Em um evento marcado por discursos hostis e declarações polêmicas, o rally de Donald Trump realizado no icônico Madison Square Garden, em Nova Iorque, expôs um lado sombrio que nem sempre é evidenciado nas campanhas políticas. A reunião, que atraiu um grande público de apoiadores do ex-presidente, começou com uma onda de ataques vulgares e racialmente carregados direcionados a figuras proeminentes do Partido Democrata, como Kamala Harris e Hillary Clinton, além de um ataque preocupante e desrespeitoso à comunidade portorriquenha e aos imigrantes que buscam abrigo na cidade. O cenário foi agravadamente paradoxal, dado que Nova Iorque abriga a maior população de portorriquenhos do continente americano.
Apreensivamente, os participantes do evento, predominantemente leais a Trump, lançaram mão de um repertório de queixas direcionadas à administração democrata e à diversidade representada por novos cidadãos americanos. Um ex-candidato republicano à Câmara dos Representantes, surpreendentemente, rotulou Kamala Harris como “a antichrist” durante seu discurso, mostrando a profundidade do sentimento anti-Democrata que permeava o evento. Tal retórica, que busca desumanizar figuras políticas da oposição, faz parte de uma estratégia mais ampla que visa reforçar a base eleitoral de Trump por meio da polarização.
No início do evento, o comediante Tony Hinchcliffe contribuiu para a atmosfera hostil ao atacar Porto Rico, afirmando de maneira ofensiva que “existe uma ilha flutuante de lixo no meio do oceano. Acho que se chama Porto Rico”. Esse tipo de comentário, irônico para muitos, foi calorosamente recebido pela plateia que preenchia as arquibancadas do Madison Square Garden. Em meio a esse caos retórico, Trump frequentemente se refere aos Estados Unidos como “um lixo para o mundo”, impulsionando seu discurso sobre a imigração ilegal. A vice-presidente Kamala Harris, por sua vez, rapidamente reagiu ao que considerou uma ofensa, utilizando suas redes sociais para publicar um vídeo em que falava sobre seu compromisso com o futuro de Porto Rico e com as comunidades portorriquenhas nos Estados Unidos.
Um destaque do evento foi o apoio de figuras da cultura pop, como o superstar Bad Bunny, que, mesmo em meio a um clima tão hostil, postou um vídeo no Instagram com mais de 45 milhões de seguidores, destacando os planos de Harris para Porto Rico. Este gesto trouxe uma perspectiva positiva às mensagens de apoio à comunidade portorriquenha, contrastando com os discursos agressivos que dominaram o evento. De fato, o álbum “Un Verano Sin Ti” do artista foi o mais reproduzido em streaming em 2023, com impressionantes 4,5 bilhões de execuções, o que dá uma ideia do impacto cultural e social que ele possui entre os jovens americanos.
Além disso, o senador republicano Rick Scott, cuja reeleição depende significativamente do apoio da comunidade portorriquenha da Flórida, não hesitou em criticar os comentários de Hinchcliffe, fazendo um apelo à unidade e ao respeito com os portorriquenhos ao declarar: “Não é engraçado e não é verdade. Os portorriquenhos são pessoas incríveis e americanos incríveis!”. As falas de Hinchcliffe provocaram um rebuliço nas redes sociais, onde ele foi desafiado a explicar sua perspectiva sobre o que muitos consideram uma piada de mau gosto. Em resposta, ele alegou que “ama Porto Rico e que suas piadas são feitas com amor”, desconsiderando o impacto de suas palavras no público que se sentiu ofendido.
A narrativa se tornou ainda mais tóxica à medida em que David Rem, outro político republicano, rotulou Harris como “o diabo”, elevando a retórica a um novo nível de desumanização. O ambiente subiu a temperatura quando o apresentador de rádio Sid Rosenberg atacou Clinton e virou seu foco para os imigrantes na cidade, manifestando seu descontentamento sobre as atitudes do governo local em relação aos migrantes e a assistência que eles recebem, afirmando de maneira carregada e polêmica: “Você tem sem-tetos e veteranos — americanos, americanos — dormindo em seus próprios excrementos em um banco no Central Park. Mas os ilegais, eles recebem tudo o que querem, não é?”. Esse descontentamento revela um ressentimento mais amplo que certos eleitores sentem em relação à crise dos cuidados e da habitação nos Estados Unidos.
Concluindo, o rally de Trump foi uma demonstração inquietante de como a política contemporânea pode descambar para ataques pessoais e desumanização. As mensagens de ódio e divisões não aparecem apenas em discursos isolados, mas ecoam na cultura nacional, refletindo uma polarização que parece estar enraizada em muitos setores da sociedade americana. Essas dinâmicas não só prejudicam o diálogo democrático, mas também fomentam um ambiente de medo e hostilidade que, no final das contas, afeta todos os cidadãos. Que lições se poderiam extrair desse evento são incertas, mas é evidente que o caminho à frente deve ser de busca pela compreensão e inclusão, em vez de retornar ao uso de palavras como armas e símbolos de divisão. Afinal, todos merecem um espaço seguro e respeitoso em nossa sociedade.