Após um hiato de quase 20 anos, os amados personagens de massinha, Wallace, o inventor atrapalhado, e seu leal cão Gromit, voltam a ganhar vida nas telonas. Criados por Nick Park e apresentados ao público em 1989 no curta-metragem indicado ao Oscar ‘A Grand Day Out’, Wallace e Gromit estão de volta em uma nova aventura, intitulada ‘Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl’. Essa longa-metragem chega após o sucesso do curta ‘A Matter of Loaf and Death’, lançado em 2008, e é apenas o segundo filme desse icônico duo que conquistou o mundo, sendo o primeiro o vencedor do Oscar ‘The Curse of the Were-Rabbit’, lançado em 2005. O novo filme é um sequel direto do clássico de 1993 ‘The Wrong Trousers’, que introduziu o vilão adorável, e ao mesmo tempo astuto, Feathers McGraw, um pinguim mestre do disfarce que, em uma de suas artimanhas, chega a se passar por frango para enganar até mesmo Gromit. Co-dirigido por Merlin Crossingham, que já atuou como animador no filme anterior, ‘Vengeance Most Fowl’ traz à tona temas contemporâneos, ao retratar Wallace que se torna excessivamente dependente da tecnologia.

Na trama, Wallace cria um gnome de jardim inteligente movido por inteligência artificial que, ao invés de auxiliar em tarefas simples, acaba se voltando contra seu criador, partindo para a criminalidade. O enredo sugere que forças sinistras estão em jogo, e Gromit, mais uma vez, se vê na posição de salvar seu mestre dessa enrascada. Este filme marca a primeira colaboração entre Aardman Animation e Netflix, que firmou um acordo de produção em 2019, seguindo os passos de ‘Farmageddon’ e ‘Chicken Run: Dawn of the Nugget’, ambos sucessos da plataforma.

O filme teve sua estreia mundial em Los Angeles e será exibido pela primeira vez na BBC no dia de Natal, na Grã-Bretanha, e disponível globalmente na Netflix a partir de 3 de janeiro. Durante uma entrevista exclusiva, Park e Crossingham discutiram sobre a influência da inteligência artificial na produção e a emocionante volta de Feathers McGraw, além de esclarecer curiosidades sobre a produção e os desafios enfrentados ao trazer esses personagens de volta, especialmente considerando a temática e a estética artesanal que caracteriza o trabalho da Aardman.

Park revelou que a ideia de um gnome de jardim inteligente surgiu já na época de ‘Curse of the Were-Rabbit’. Inicialmente, eles planejavam que essa história fosse um especial de meia hora, mas, ao perceberem que a narrativa havia se expandido e que o vilão das antigas, Feathers, poderia estar por trás do caos, decidiram então se aventurar em um longa-metragem. A decisão, segundo Crossingham, se deu de forma natural, já que todos concordaram que a história precisava de mais espaço para ser contada e para respeitar a essência dos personagens.

Durante o processo de produção, a equipe também notou um apelo significativo do público por um retorno de Feathers McGraw, que acabou se tornando um ícone entre os fãs. Park comentou que ao longo dos anos, muitos sugeriram que esse vilão voltasse, mas sentiriam que não havia um contexto apropriado para isso até agora. O retorno do pinguim malvado representou uma espécie de reverência à nostalgia dos fãs que cresceram com as aventuras de Wallace e Gromit. Eles rivalejam com a expectativa do público, que não apenas queria ver os protagonistas de volta, mas também desejava reviver momentos marcantes da infância com o retorno do vilão que tanto cativou.

A escolha do título ‘Vengeance Most Fowl’ também foi reflexiva. Park admitiu que passaram por diversos trocadilhos ruins antes de chegarem a essa versão que combina os temas de vingança com o humor peculiar dos personagens. A entrega do filme foi discutida em detalhes, particularmente com a equipe da Netflix que, embora global, reconheceu a essência britânica que permeia a narrativa. Park assegurou que a Aardman manteve a autenticidade e não alterou elementos que pudessem prejudicar o humor e a cultura britânica incorporada à trama.

Sobretudo, o lançamento do filme não poderia ter lugar mais apropriado do que o dia de Natal na BBC, um veículo que sempre representou um lar para Wallace e Gromit. Mesmo com os desafios de adaptar algumas piadas que talvez não fossem compreendidas em outros países, a equipe decidiu manter os elementos que fazem parte da identidade do duo.

As inovações em tecnologia foram um ponto-chave na produção, especialmente comparadas às dificuldades enfrentadas em projetos anteriores. Park e Crossingham mencionaram que, apesar de continuarem com a técnica artesanal de animação com massinha, as tecnologias de apoio, como câmeras digitais e softwares de edição, permitiram um processo mais ágil e eficiente. A inclusão de efeitos visuais modernos em cenas complicadas como perseguições aquáticas, que teriam sido inviáveis duas décadas atrás, também é uma prova do avanço na tecnologia de animação.

Contudo, a questão do uso de inteligência artificial no cinema provocou uma reflexão profunda entre os criadores. Park e Crossingham expressaram suas reservas quanto ao uso do A.I. no processo criativo, ressaltando a importância do toque humano na arte e a autenticidade que isso traz. Eles afirmaram que, apesar dos benefícios que a inteligência artificial pode trazer para áreas como a medicina, é crucial que a arte e a criatividade mantenham sua essência humana.

A relação entre Wallace e Gromit também recebeu uma atualizada emocional nesta nova aventura, onde Gromit começa a questionar se as invenções de Wallace são realmente benéficas. Para Park e Crossingham, é um desenvolvimento que retrata a profundidade e a complexidade da amizade ao longo dos anos, com Gromit assumindo um papel mais ativo no relacionamento. A esperança por sequências futuras é mencionada, mas ainda é cedo para traçar planos específicos, já que a equipe ainda observa a recepção de ‘Vengeance Most Fowl’. Para esses criadores, Wallace e Gromit sempre estarão em seu coração, e novas ideias para futuras histórias nunca estarão longe de suas mentes.

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