A Iclândia se destacou como um verdadeiro laboratório de inovação no ambiente de trabalho, adotando uma abordagem audaciosa e progressista ao implementar a semana de trabalho reduzida, com várias iniciativas que têm gerado resultados muito positivos para o país. Desde 2020, um esforço nacional foi realizado para diminuir a carga horária de trabalho sem comprometer a remuneração dos funcionários. Os dados recentemente divulgados revelam que essa mudança não apenas foi bem recebida pelos trabalhadores, mas também trouxe benefícios significativos para a economia islandesa, que apresenta um desempenho superior ao da maioria de seus pares na Europa. Neste sentido, a experiência islandesa oferece um exemplo inspirador para outros países que buscam melhorar a qualidade de vida no trabalho e a produtividade econômica.
Entre 2020 e 2022, cerca de 51% dos trabalhadores islandeses aceitaram a proposta de redução na jornada de trabalho, incluindo a opção de uma semana de quatro dias. Tal informação foi corroborada por pesquisas realizadas por dois think tanks, os quais afirmam que esse número pode ser ainda maior nos dias atuais. O impacto dessa mudança é notável: no último ano, a Iclândia registrou um crescimento econômico mais robusto do que a maioria dos países europeus, enquanto sua taxa de desemprego se situa entre as mais baixas do continente, conforme indicado pelo Autonomy Institute, do Reino Unido, e pela Associação de Sustentabilidade e Democracia da Iclândia (Alda).
“Esse estudo representa uma verdadeira história de sucesso: as horas de trabalho mais curtas se tornaram comuns na Iclândia… e a economia é forte em uma série de indicadores”, afirmou Gudmundur D. Haraldsson, um dos pesquisadores da Alda. A partir de testes realizados entre 2015 e 2019, onde funcionários do setor público trabalharam 35 a 36 horas por semana sem perda salarial, foi possível observar que muitos desses trabalhadores costumavam cumprir jornadas de 40 horas. Os testes envolveram 2.500 pessoas, o que representa mais de 1% da população ativa da Iclândia na época, e buscavam manter ou aumentar a produtividade ao mesmo tempo em que melhoravam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal dos trabalhadores.
Os resultados das investigações foram, como se pode imaginar, surpreendentes: a produtividade permaneceu estável ou até aumentou em muitos locais de trabalho, enquanto o bem-estar dos colaboradores experimentou um aumento “dramático” em variados aspectos, englobando a percepção de estresse, o esgotamento físico e mental, bem como a saúde geral e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Diante desse cenário promissor, as associações sindicais da Iclândia conseguiram negociar reduções na jornada de trabalho para dezenas de milhares de seus membros, evidenciando o sucesso da iniciativa.
O vigor econômico da Iclândia é um dos pontos mais destacados nesta nova fase que o país está vivenciando. No ano de 2023, a economia islandesa se expandiu a uma taxa de 5%, uma das mais altas entre os países europeus ricos, só perdendo para Malta, conforme apontado pelo mais recente Panorama Econômico Mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado na última semana. Tal crescimento é surpreendente se comparado à taxa média de quase 2% observada entre 2006 e 2015, indicando uma mudança significativa na dinâmica econômica do país.
No entanto, o FMI prevê um enfraquecimento do crescimento econômico em 2023 e 2024 devido à desaceleração da demanda interna e um movimento semelhante no gasto turístico. Os índices de desemprego que refletem essa vitalidade econômica também são um foco de atenção, tendo alcançado 3,4% no ano passado, o que representa pouco mais da metade da média dos países europeus avançados. Segundo as projeções, espera-se uma leve alta para 3,8% neste e no próximo ano.
A tendência de experiências com a semana de quatro dias não se limita à Iclândia. No cenário global, diversas iniciativas semelhantes têm sido testadas, como a exitosa experiência de 2022 que envolveu 33 empresas, a maioria localizadas nos Estados Unidos e na Irlanda. Assim, enquanto a Iclândia continua a liderar pelo exemplo, as lições que vêm dessa experiência podem ser valiosas para outros países que buscam inovar nas práticas laborais, em busca de um futuro mais justo e produtivo para todos os trabalhadores.
Em síntese, a Iclândia demonstra que, ao priorizar o bem-estar dos trabalhadores e flexibilizar a carga horária, é possível colher frutos significativos tanto para os empregados quanto para a economia como um todo. À medida que essa abordagem ganha espaço em outras partes do mundo, fica evidente que um equilíbrio mais saudável entre trabalho e vida pessoal pode ser a chave para um futuro mais sustentável e produtivo.