Em um alerta contundente, as Nações Unidas ressaltaram que, se as emissões não forem drasticamente diminuídas até 2035, um desastre climático global se tornará inevitável. Cientistas e especialistas têm sido unânimes ao afirmar, ao longo de anos, que um aumento de 3 graus Celsius na temperatura média global em relação aos níveis pré-industriais resultará em consequências catastróficas para a humanidade. Este cenário que parecia distante agora é iminente, pois as emissões de gases de efeito estufa atingiram níveis sem precedentes. A mensagem é clara: a janela para a mudança é pequena e se fecha rapidamente.

Um novo relatório da ONU, publicado na última quinta-feira, descreve um momento crítico na luta contra as mudanças climáticas, o que eles chamaram de “climate crunch time”. Os gases de efeito estufa, que aprisionam o calor na atmosfera e provocam o aumento das temperaturas globais, estão em níveis históricos. O relatório comunica que medidas urgentes precisam ser adotadas agora, uma vez que a humanidade não dispõe de muitos anos para evitar os piores impactos das mudanças climáticas. Segundo a ONU, as nações devem reduzir suas emissões em 42% até 2030 e buscar uma redução de 57% até 2035 para minimizar as consequências devastadoras enfrentadas pelo planeta.

Não é novidade que as temperaturas globais não podem se elevar além de 1,5 graus Celsius se desejamos prevenir condições climáticas mortais. De fato, já experimentamos os resultados dessa inação. Desde ondas de calor consecutivas até secas severas e enchentes sem precedentes, os impactos das mudanças climáticas estão se tornando cada vez mais evidentes. Além disso, conforme as temperaturas aumentam, os padrões de cultivo, essenciais para a segurança alimentar, já estão mudando, com uma previsão alarmante de que, ao atingirmos 1,5 a 2 graus Celsius a mais, as colheitas começarão a declinar e o nível do mar poderá crescer até 3 metros, ameaçando comunidades costeiras. As mudanças nos ecossistemas marinhos, que desempenham um papel vital na proteção contra desastres climáticos, também devem ser consideradas, pois estão sob pressão intensa devido ao aumento das temperaturas oceânicas, que podem resultar em furacões ainda mais devastadores.

Esse futuro já perigoso se tornará uma catástrofe sem precedentes se não tomarmos medidas imediatas. A ONU enfatiza que, caso o aumento de temperatura passe do limite estabelecido, nações insulares enfrentam risco real de desaparecimento, enquanto ondas de calor intensificadas farão com que muitas pessoas não consigam trabalhar adequadamente. O calendário é implacável, e cada dia conta. O secretário geral da ONU, António Guterres, alertou: “Estamos equilibrando em uma corda bamba planetária. Se os líderes não preencherem a lacuna das emissões, estaremos nos lançando de cabeça em um desastre climático.”

Em 2022, as emissões de gases de efeito estufa alcançaram um recorde absoluto de 57,1 gigatoneladas de equivalentes de CO2, um aumento de 1,3% em relação a 2021 e significativamente maior do que a taxa média observada de 2010 a 2019, onde as emissões aumentaram apenas 0,8% ao ano. Os setores com maior contribuição para esse aumento são poder, indústria e transporte. Embora as emissões nos Estados Unidos tenham diminuído 1,4% em relação ao ano anterior, os EUA ainda ocupam o segundo lugar mundial em contribuições totais, enquanto a China lidera. É importante ressaltar que, em termos de emissões per capita, os Estados Unidos superam a China.

Um aspecto alarmante destacado no relatório é a lacuna de emissões, que é a diferença entre os níveis projetados de emissões globais e onde os cientistas acreditam que elas deveriam estar para evitar impactos drásticos. A situação é crítica: existe 100% de certeza de que as temperaturas globais alcançarão 1,5 graus Celsius a menos que todas as nações cumpram suas promessas de emissões líquidas zeradas. Mesmo cumprindo esses compromissos, ainda há 77% de chances de ultrapassar esse limite. Caso continuemos no caminho atual, os riscos de um aumento de 2 graus Celsius são de 97%, e há 37% de chance de chegarmos a 3 graus Celsius.

A mensagem é clara e alarmante: “Hoje, o relatório sobre a lacuna de emissões nos diz que estamos brincando com fogo”, afirmou Guterres. O tempo para agir é agora, e a oportunidade para procrastinar não existe mais. No entanto, o relatório também apresenta soluções que poderiam reduzir esses riscos. Se todos os países do Acordo de Paris limitarem rigorosamente suas emissões e buscarem a neutralidade o mais rápido possível, a chance de um aumento de 2 graus de temperatura cairia para cerca de 20%, praticamente eliminando o risco de um aumento de 3 graus. Para manter o aquecimento dentro do limite de 1,5 graus Celsius, é necessário um corte global nas emissões de 7,5% anualmente até 2035.

O relatório das Nações Unidas acerca da lacuna de emissões enfatiza que as políticas climáticas globais atualmente garantem um futuro “catastrófico” com pelo menos 2 graus Celsius de aquecimento em comparação aos níveis pré-industriais. A implementação efetiva dessas medidas depende em grande parte dos países do G20 e dos EUA. A utilização crescente de tecnologias de energia solar e eólica poderia diminuir drasticamente as emissões globais em mais de um quarto.

“Precisamos de uma mobilização global em uma escala e um ritmo jamais vistos antes”, afirmou a diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, na introdução do relatório. “Muitos dirão que isso é impossível. Contudo, se concentrar apenas na possibilidade ignora um ponto crucial: a transformação para economias de zero emissão deve ocorrer, e quanto mais cedo essa transformação global começar, melhor será para todos nós.”

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