A expectativa em torno de cada lançamento da série Dragon Age sempre foi intensa, principalmente devido à habilidade do estúdio BioWare de criar universos ricos e histórias envolventes. Contudo, após o lançamento de Dragon Age: Inquisition em 2014, muitos jogadores ficaram com um gosto amargo na boca ao se deparar com seu clímax angustiante. O final de Inquisition sugeria uma grande batalha de ideais entre o Inquisidor e Solas, um elfo que se revelou ser um deus. Essa tensão deixou os fãs ansiosos por uma continuação que honrasse tal legado. Com o lançamento de Dragon Age: The Veilguard, não só há uma nova esperança, mas também um novo protagonista que traz um frescor ao enredo, ao mesmo tempo que se despede do antigo.
Logo no início de The Veilguard, o jogador se depara com a terrível situação em que Solas, após os eventos de Inquisition, é agora um adversário mais próximo e mais palpável. A história começa anos após os eventos do DLC “Trespasser”, onde Solas revelou seu plano de desmantelar o Véu, a barreira entre o mundo real e o Fade, habitado por demônios. Rook, o novo protagonista, é recrutado por Varric Tethras, um personagem adorado pelos fãs, e juntos partem em uma jornada para impedir a concretização da ameaça de Solas. Esse aspecto já demonstra uma radical mudança no tipo de narrativa que a série está adotando, agora se focando em desenvolvê-la através de um novo personagem e novas dinâmicas.
Sempre existiu um certo desencanto entre os fãs da série com o intercâmbio constante de protagonistas, um mecanismo que parece destruir os laços formados ao longo de vários jogos. No entanto, a BioWare fez um grande esforço para criar um sentido de continuidade mesmo diante da nova narrativa. Apesar da justa crítica quanto às contrivantes explicações que buscam justificar a ausência do Inquisidor, a nova trama se desenrola com grande impacto. A nova narrativa, embora inicialmente pareça distanciar-se do que foi construído anteriormente, é uma tentativa consciente de dar uma nova vida à saga, permitindo que os jogadores se conectem de maneira diferente com o mundo de Thedas e suas lutas.
Ao longo de cerca de sessenta horas jogadas, o que fica claro é que nas entrelinhas, Dragon Age: The Veilguard se utiliza de antigas histórias e elementos, mas as ressignifica sem depender de menções diretas ao que veio antes. A nova configuração leva o jogador a explorar cenários que apenas foram mencionados anteriormente, aprofundando-se em lore e trazendo à tona mistérios guardados por tanto tempo. Até os novos e antigos companheiros revelam um esforço notável por parte do estúdio em criar um elenco essencial que enriquece a narrativa. A interação entre Rook e seus novos aliados é reconhecível, refletindo um profundo sentimento de camaradagem e florescimento de relações que escapam da tradicional rivalidade que frequentemente estavam presentes nas dinâmicas dos jogos anteriores.
Muitas vezes, os jogos da BioWare colocavam o jogador no centro de uma narrativa ampla, muitas vezes com o poder de manipular culturas inteiras. Contudo, The Veilguard apresenta um desenrolar menos manipulador, onde o significado das escolhas é mais profundo e pessoal, fazendo com que o jogador sinta que suas decisões têm um impacto mais humanizado e menos como um mero entretenimento. As histórias pessoais dos personagens são exploradas de maneira rica e sensível. Cada personagem, desde Neve, uma investigadora mágica, até Davrin, um antigo amor, se tornam figuras centrais, e suas jornadas emocionais muitas vezes se entrelaçam com as do protagonista, resultando em um desenvolvimento satisfatório e envolvente.
Por outro lado, a mudança no sistema de combate também merece destaque. BioWare optou por uma narrativa mais orientada para a ação, abandonando as zonas abertas de Inquisition em favor de um formato de missões mais suave e estruturado, sem perder a essência de um RPG. Neste formato, o tempo não parece ser desperdiçado em atividades sem propósito, criando uma fluidez nas missões que leva à ação. Os personagens têm suas habilidades e composições únicas que se complementam, promovendo uma experiência mais intensa e menos maçante quando comparada aos jogos anteriores. Essa nova abordagem traz à tona uma mecânica que lembra outros títulos de RPG de ação, permitindo que o jogador se sinta mais conectado ao ritmo da história.
O caminho seguido pelos criadores de Dragon Age: The Veilguard parece ser uma busca pela originalidade, um retorno a princípios que vitilizaram a BioWare como estúdio. O enredo foi desenhado de maneira a respeitar as bases criadas antes, mas também a possibilitar um respiro novo que se distancia dos caminhos baseados meramente em round-aside. O jogo tece fios entrelaçados que dão vida a um ambiente coeso e intrigante, nascendo a partir das escolhas de personagens que definem uma nova era para a série.
Em conclusão, Dragon Age: The Veilguard surge como uma metamorfose que equilibra o que os fãs desejam: um enredo coeso, com novas e velhas faces, integrando tudo isso em uma narrativa rico e emocionante. Apesar da ausência do Inquisidor, seja por escolha do produtor ou por uma questão de narrativa, o jogo cria um espaço onde os jogadores podem engajar com as histórias e personagens de uma forma que ressoa. A cada hora jogada, é possível sentir que estamos diante de uma nova era de Dragon Age, que não só reconhece seu passado, mas o utiliza como alicerce para construir suas futuras aventuras. Com um final que provoca reflexão, The Veilguard promete ser a nova porta de entrada para o mundo de Thedas, enchendo o jogador de expectativas e esperança acerca do que está por vir.
Dragon Age: The Veilguard não é apenas um capítulo novo em uma longa história; é um convite à ligação de um passado tão amado, construindo novas pontes e, quem sabe, proporcionando um espaço que respeita tanto a nostalgia quanto a inovação criativa. Cada novo passo em Thedas agora traz a promessa de que ainda há mais histórias a serem contadas.