A recente afirmação do ex-presidente Donald Trump de que escolas nos Estados Unidos estariam enviando crianças para cirurgias de afirmação de gênero sem o consentimento dos pais reacende uma polêmica já desmentida. Desde seu surgimento em agosto, a declaração tem se mostrado infundada, sendo amplamente refutada por diversas fontes, incluindo a própria CNN, e, notavelmente, sem nenhum dado ou exemplo concreto que comprove a alegação. À medida que as eleições se aproximam, Trump tem recorrido a essa narrativa como parte de uma estratégia para angariar votos, mas, por outro lado, questões legais e éticas sobre a saúde das crianças têm se tornado cada vez mais relevantes.
No final de agosto, Trump introduziu sua alegação durante um evento nos Estados Unidos. A proposta de que crianças estariam sendo manipuladas e submetidas a cirurgias de afirmação de gênero nas escolas, sem o conhecimento ou consentimento parental, foi imediatamente contestada. Especialistas em saúde pública, incluindo aqueles da renomada Harvard T.H. Chan School of Public Health, enfatizaram que não existem casos documentados onde escolas tenham realizado intervenções cirúrgicas ou procedimentos médicos sem a autorização dos pais. Os protocolos médicos para qualquer tipo de tratamento relacionado à afirmação de gênero são claros e rigorosos, exigindo consentimento explícito dos responsáveis.
Durante uma discussão em um barbearia em Nova York, divulgada pela Fox News, Trump fez questão de reiterar essa afirmação. Ele alegou que existem locais onde uma criança pode ir à escola e retornar como um gênero diferente, sem que os pais sejam informados ou consultados. Essa narrativa foi novamente sustentada em uma entrevista com o influente apresentador de podcast Joe Rogan, onde Trump amplificou suas alegações sobre “operações de transformação” realizadas em crianças sem o consentimento de seus pais. A falta de referência a áreas ou escolas específicas levanta dúvidas sobre a veracidade de suas afirmações.
Entretanto, a declaração de Trump não encontra respaldo nas evidências disponíveis. Especialistas que estudam cuidados com a saúde de jovens transgender afirmaram de forma categórica que o que Trump descreveu simplesmente não acontece nos Estados Unidos. O Dr. Meredithe McNamara, médico especializado em medicina adolescente, foi claro ao afirmar que qualquer tipo de cirurgia é realizada em centros médicos qualificados, e a tomada de decisões em relação à saúde das crianças é sempre de responsabilidade dos pais. Além disso, conforme as diretrizes da American Academy of Pediatrics e da World Professional Association for Transgender Health, o consentimento parental é um requisito fundamental para qualquer cuidado médico, cirúrgico ou não, que envolva crianças e jovens.
As cirurgias de afirmação de gênero, que incluem procedimentos como a mamoplastia e cirurgias de reconstituição genital, são predominantemente realizadas em adultos. Os dados disponíveis indicam que a minoria das cirurgias ocorre em menores de idade. Para que um adolescente possa chegar ao ponto de realizar uma cirurgia, é necessário um processo longo e detalhado, que envolve avaliação por equipes multidisciplinares que avaliam a disforia de gênero e garantem que os adolescentes e suas famílias forneçam consentimento informado. Com isso, fica evidente que o discurso de Trump não apenas distorce a realidade, mas também pode eventualmente auxiliar na desinformação sobre a saúde e os direitos que jovens na comunidade LGBTQ+ precisam ter.
A insistência de Trump em repetir essas alegações infundadas não apenas perpetua a desinformação, mas também ignora as questões importantes e reais enfrentadas por famílias que buscam cuidados adequados para seus filhos. Em um momento onde o respeito pela diversidade e a inclusão são essenciais, a repetição de mentiras pode desviar a atenção de debates mais construtivos e necessários sobre o bem-estar de crianças e adolescentes. Assim, enquanto o ex-presidente faz seus comentários sem evidências, a realidade sobre o manejo na saúde de menores segue sendo guiada pelo rigor ético e legal que garante a segurança e o respeito dos direitos das crianças.
Portanto, à medida que as eleições se aproximam, é imperativo que eleitores estejam conscientes das informações que consomem e analisem criticamente as afirmações feitas por figuras públicas, especialmente quando se tratam de questões tão delicadas como a saúde e a identidade de jovens. O impacto de desinformações pode ser profundo, não apenas nas discussões políticas, mas na vida real de milhares de crianças e famílias em todo o país.