À medida que a indústria de entretenimento enfrenta desafios sem precedentes, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, apresentou uma proposta audaciosa que promete revitalizar o setor cinematográfico do estado. Preocupado com a crescente migração de produções para outras regiões mais atrativas em termos de incentivos fiscais, Newsom está planejando um aumento substancial nos créditos fiscais disponíveis para produções audiovisuais. A proposta, que deve ser revelada neste domingo, prevê a elevação do teto atual para um programa de alívio tributário de $330 milhões para impressionantes $750 milhões por ano, um salto que poderia injetar até $3,75 bilhões em incentivos fiscais ao longo dos próximos cinco anos, começando em 2025.
Produções como MasterChef, Supergirl e The Kelly Clarkson Show, que inicialmente filmaram na Califórnia, decidiram migrar para estados com incentivos fiscais mais atraentes, criando um cenário alarmante para a Cadillac, e deixando à luz a necessidade crítica de reverter essa tendência. A realidade é que a competição entre estados por captação de investimentos audiovisuais se intensificou, e Newsom considera essa mudança como vital para garantir a permanência da Califórnia como um dos principais centros de produção. “Isso significa que a produção de filmes pode ficar”, afirma a prefeita de Los Angeles, Karen Bass. “Significa que todos os empregos que seriam perdidos, porque iriam para outro estado ou para o exterior, permanecerão aqui.”
As considerações em torno dessa proposta ainda não estão finalizadas, mas esperam-se potencialmente alterações nas quantias máximas que uma única produção pode receber e nos tipos de gastos que podem ser qualificados para os incentivos. Colleen Bell, diretora da Comissão de Cinema da Califórnia, ressalta a importância dessa iniciativa ao declarar que “todas as partes estão envolvidas na tarefa de atrair produções para longe da Califórnia. Precisamos investir em nosso setor e preservar empregos para os californianos, permitindo que eles façam o trabalho que amam e coloquem salários em seus bolsos.”
A proposta surge em um momento crítico, após meses de insatisfação entre os trabalhadores da indústria de entretenimento na região de Los Angeles, que expressaram a falta de oportunidades de emprego em um dos centros de produção mais icônicos do mundo. O impacto das greves de roteiristas e atores em 2023 exacerbou a situação, levando a um retorno anêmico das produções, enquanto grandes empresas cortavam custos em resposta a um cenário cada vez mais desafiador. De acordo com dados recentes, as filmagens em Los Angeles atingiram níveis historicamente baixos, com o período de julho a setembro de 2023 registrando o menor número de dias de filmagem do ano.
Um dos maiores pontos de preocupação é a queda acentuada na produção de programas de TV não roteirizados, que registrou um declínio de cerca de 56% no último trimestre em comparação com o mesmo período do ano anterior. Além disso, as filmagens de programas de TV, que historicamente foram um pilar da produção na área, continuam a diminuir, enquanto todas as categorias de produções roteirizadas estão aquém das normas históricas. Rebecca Rhine, diretora executiva associada do Sindicato dos Diretores de Cinema, afirma que a produção no estado está “em perigo real” e destaca que a proposta do governador “reconhece a importância dessa indústria, que desejamos manter na Califórnia.” Ela também reforça que o setor cinematográfico gera empregos de classe média com benefícios para os trabalhadores e traz trabalho para diversos fornecedores locais e beneficiários indiretos no estado.
A proposta de Newsom visa resolver um dos principais problemas do programa de incentivo fiscal para cinema e TV da Califórnia: a superlotação de produções que solicitam subsídios. Desde 2020, o estado perdeu cerca de $1,6 bilhões em gastos provenientes de produções que solicitaram, mas não receberam, créditos fiscais. “Não se pode negar que uma das principais considerações sobre onde os projetos são filmados é a questão dos créditos fiscais”, afirma Bell. “O nosso programa tem sido superado há muito tempo. Temos esse teto e, portanto, temos que recusar produções qualificadas que, em seguida, levam seus projetos para outros lugares, assim como os empregos para os californianos.”
Com créditos fiscais mais robustos, as produções poderão arcar com custos mais elevados de mão de obra e permissões de filmagem, entre outros, na Califórnia, em comparação com outras regiões. Contudo, o estado ainda enfrentará uma concorrência acirrada. Os 20% de crédito base oferecido pela Califórnia é inferior à maioria dos centros de filmagem concorrentes, que incluem Nova York, Novo México e o Reino Unido. A Califórnia também é o único grande centro de produção que impede que qualquer parcela de custos acima da linha, tais como salários de atores, diretores e produtores, se qualifiquem para tais incentivos, uma particularidade que outras regiões têm aproveitado para se tornarem destinos preferenciais para filmagens. O Reino Unido e o Canadá, que oferecem as mais generosas isenções fiscais, têm explorado isso como uma vantagem que atrai produções de VFX para seus países.
Além disso, a Comissão de Cinema da Califórnia tem ressaltado a ausência de um crédito fiscal exclusivamente para trabalhos de VFX ao escritório do governador. “Estamos aqui para vencer”, afirma Bell, com determinação.
Enquanto isso, outros centros de filmagem ao redor do mundo têm enfrentado a contração da indústria de maneira mais eficaz. Dados recentes indicam que centros internacionais concorrentes têm visto níveis de filmagem estáveis ou, em alguns casos, levemente crescentes. O Reino Unido e o Canadá, por exemplo, registraram um aumento no número de títulos de ação ao vivo e roteirizados com orçamentos de pelo menos $10 milhões filmando ativamente em suas regiões. Não são apenas áreas fora dos Estados Unidos que se destacam; Nova York demonstrou uma resiliência impressionante, alcançando cerca de 75% dos níveis de filmagens de 2022.
Diante de todos esses desafios, a proposta de Gavin Newsom pode representar um passo crucial para recuperar a glória da Califórnia como o epicentro da produção cinematográfica, garantindo empregos e oportunidades para a força de trabalho local, além de atrair investimentos que podem fazer a diferença em um cenário em constante mudança na indústria do entretenimento.