A agricultura, essencial para a sobrevivência e o sustento da humanidade, enfrenta desafios cada vez mais complexos devido às mudanças climáticas e uma crescente escassez de mão de obra. Nesse cenário, a automação surge como uma possível solução promissora. Um exemplo vem de Homestead, na Flórida, onde um agricultor, Ford, fez a transição de um sistema de irrigação movido a combustíveis fósseis para um sistema automatizado movido a energia solar. Essa mudança não apenas visa reduzir os custos com água, mas também reflete uma preocupação crescente com as consequências ambientais de práticas agrícolas tradicionais.
A adoção de tecnologias automatizadas tem se disseminado por diversas propriedades agrícolas ao redor do país. Ferramentas como tratores autônomos e sistemas avançados de monitoramento têm o potencial de aliviar a pressão sobre a escassez de mão de obra no setor agrícola, ao ajudar os agricultores a gerenciar custos e enfrentar condições climáticas extremas. Além disso, a automação promete aumentar a precisão no plantio, na colheita e na gestão das propriedades, resultando em colheitas mais abundantes, mesmo em um mundo que está esquentando rapidamente.
No entanto, muitos pequenos agricultores e produtores permanecem céticos em relação a essa transformação. O custo inicial elevado das tecnologias, aliado a incertezas sobre a eficácia das máquinas comparadas à habilidade dos trabalhadores, representa uma barreira significativa. Para agravar ainda mais a situação, os trabalhadores muitas vezes se questionam sobre as implicações da automação em suas ocupações e se essas máquinas poderiam levar à exploração, criando uma onda de insegurança na força de trabalho agrícola.
A realidade da automação agrícola e suas limitações
Embora já existam equipamentos autônomos em algumas propriedades, como tratores que operam sem condutor, a automação na agricultura não é ainda uma solução completamente independente. A coleta de frutas delicadas, como amoras e cítricos, ainda apresenta desafios significativos para a automação devido à sua fragilidade e à necessidade de precisão na colheita. Contudo, cientistas e engenheiros, como Xin Zhang, estão trabalhando em projetos inovadores que prometem simular a destreza humana através de braços robóticos capazes de colher essas frutas de maneira eficiente e sem danos, embora ainda não haja previsão para a disponibilidade comercial dessas máquinas.
Ademais, a experiência de Frank James, diretor executivo de um grupo de agricultura comunitária, ressalta que as tecnologias disponíveis atualmente não eliminam a necessidade de supervisão humana. O sistema de autocondução de tratores, por exemplo, ainda requer a interação do operador para lidar com problemas de umidade e garantir a eficiência das operações. Essa realidade levanta um questionamento pertinente: será que estamos prontos para confiar totalmente nas máquinas, especialmente quando a conexão emocional e a compreensão do trabalho agrícola são destruídas em nome da automação?
As soluções que a automação promete à crise de trabalho agrícola
Para muitos agricultores, no entanto, a automação não é apenas uma opção, mas uma necessidade. Tim Bucher, que fundou a AgTonomy, um empreendimento focado em criar ferramentas automatizadas para a agricultura, acredita que a tecnologia pode proporcionar um alívio significativo diante dos desafios climáticos e da escassez de mão de obra. Desde o lançamento de programas piloto em 2022, o interesse tem sido robusto, especialmente em setores como vinhedos na Califórnia, onde as mudanças climáticas têm tornado as colheitas tradicionais cada vez mais desafiadoras.
Além disso, a capacidade da automação de facilitar o monitoramento e gerenciamento da produção está ressoando entre agricultores que lidam com a pressão de aumentar a produtividade enquanto enfrentam a concorrência por uma força de trabalho que não consegue acompanhar a demanda. Will Brigham, um agricultor de Vermont, testemunhou o impacto que sistemas inteligentes de monitoramento podem ter em operações agrícolas, como a detecção de vazamentos no sistema de produção de xarope de bordo, permitindo uma abordagem proativa para resolver problemas antes que se tornem crises.
Preocupações com o futuro do emprego e direitos dos trabalhadores
Embora a automação tenha o potencial de resolver as questões de infraestrutura e escassez de mão de obra, ela também suscita preocupações válidas sobre o futuro dos trabalhadores na agricultura. Histórias de jovens que costumavam realizar trabalhos como a retirada de borlas do milho revelam um caminho de incerteza. Tais tarefas, que eram consideradas um rito de passagem, estão se tornando cada vez mais difíceis devido a condições climáticas extremas e ao aumento do trabalho migrante. Nesse contexto, Jason Cope, co-fundador da PowerPollen, defende a mecanização de tarefas laborais árduas como detasselamento, já que pode aliviar a pressão sobre trabalhadores que são frequentemente forçados a trabalhar longas jornadas sob condições adversas.
Por outro lado, os trabalhadores estão cientes do impacto potencial da automação em suas vidas profissionais. Erik Nicholson, que já atuou como organizador de trabalhadores agrícolas, observa que muitos deles temem pela perda de emprego e pelos riscos de trabalhar ao lado de máquinas autônomas. A cultura do medo em torno da automação pode inibir aqueles que desejam defender seus direitos e interesses, enquanto os empregadores se aproveitam do silêncio que a inquietação e a insegurança geram. Luis Jimenez, um trabalhador da indústria láctea, reforça essa visão, enfatizando que tecnologias como a monitorização de vacas podem identificar problemas de saúde, mas também reduzem a necessidade de trabalho humano, aumentando a pressão sobre os trabalhadores restantes.
A tecnologia, portanto, admite uma legião de implicações éticas e sociais que merecem ser debatidas com seriedade. Enquanto a automação pode proporcionar eficiência, isso não deve ocorrer à custa dos direitos e da dignidade profissional dos trabalhadores agrícolas. O futuro da agricultura deve equilibrar inovação e humanidade, garantindo que as máquinas sejam ferramentas que trabalham para as pessoas, não que as substituam. Dessa forma, será possível criar um setor agrícola que não apenas sobrevive, mas prospera em harmonia com suas raízes e sua força de trabalho humana.