No último mês de agosto, o site de notícias sobre criptomoedas Web3 Is Going Just Great publicou uma matéria que ganhou notoriedade ao noticiar a prisão de Roman Ziemian, fundador da plataforma de negociação de criptomoedas FutureNet, acusado de enganar investidores em um esquema que resultou em uma perda coletiva de impressionantes US$ 21 milhões. Embora essa matéria tenha sido considerada uma rotina pela administradora do site, Molly White, uma engenheira de software conhecida por sua postura crítica em relação à indústria de criptomoedas, os eventos que se seguiram à sua publicação deixariam qualquer um perplexo.
No dia 18 de outubro, Molly recebeu uma proposta inusitada. Uma pessoa que se identificou como representante de uma “empresa de gestão de reputação” que prometia limpar a imagem de seus clientes na internet entrou em contato pedindo que ela removesse seu post sobre FutureNet e Roman Ziemian, afirmando que esse conteúdo prejudicava “seu cliente”. O quão intrigante isso não é? O mais impressionante é que essa pessoa ofereceu uma quantia de US$ 200 como suborno para que Molly removesse a postagem. No entanto, White absteve-se da oferta, mantendo sua integridade ao afirmar que não havia erros nas informações publicadas. A pessoa, aparentemente ciente de que a abordagem inicial não seria convincente, decidiu aumentar a oferta para US$ 500.
Molly White, em declarações ao TechCrunch, comentou que essa não era a primeira vez que alguém tentou intimidá-la na tentativa de silenciar seu trabalho factual, mas destacou que, pela primeira vez, lhe ofereceram dinheiro como parte dessa tentativa. Infelizmente, a insistência da parte anônima só demonstrou a fragilidade da verdade no ambiente altamente volátil e, muitas vezes, corrupto das criptomoedas. O contato dessa pessoa, de fato, não respondeu ao pedido de declaração do TechCrunch, levantando mais questionamentos sobre a seriedade de quem estava por trás dessa proposta.
Não bastasse isso, alguns dias depois, Molly recebeu um e-mail de um suposto advogado, identificado como Michael Woods. Este alegou, com base na Lei das Leis de Direitos Autorais do Milênio Digital (DMCA), que o post de White infringia direitos autorais, já que, segundo ele, “o conteúdo foi copiado do nosso site”. Ele ainda incluiu um link para um site do Blogspot, denominado “WP Media News”, onde o conteúdo da postagem de White era reproduzido palavra por palavra, supostamente escrito por ele em 18 de agosto de 2024 — um dia antes da publicação original de White.
Porém, uma análise rápida do site Blogspot revelou que se tratava de uma espécie de fábrica de conteúdo, repleta de artigos relacionados a temas diversos como fraudes em criptomoedas, sanções contra cidadãos russos e COVID-19, com publicações datadas desde 1995, todas presumivelmente escritas por Woods. Investigações do TechCrunch indicaram que a plataforma utilizada para o funcionamento do site estava ligada a serviços que prometem gerar “conteúdo humano otimizado para SEO” por meio da inteligência artificial, o que levanta ainda mais suspeitas sobre a autenticidade das alegações feitas pelo suposto advogado.
Diante da investida, White prontamente respondeu ao suposto advogado, alertando que existem penalidades para alegações falsas de DMCA. Woods não se deu por satisfeito e ofereceu US$ 100 para que ela “removesse permanentemente” o mesmo conteúdo, o que foi novamente recusado por White. O TechCrunch se viu em um impasse ao tentar verificar a existência real de Michael Woods como advogado. Um endereço listado na assinatura do e-mail de Woods não se mostrava como um local existente em Los Angeles, e, segundo as informações da Ordem dos Advogados da Califórnia, não há registros de um advogado com esse nome na referida cidade. O silêncio de Woods em relação aos pedidos de comentários do TechCrunch apenas alimentou a especulação sobre a sua legitimidade.
Por fim, ao discutir essa situação com a equipe do TechCrunch, Molly White reiterou seu compromisso com a verdade, afirmando que está disposta a corrigir eventuais erros, mas se recusa a remover postagens meramente porque indivíduos ou empresas descontentes com a verdade que traz à tona. “Se eu fizesse isso, suspeito que não sobraria muito em meu site”, declarou White, ressaltando sua determinação em continuar sua missão de informar o público, a despeito das pressões e intimidações do setor.
Esse incidente, portanto, não é apenas uma curiosidade, mas um reprimenda à ética e à liberdade de expressão em um setor que continua a ser marcado por fraudes e desconfiança. Assim, a coragem de jornalistas como Molly White se torna essencial para expor a verdade, mesmo quando enfrentam ataques obscuros de aqueles que preferem permanecer nas sombras.