a nova produção cinematográfica “aqui”, dirigida por robert zemeckis e estrelada por grandes nomes como tom hanks e robin wright, gera expectativas por sua proposta inovadora, mas acaba se perdendo em uma história banal que deixa a desejar. apresentando um ambiente que evoca nostalgia americana, a película faz uma reflexão sobre a passagem do tempo por meio da representação de diferentes gerações em um único espaço: uma sala de estar. com referências diretas ao trabalho de norman rockwell, “aqui” se propõe a analisar as dinâmicas familiares e as mudanças sociais, mas acaba sendo mais uma experiência estética do que uma narrativa envolvente.

o filme começa a partir de uma premissa interessante, que se inspira na graphic novel homônima de richard mcguire. zemeckis, reunindo-se com seu colaborador de longa data, o roteirista eric roth, expande a obra original para um formato cinematográfico que busca capturar a essência do tempo em um único local, utilizando um ângulo fixo que testemunha eventos que vão da pré-história até os dias atuais. embora essa proposta técnica seja ousada, ela se revela uma armadilha, pois limita o desenvolvimento narrativo e a profundidade dos personagens.

do ponto de vista visual, o filme apresenta uma beleza hipnotizante. a sala de estar, construída em 1902, é o pano de fundo para diversas histórias, que se entrelaçam em fragmentos de vidas passadas. no entanto, a repetição das cenas e a rigidez da estrutura visual rapidamente se tornam uma distração que prejudica o enredo. enquanto o espectador é apresentado a momentos cruciais da vida familiar, como jantares de ação de graças e celebrações natalinas, é difícil se apegar emocionalmente aos personagens, que frequentemente parecem meros desenhos esquemáticos sem vida.

um dos elementos tecnológicos mais controversos do filme é o uso de uma ferramenta de inteligência artificial para rejuvenescer os protagonistas em suas diversas fases da vida. embora o resultado seja impressionante e mais convincente do que outros esforços semelhantes, como o de “os irlandeses” de martin scorsese, a técnica levanta questões éticas sobre a era digital que estamos cada vez mais vivendo. o ato de eliminar a essência humana da atuação desvia a atenção do que realmente importa: a narrativa e o sentimento dos personagens.

as várias histórias que se desenrolam ao longo dos anos incluem a de pauline, uma mãe ansiosa nos anos 1900, e o casal leo e stella, que habitam a residência durante os anos 20. no entanto, o núcleo emocional parece estar centrado na vida de richard e margaret, cuja trajetória é marcada pelas dificuldades financeiras e pela falta de realização pessoal. a abordagem sobre a dinâmica familiar é simplista, e muitos conflitos dramáticos não são bem desenvolvidos, levando a um produto final que pode deixar os espectadores desinteressados.

adicionalmente, a presença de uma família negra comprando a casa em 2015 levanta questões sobre a evolução e a inclusão social em um contexto mais amplo. no entanto, suas histórias muitas vezes se sentem como uma representação superficial, sem explorar adequadamente a complexidade de suas experiências. a conversa sobre segurança ao ser abordado pela polícia e as implicações da pandemia de covid-19 são tópicos relevantes, mas são tratados de forma tão breve que parecem apressados.

as performances de hanks e wright são sólidas, mas não conseguem brilhar como poderiam em virtude de descrições pouco profundas de seus personagens. a influência de vidas passadas, como a do pai de richard, que é retratado como um veterano de guerra lutando com suas próprias questões emocionais, é um ângulo que merecia mais desenvolvimento. no entanto, chega a um ponto em que o filme se acomoda em velhos clichês em vez de introduzir algo novo ou impactante.

à medida que o filme avança, os momentos que deveriam ser emocionantes ou significativos se tornam previsíveis. o impacto emocional que se esperaria em uma narrativa que aborda temas tão profundos quanto a luta por sonhos adiados e a dor da perda é inteiramente diluído na superficialidade da abordagem. muitos diálogos são claros exemplos de lugar-comum, fazendo o espectador se sentir cada vez mais distante da trama.

num espaço onde a possibilidade era de ser uma experiência enriquecedora, “aqui” se encontra estranhamente leve e sem peso. a tentativa de capturar a essência da história americana, sua evolução e suas complexidades muitas vezes resulta em uma estética vazia. em vez de uma jornada impactante que ressoe com o público, o filme acaba se tornando mais uma exibição de tecnologia do que uma exploração dos sentimentos humanos.

finalizando, “aqui” apresenta-se como uma obra cinemática que, apesar de suas ambições visuais e do talento evidente de seu elenco, não consegue entregar a profundidade emocional esperada por um filme que lida com a passagem do tempo e suas implicações nas relações humanas. em vez de proporcionar uma reflexão significativa sobre o que significa ser parte de uma família ao longo das gerações, o filme termina em um espetáculo visual que, embora impressione por um tempo, se dissolve em banalidade ao final. a expectativa é que, em futuras produções, a combinação do apelo visual com o enriquecimento da narrativa dê origem a experiências que realmente emocionem e provoquem reflexões genuínas no público.

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