Nos primórdios da internet, as redes eram isoladas e incapazes de se comunicar entre si. Com a chegada do TCP/IP, essa realidade mudou radicalmente, permitindo que tudo se conectasse e transformando a forma como nos relacionamos com a informação. Hoje, o Web3 enfrenta um desafio semelhante ao da antiga internet: as blockchains e plataformas operam em silos que fragmentam a liquidez e dificultam a experiência do usuário. Nesse cenário, o valor não flui livremente entre as redes, limitando o que os usuários e mercados podem realmente realizar. Uma solução a esse problema seria a implementação de uma camada de agregação, capaz de romper essas barreiras e liberar todo o potencial do ecossistema de criptomoedas.

O Papel Crucial da Camada de Agregação no Web3

A necessidade de uma camada de agregação é premente, visto que sua implementação não apenas resolveria as dificuldades atuais, mas também iniciaria um novo capítulo na evolução da internet, criando um espaço onde diferentes redes poderiam interagir de maneira fluída. Imagine um cenário onde cada plataforma pudesse acessar uma maior liquidez e usuários através de todos os blocos conectados. Qualquer exchange teria a capacidade de oferecer qualquer ativo, independentemente da rede em que estivesse inicialmente inserido. Essa visão, que poderia parecer futurística, é precisamente o tipo de futuro que devemos perseguir. A agregação é, portanto, a chave para que o Web3 opere de forma semelhante à internet atual, onde tudo está ao nosso alcance a partir de um único ponto, com informações, ativos e valores se movendo como se estivéssemos enviando um simples e-mail.

Adicionalmente, uma camada de liquidação entre cadeias unificaria a experiência dos desenvolvedores, permitindo que criadores desenvolvessem aplicativos mais robustos e suaves, sem as limitações impostas pelos gargalos de uma única rede. Ao simplificar processos complexos de transações entre diferentes blockchains em comandos simples, seria possível acessar qualquer ativo ou ferramenta de qualquer rede, ampliando significativamente as possibilidades para as inovações no espaço da DeFi (finanças descentralizadas).

Revolucionando as Finanças Descentralizadas

Embora essas ideias sejam promissoras no papel, são as aplicações práticas que desbloquearão seu verdadeiro potencial. Atualmente, a liquidez no ecossistema de DeFi e o acesso a dApps (aplicativos descentralizados) estão restringidos a “jardins murados” em diferentes blockchains. Desenvolvedores enfrentam o dilema de escolher cadeias específicas para a implementação, com base em benefícios técnicos ou subsídios, enquanto os usuários se debatem entre silos com opções limitadas. As soluções existentes, como pontes e tokens embrulhados, muitas vezes são ineficazes, custosas e arriscadas.

Uma camada de liquidação entre cadeias transformaria essa realidade, potencializando inovações como a agricultura de rendimento unificada, onde os usuários poderiam facilmente ganhar retornos sobre seus ativos ao longo de múltiplas redes, sem depender de pontes de terceiros. A combinação desse novo paradigma com trocas de tokens mais acessíveis e oportunidades inéditas em arbitragem entre cadeias tornaria o DeFi ainda mais robusto e atraente.

Além disso, uma abordagem agregada traria benefícios significativos para ativos do mundo real tokenizados. O maior obstáculo à adoção de ativos tokenizados reside na falta de liquidação entre cadeias. Por exemplo, tokenizar um ativo do mundo real no Ethereum limita sua interação com redes que não sejam compatíveis com a Máquina Virtual Ethereum, fragmentando o valor do ativo e criando bolsões isolados ao invés de um mercado genuíno. Para isso, o Banco Central Europeu já sinalizou a necessidade de um livro-razão digital compartilhado para ativos tokenizados.

A Convergência de Jogos Web3 e Infraestruturas Físicas Descentralizadas

A criação de mercados verdadeiramente interconectados poderia permitir que a posse fracionária e os fundos fossem apoiados por uma variedade ampla de ativos. Isso poderia incluir tudo, desde terras e obras de arte até ações e fundos de investimento, formando uma economia digital global, desvinculada de locais físicos. Além disso, as redes agregadas detêm um potencial imenso para os jogos Web3. Durante anos, a promessa de propriedade digital e mercados abertos nos jogos esteve no horizonte, mas a fragmentação tem impedido a plena realização dessa visão. Embora ecossistemas como Immutable e Ronin existam, a migração de jogadores ou conteúdo entre eles ainda é um desafio significativo.

Agora, visualize todos os plataformas de jogos conectadas a uma única camada de liquidação entre cadeias. De repente, cada jogo faria parte do mesmo ecossistema, semelhante a ter uma conta no Steam que oferece acesso total a jogos em diversas plataformas como PC, Nintendo, Xbox e PlayStation. Os desenvolvedores, por sua vez, poderiam alcançar uma base global de jogadores em potencial, quebrando barreiras entre ecossistemas fragmentados. Esse mesmo conceito se aplica também ao campo emergente das Redes de Infraestrutura Física Descentralizada (DePIN), que fornecem serviços de internet descentralizados através de uma rede de dispositivos físicos incentivados, proporcionando melhor desempenho em comparação com provedores centralizados tradicionais, ao mesmo tempo em que eliminam preocupações com a coleta de dados pela Big Tech ou a inatividade de infraestrutura.

O Caminho para um Web3 Interoperável e Conectado

Atualmente, as DePIN operam de forma isolada, tornando a troca de dados e a integração de sistemas desnecessariamente complicadas e caras. Uma rede de agregação resolveria essa questão, permitindo uma colaboração mais fácil entre diferentes sistemas DePIN, reduzindo custos e eliminando obstáculos à liquidação entre cadeias. Esses exemplos são apenas o começo, sugerindo um vasto leque de possibilidades em áreas como propriedade e monetização de dados dos usuários.

O que é ainda mais empolgante é o fato de que uma liquidação entre cadeias permitirá que os desenvolvedores construam novos projetos e serviços que ainda não conseguimos imaginar. O tema da interoperabilidade e agregação tem conquistado atenção crescente, com muitos líderes reconhecidos em tecnologia blockchain trabalhando em soluções para unificar o Web3. No próximo mês, ocorrerá o primeiro evento focado em agregação de blockchain, o Aggregation Summit, em Bangkok, antecedendo a conferência Devcon 2024 da Ethereum Foundation.

Um Web3 totalmente conectado, rápido, acessível e seguro está ao nosso alcance, e esse é um ambiente onde o valor nativo está aberto a todos. A chave para isso é a agregação.

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