Na noite de quinta-feira, Charlamagne tha God não poupou críticas durante sua participação no programa AC360 da CNN, onde denunciou a cobertura da emissora sobre Donald Trump e suas declarações consideradas fascistas. Em um diálogo intenso com o apresentador Anderson Cooper, Charlamagne abordou o que considera um padrão de dupla moral aplicado à vice-presidente Kamala Harris, provocando um debate acalorado sobre o estado atual da política e da mídia nos Estados Unidos.
Em um clipe que rapidamente se tornou viral nas redes sociais, Charlamagne, famoso podcaster e co-anfitrião do programa de rádio “The Breakfast Club”, foi questionado por Cooper sobre o convite de Trump para participar do podcast “The Joe Rogan Experience” e se Harris teria a intenção de fazer o mesmo. Sua resposta foi cortante: “Acho que ela deve continuar chamando Donald Trump de fascista.” Ele seguiu, enfatizando que os americanos precisam prestar atenção ao retórico de Trump, questionando o porquê de se considerar candidatar uma pessoa que fala sobre colocar indivíduos em campos e realizar deportações em massa.
O intrigante momento se deu quando Charlamagne destacou a hipocrisia em torno do patriotismo na discussão política americana, comparando a reação da sociedade às ações de Colin Kaepernick, que se ajoelhou durante o hino nacional, com a complacência em aceitar comentários incendiários do ex-presidente sobre pôr fim à Constituição. “Quando alguém como Colin Kaepernick se ajoelha, todos dizem que isso é tão antipatriótico, mas um cara que quer terminar a Constituição e derrubar os resultados de uma eleição e ninguém se importa?”, questionou.
Com a intenção de desviar a conversa de Trump e chamar Harris à discussão, Cooper tentou novamente guiar a conversa, mas Charlamagne insistiu no ponto central: “Estamos falando se um presidente é um fascista, que fala sobre colocar pessoas em campos, que fala em terminar a constituição para derrubar resultados de uma eleição. Essa retórica não assusta as pessoas?” Ele fez referência, ainda, aos comentários repetidos de Trump e suas ameaças a opositores, que o ex-presidente chama de “inimigo interno”, e à sua contínua glorificação de regimes autoritários em seus comícios.
O ex-chefe do gabinete de Trump, John Kelly, já havia apontado em uma entrevista ao New York Times que, segundo sua experiência, o ex-presidente se encaixava na definição de “fascista”.
No entanto, Cooper tentou afirmar que a CNN cobria, sim, a retórica perigosa de Trump; foi então que Charlamagne não hesitou em objetar: “Sinto que ouvi mais nesta rede sobre ‘se Kamala Harris é negra?’ do que sobre Donald Trump ser um fascista. Estou errado?” Cooper, surpreso, afirmou que tal declaração era “bullshit”. Charlamagne insistiu em sua crítica, desafiando a narrativa que minimizava a gravidade da retórica de Trump em comparação com a maneira como a mídia cobre Harris.
A discussão não se limitou à retórica, mas também ao tratamento desigual entre as figuras políticas. Charlamagne reiterou sua crença de que a mídia não teve uma conversa honesta sobre Trump desde 2016, observando que as críticas dirigidas a Harris são muito mais rigorosas do que aquelas dirigidas ao ex-presidente. Durante um recente evento, Jake Tapper da CNN reconheceu essa diferença de tratamento, afirmando que a mídia estava tratando Harris como uma política comum, enquanto o tratamento dado a Trump era, no mínimo, problemático.
Este debate não se trata apenas de uma crítica à cobertura da mídia, mas reflete uma preocupação maior com a saúde da democracia nos Estados Unidos. As palavras de Charlamagne foram um lembrete da necessidade de vigilância critica em relação à retórica política e como isso afeta as liberdades civis. À medida que o ciclo eleitoral avança, é essencial que a mídia e o público estejam cientes do impacto das palavras e ações dos líderes políticos e das realidades que estas criam dentro da sociedade.
Por fim, a aparição de Charlamagne tha God na CNN não só lançou luz sobre a desigualdade no tratamento de figuras políticas, mas também destacou a urgência de um debate estratégico e honesto sobre os princípios fundamentais que sustentam a democracia americana. Resta saber quais serão os desdobramentos desta conversa e como a mídia irá ajustar seu foco ao expor a retórica perigosa de líderes que desafiam a própria essência da constituição.