Mais um capítulo na disputa entre o fundador do WordPress e o prestador de serviços de hospedagem
A recente disputa entre Matt Mullenweg, o fundador do WordPress, e o provedor de hospedagem WP Engine trouxe à tona questões fundamentais sobre a propriedade e o controle de plugins dentro da comunidade WordPress. Mullenweg anunciou que o WordPress está “forkando” um plugin desenvolvido pela WP Engine, especificamente o Advanced Custom Fields, que tem como função principal facilitar a personalização das telas de edição dos usuários do WordPress. O novo plugin, denominado Secure Custom Fields, será mantido por Mullenweg e sua equipe, com a promessa de remoção de upsells comerciais e correção de problemas de segurança, algo que ele considera essencial para a integridade da plataforma.
A equipe do Advanced Custom Fields reagiu com veemência através de um comunicado na rede social X, no qual descreveu a situação como uma tomada “unilateral e forçada” de um plugin que está “em desenvolvimento ativo”. Essa mudança, segundo a equipe, nunca ocorreu na história de 21 anos do WordPress. Em sua manifestação, a equipe levantou questões éticas sobre a violação do que consideram ser uma promessa fundamental da comunidade WordPress, solicitando que todos reflitam sobre as implicações dessa ação e o novo precedente que está sendo estabelecido. Essa reação evidencia um temor no seio da comunidade sobre possíveis intervenções semelhantes no futuro, algo que poderia ameaçar a natureza colaborativa do projeto WordPress.
Em um contexto mais amplo, é importante observar que tanto Mullenweg quanto um comunicado oficial do WordPress mencionaram que situações similares já ocorreram anteriormente, embora Mullenweg tenha ressaltado que este caso específico é “raro e incomum”, gerado por ataques legais da WP Engine. Ele destacou que não se espera que esse tipo de conflito aconteça com outros plugins. Para estabelecer os fundamentos de sua posição, Mullenweg e sua equipe referiram-se às diretrizes de plugins do WordPress, que conferem à plataforma o direito de desabilitar ou remover qualquer plugin, bem como a autorizar mudanças sem o consentimento do desenvolvedor, sempre em nome da segurança pública. Esse aspecto é um ponto crítico de discussão, pois traz à tona a questão do equilíbrio entre a liberdade de desenvolvimento e a proteção do ecossistema WordPress.
Para entender melhor a situação, é necessário considerar o papel do WordPress como um sistema de gerenciamento de conteúdo gratuito e de código aberto, amplamente utilizado em muitos sites, incluindo importantes veiculadores de informação. Plataformas como WP Engine e Automattic, a empresa de Mullenweg, oferecem serviços de hospedagem e outros recursos comerciais. Nos últimos tempos, Mullenweg fez fortes críticas à WP Engine, classificando a empresa como um “câncer para o WordPress”. As críticas abrangeram vários aspectos, desde a suposta falta de suporte à história de revisões até suas ligações com a investidora Silver Lake, além de questionar a nomenclatura que poderia gerar confusão no usuário comum sobre a relação da empresa com o WordPress.
A troca de cartas de cessação e desistência entre as duas partes espelha a intensidade do conflito. A WP Engine acusou Mullenweg de ameaçar adotar uma “abordagem nuclear de terra arrasada”, a menos que a empresa pagasse por uma licença para usar a marca WordPress. O WordPress, em resposta, baniu a WP Engine do acesso ao WordPress.org, uma ação que foi brevemente suspensa antes de ser reimposta. Essa medida impede a WP Engine de atualizar o plugin através da plataforma, limitando assim sua capacidade de oferecer atualizações automáticas para resolver problemas de segurança.
Apesar das tensões, a WP Engine informou que disponibilizou uma solução alternativa para os usuários que desejam atualizar o plugin e continuar a usufruir do Advanced Custom Fields. Essa solução é voltada apenas para os usuários da versão gratuita do ACF, enquanto os usuários da versão Pro continuarão a receber atualizações diretamente pelo site do ACF. Nesse cenário conturbado, Mullenweg reiterou que o Secure Custom Fields será oferecido como um plugin não comercial e convidou outros desenvolvedores a se envolverem em sua manutenção e melhorias, reforçando assim a abertura e a colaboração que caracterizam o espírito do WordPress.
À medida que a disputa entre Mullenweg e a WP Engine se desenrola, fica claro que ela transcende questões meramente comerciais, tocando em aspectos éticos e de governança que podem moldar o futuro do ecossistema WordPress. Com um cenário cada vez mais polarizado, as vozes da comunidade devem ser ouvidas, e o respeito pela integridade do projeto deve ser uma prioridade à medida que se busca uma resolução que atenda a todos os envolvidos. A dinâmica entre os desenvolvedores e as plataformas que hospedam suas soluções é crucial para garantir que o WordPress continue a prosperar como uma plataforma aberta e acessível a todos.