso à internet de alta velocidade, tudo isso em um esforço para respirar nova vida nas comunidades esquecidas.

A primeira-dama, Dr. Jill Biden, também tem se envolvido ativamente com as comunidades nativas, tendo visitado dez delas nos últimos quatro anos, reforçando ainda mais o compromisso da administração com a soberania tribal e a restauração de terras sagradas como monumentos nacionais. Este movimento não apenas coincide com o crescente apoio às comunidades indígenas, mas também acontece em um momento crítico, a menos de duas semanas das eleições, onde Biden procura reforçar a campanha da vice-presidente Kamala Harris. Embora a comunidade nativa americana represente uma pequena fração do eleitorado no Arizona, sua mobilização pode ser crucial, especialmente em estados de battleground, onde a diferença de votos foi mínima nas últimas eleições.

Ao final, o pedido de desculpas de Biden pode não apenas reverberar como um ato simbólico de reparação, mas também como um chamado à ação para que esse triste capítulo da história americana não seja esquecido, e mais importante, que as lições dele extraídas sejam utilizadas para construir um futuro mais inclusivo e respeitoso. É uma chance de curar feridas que têm se arrastado por gerações, um processo que requer a colaboração não apenas do governo, mas de toda a sociedade.

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