Paul Morrissey, renomado diretor de cinema cult e colaborador do icônico artista Andy Warhol, faleceu aos 86 anos em 28 de outubro. A notícia foi confirmada por Michael Chaiken, arquivista do cineasta, que informou que Morrissey morreu no Lenox Hill Hospital, em Nova York, após complicações causadas por pneumonia. Sua morte marca o fim de uma era para um dos diretores mais influentes e provocativos do cinema underground, cujas obras vão além de um mero entretenimento, refletindo e desafiando as normas sociais de sua época.
Com uma carreira marcada por filmes que se tornaram clássicos cult, Morrissey é mais conhecido por sua filmografia diversificada, que inclui obras como Flesh, Trash, Heat, Flesh for Frankenstein e o clássico B-picture Blood for Dracula, que contou com a participação de Joe Dallesandro. Seu trabalho não se limitou a esses títulos; ele também criou obras icônicas como Women in Revolt e a trilogia de Nova York da década de 1980, composta por Forty Deuce, Mixed Blood e Spike of Bensonhurst. Entretanto, foi sua colaboração inicial com Andy Warhol que não apenas consolidou sua carreira, mas também moldou sua identidade artística, perpetuando seu status como um diretor cult.
A relação entre Morrissey e Warhol começou em 1965, quando o cineasta assumiu a responsabilidade pela divulgação e pela realização de filmes na famosa Factory de Warhol. Ao longo desses anos, a dinâmica entre eles se revelou complexa. Os primeiros projetos colaborativos de Morrissey eram repletos de personagens excêntricos, muitos dos quais eram outsiders da sociedade, como dependentes químicos e golpistas de rua. O direcionamento artístico de Morrissey foi crucial em filmes como My Hustler e The Velvet Underground and Nico: A Symphony of Sound, ambos lançados em 1966, além de outros como San Diego Surf e Lonesome Cowboys em 1968. Contudo, a lealdade de Morrissey a sua visão artística o levou a criticar a moeda de fama que cujos créditos eram frequentemente imputados a Warhol. Em uma entrevista de 2020, ele expressou sua frustração com o reconhecimento excessivo dado a Warhol: “Não diga ‘filmes de Warhol’ quando você fala sobre os meus filmes! Você é tão estúpido, que fala assim para as pessoas? Eu tenho que viver com isso há cinquenta anos. Tudo o que fiz, foi ele quem fez comigo.” Essas declarações ilustram a tensão que existia na parceria deles, ao mesmo tempo que ressaltam o legado pessoal de Morrissey, que ia além do mero acompanhamento de um ícone da arte pop.
Morrissey ajustava a narrativa sobre suas colaborações através do tempo; em uma entrevista anterior, ele reconheceu que Warhol operava a câmera em algumas ocasiões, enquanto ele organizava a produção do filme, direcionava os atores e decidia sobre a estética: “Eu apenas compreendia o que Andy estava fazendo e o ajudava. Andy geralmente operava a câmera. Eu sempre cuidei das luzes, organizei o filme e disse aos atores o que fazer.” É claro que sua visão artística era o cerne do que tornava suas colaborações tão únicas e representativas de uma época cheia de explorações e experimentações cinematográficas.
Além de seu trabalho cinematográfico, Morrissey também ajudou a consolidar o status de culto de Warhol ao descobrir e gerenciar a banda The Velvet Underground e cofundar a revista Interview. O legado multifacetado de Morrissey, no entanto, se estendeu muito além de seu papel como colaborador de Warhol. Nascido em Nova York em 23 de fevereiro de 1938, ele se formou na Fordham Preparatory School em 1955 e, mais tarde, na Fordham University. Depois de servir nas Forças Armadas dos EUA, Morrissey se mudou para o East Village no final da década de 1960 e abriu a Exit Gallery, onde começou a projetar filmes underground, como o curta-metragem Icarus do cineasta Brian De Palma, além de realizar seus próprios filmes.
Após a dissolução de sua colaboração com Warhol, em 1975, Morrissey se mudou temporariamente para Los Angeles, onde começou a financiar e produzir seus próprios projetos cinematográficos. Um dos filmes que ele produziu foi uma paródia de O cão dos Baskervilles, que contou com a participação de artistas como Peter Cooke e Dudley Moore. Seu último filme, News From Nowhere, foi lançado em 2010, refletindo seu comprometimento contínuo com a arte cinematográfica, mesmo em um momento em que muitos em sua posição poderiam ter se aposentado. Morrissey deixa um legado indelével no cinema, não apenas por suas inovações estéticas e narrativas, mas também por sua habilidade em capturar a essência do espírito contracultural de seu tempo, estabelecendo relações que desafiavam as convenções da arte e da vida.
Com a perda de Paul Morrissey, o mundo do cinema cult e experimental sente um abalo significativo, mas seus filmes e suas colaborações continuarão a ressoar, inspirando novas gerações de cineastas e artistas a explorar os limites da criatividade e da expressão artística.