A Geórgia, um país do Cáucaso com uma história rica e complexa, se prepara para um importante evento político em 26 de outubro, quando será realizada a eleição parlamentar. A tensão política no país, marcada por uma stratificação da sociedade entre os que sonham com um futuro na Europa e os que anseiam por retornar a um passado sob a influência soviética, nunca foi tão palpável. O governo atual, liderado pelo partido Georgian Dream, enfrenta sérias acusações de autoritarismo e uma crescente desconfiança popular a respeito de sua capacidade de conduzir o país em direção à integração europeia.
Uma história conturbada e memórias do passado
Na pequena cidade de Gori, onde nasceu Josef Stalin, a memória do ditador soviético ainda ecoa entre alguns dos moradores mais velhos. Enquanto guias locais recontam histórias sobre a vida de Stalin, lembrando até mesmo de seus alegados talentos poéticos, muitos jovens georgianos não compartilham do mesmo entusiasmo. Para a nova geração, que cresceu em um estado democrático, as reminiscências stalinistas são apenas capítulos sombrios de um passado que eles se esforçam para deixar para trás. Sinal de que os tempos mudaram, a estátua de Stalin foi removida em 2010 sob o véu da noite, prevenindo potenciais protestos da população.
No entanto, com a aproximação das eleições, um novo medo se instala entre os georgianos: a possibilidade de retorno a um regime autoritário. Desde que o partido Georgian Dream chegou ao poder há doze anos, muitos observadores notaram uma erodibilidade dos valores liberais que inicialmente defendia, refletida em sua postura em relação à União Europeia. Sob a direção do enigmático oligarca Bidzina Ivanishvili, o partido propôs uma lei sobre “agentes estrangeiros”, similar às políticas promovidas pelo Kremlin, e o clima de opressão política começa a deixar marcas preocupantes no tecido social da Geórgia.
Um risco crescente de autoritarismo e repressão
A retórica de Ivanishvili nas últimas semanas tem levantado alarmes. Num discurso recente, ele evocou a ideia de uma “apologia” pelo conflito de 2008 com a Rússia, que muitos georgianos ainda veem como uma invasão desmedida. Para Ivanishvili, um pedido de desculpas poderia “preservar 12 anos de paz”. No entanto, essas declarações provocaram a ira tanto de opositores como de cidadãos comuns, que encararam as palavras do líder como uma traição aos traumas vividos. Tal postura se revela especialmente problemática diante do contexto atual, onde os ecos da invasão russa à Ucrânia reiteram o medo de um retorno à dominação do Kremlin.
O cenário político na Geórgia, portanto, está longe de ser apolíneo. Nas ruas, as manifestações contra a lei de “agentes estrangeiros” comumente retratam cidadãos carregando bandeiras da União Europeia, em uma demonstração de apoio à integração europeia que contrasta com a postura do governo, cada vez mais cínica em relação a Bruxelas. Dados de pesquisa reforçam essa visão, indicando que mais de 80% da população georgiana apoia a adesão à UE, ao passo que apenas um terço se alinha ao partido no poder.
A luta pelo futuro da Geórgia e suas consequências
À medida que o clima tenso se intensifica, a pergunta que muitos se fazem é até que ponto o partido Georgian Dream está disposto a ir para se manter no poder. Especialistas alertam que o futuro da Geórgia está em jogo e que a eleição de outubro pode representar um ponto de inflexão decisivo. Se Ivanishvili e seu partido conseguirem assegurar a vitória, o país poderá caminhar em direção a uma direção semelhante à da Bielorrússia, onde o autoritarismo se tornou uma triste realidade.
A presidente georgiana, Salome Zourabichvili, uma figura formal com inclinações pró-ocidentais, exprimiu sua esperança de uma vitória para as forças pro-europeias, embora muitos se sintam receosos quanto à efetividade de suas chamadas à ação. Observadores políticos e líderes da oposição expressam grandes preocupações sobre as táticas de Ivanishvili, que parecem estar se distanciando do pacto democrático que vinha sendo pautado anteriormente.
Olhos atentos ao desenrolar da situação
As consequências das próximas eleições vão além das fronteiras da Geórgia, reverberando tanto no continente europeu quanto nos âmbitos de segurança regional. Um governo georgiano fragilizado ou que não respeite os princípios democráticos pode encorajar práticas autoritárias em outros países da região. Para muitos georgianos, o resultado dessas eleições é mais do que uma escolha política; é uma luta pela soberania e pela identidade nacional.
Neste ambiente carregado, permanece a expectativa de que os cidadãos façam valer seus direitos nas urnas. Com os desafios à liberdade política e econômica tornando-se mais tangíveis, a luta para garantir um futuro mais europeu e democrático se torna uma meta crucial para a população. À luz das tensões atuais, o que se espera é que a história da Geórgia não se repita com um novo capítulo de autoritarismo, mas sim que o país faça uma escolha consciente em favor do progresso e da autonomia.