Na véspera das eleições, as promessas de reformulação fiscal do ex-presidente Donald Trump têm chamado a atenção do público e dos analistas políticos. Após declarar sua intenção de eliminar impostos sobre gorjetas, benefícios do Seguro Social e horas extras, a nova proposta de Trump é uma mudança de paradigma que promete impactar a economia estadounidense. Em entrevistas recentes, ele expressou o desejo de acabar com o imposto de renda federal, um imposto que fornece cerca de metade da receita total do governo federal, que gira em torno de quase cinco trilhões de dólares.

Uma proposta que remete ao século 19

Trump voltou a falar sobre a possibilidade de eliminar o imposto de renda em duas entrevistas de grande visibilidade nesta semana. Durante uma conversa com cabeleireiros no Bronx, Nova York, ele fez referência ao final do século 19, quando os Estados Unidos dependiam fortemente de tarifas para financiar seus gastos federais. Ao afirmar que “quando éramos um país inteligente, na década de 1890, tínhamos tarifas e não tínhamos imposto de renda”, Trump começou a delinear sua visão de um futuro onde os tarifários assumiriam a função do imposto de renda, gerando uma nova fonte de receita.

Recentemente, em uma entrevista no podcast de Joe Rogan, ao ser questionado sobre a seriedade de sua proposta de substituir os impostos federais por tarifas, Trump respondeu de forma confirmativa, “Sim, claro, por que não?”. Esta insistência em tarifas como uma solução fiscal levanta questões sobre a viabilidade de tal proposta, especialmente quando se considera que as tarifas atuais representam apenas cerca de 2% da receita federal.

Implicações econômicas da proposta de Trump

A proposta de eliminação do imposto de renda federal e a substituição por tarifas suscita um debate acirrado. O conselheiro sênior da campanha de Trump, Jason Miller, indicou que a eliminação completa do imposto de renda poderia ser um “objetivo aspiracional” para o futuro, mas enfatizou que as prioridades imediatas incluem a extensão das disposições fiscais da Lei de Cortes de Impostos e Empregos de 2017 e novos cortes dirigidos que Trump tem defendido. No entanto, críticos imediatos da ideia apontam que a realidade do sistema tributário demonstra que confiar apenas em tarifas para substituir a receita do imposto de renda é uma proposta problemática.

Especialistas em orçamentos federais, como Erica York, economista sênior e diretora de pesquisa da Tax Foundation, observam que “é matematicamente impossível substituir o imposto de renda por tarifas”, destacando que a base tributária das importações é significativamente menor em comparação com a renda tributável. Além disso, incrementar tarifas implicaria em aumento de preços para os consumidores americanos e poderia resultar em retaliações por parte de outros países contra as exportações dos EUA.

Desafios financeiros e manutenção do equilíbrio econômico

Num cenário onde Trump pretende ampliar tarifas ao longo de seu segundo mandato, os desafios podem ser profundos. Ele mencionou a implementação de uma tarifa de 10% a 20% sobre todas as importações e uma tarifa superior a 60% sobre produtos chineses. Entretanto, analistas como Brian Riedl, do Manhattan Institute, argumentam que

a substituição total de 2,4 trilhões de dólares em impostos de renda exigiria uma tarifa de 75% sobre os 3,2 trilhões de dólares em importações anuais dos Estados Unidos. Esse cenário, além de ser irrealista, pressupõe que os consumidores continuem comprando os mesmos produtos importados, mesmo com o aumento drástico de preços.

Além disso, é importante considerar que a receita gerada a partir das tarifas também deveria cobrir resgates de indústrias afetadas, como a agricultura, que sempre sofreram com ações retaliatórias de outros países. Essa dinâmica poderia resultar em uma situação na qual as receitas adicionais não gerassem as economias orçamentárias esperadas.

Possíveis consequências para a dívida nacional

Outro ponto a ser destacado é que, mesmo sem a eliminação do imposto de renda federal, a proposta econômica de Trump poderia aumentar a dívida nacional em até 7,5 trilhões de dólares ao longo da próxima década. Uma análise recente do Comitê para Orçamento Federal Responsável indica que as propostas de tarifas poderiam gerar apenas 2,7 trilhões de dólares em receitas no mesmo período, o que evidencia a desproporção entre as expectativas de arrecadação e a realidade do cenário fiscal.

Diante de um futuro incerto, restará saber até que ponto essas propostas terão apelo para o eleitorado americano e como elas se comportarão em face da resistência tanto política quanto econômica. Assim, a proposta de eliminar o imposto de renda federal se revela não apenas arrojada, mas suscita um questionamento profundo sobre os mecanismos fiscais do país e a sua viabilidade a longo prazo.

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