A recente decisão do parlamento israelense, conhecido como Knesset, de banir a agência das Nações Unidas responsável pelos refugiados palestinos, UNRWA, ainda reverbera em todo o mundo e levanta preocupações sobre as consequências iminentes para milhões de palestinos. Essa medida radical, que pode ser devastadora, foi aprovada em dois projetos de lei que restringem severamente as operações da UNRWA, criando um cenário de incertezas e potencial catástrofe humanitária nas regiões de Gaza, Cisjordânia e em outros locais onde os refugiados palestinos residem.
Aprovação dos projetos no Knesset e reações adversas internacionais
No dia em que os projetos de lei foram aprovados, a decisão atraiu uma quantidade significativa de votos a favor—com 92 membros apoiando a primeira proposta, que proíbe a UNRWA de operar em solo israelense, e 87 a favor da segunda proposta, que proíbe qualquer interaçãoIsraelense com a agência. Durante a discussão, Boaz Bismuth, um membro proeminente do partido Likud, expressou seu ponto de vista de forma contundente, relacionando a UNRWA a atividades terroristas: “Quem se comporta como um terrorista não tem direitos em Israel… a UNRWA é igual ao Hamas, ponto final.” Isso demonstra a clara mão forte do governo israelense em suas políticas em relação aos palestinos, especialmente num momento sensível, como o atual, em que a região enfrenta intensas crises.
Apesar dos avisos de aliados internacionais, como os Estados Unidos, que expressaram preocupações sobre o impacto dessa medida em serviços humanitários essenciais, as autoridades israelenses seguiram adiante. O Secretário de Estado Antony Blinken já havia advertido Israel de que essa decisão poderia gerar implicações legais sob a política dos Estados Unidos, sublinhando a relevância vital da UNRWA na assistência a milhões de palestinos dependentes dos serviços prestados pela agência, como acesso à educação, saúde e alimentos.
A UNRWA: um pilar de suporte humanitário para milhões
A UNRWA foi estabelecida em 1949, após a criação do Estado de Israel, em resposta à enorme crise de refugiados resultante daquele evento histórico, conhecido pelos palestinos como Nakba. Desde a sua origem, a agência tem atuado incansavelmente, oferecendo serviços para aproximadamente 5,9 milhões de refugiados palestinos espalhados pelo Oriente Médio. Na Faixa de Gaza, por exemplo, a UNRWA atende cerca de 1,7 milhão de pessoas que enfrentam condições de vida críticas, exacerbadas por conflitos armados e bloqueios administrativos.
Uma das características mais notáveis da UNRWA é sua atuação diversificada, incluindo serviços de educação e saúde, distribuição de alimentos e auxílio psicológico, tendo um impacto crucial na vida cotidiana dos palestinos. Considerando que cerca de 1 milhão de pessoas na Gaza vivem em situação de extrema pobreza, os serviços da UNRWA têm sido uma tábua de salvação em meio à devastação contínua da região.
Por sua vez, a UNRWA sempre se posicionou contra acusações que a associam ao terrorismo, garantindo que não existia absolutamente nenhuma fundamentação para tal rotulação. Apesar disso, Israel mantém as alegações de que a UNRWA estaria, de alguma forma, ligada ao Hamas, o grupo militante que controla Gaza, o que gerou uma intensa campanha para deslegitimar a agência diante da comunidade internacional.
Possíveis consequências do banimento da UNRWA
As consequências do banimento da UNRWA não podem ser subestimadas. Segundo o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a ação “sufocaria os esforços para aliviar o sofrimento humano e as tensões em Gaza e, de fato, em todo o Território Palestino Ocupado.” O impacto dessa decisão se faz sentir não apenas localmente, mas ainda mais amplamente, à medida que outras nações se posicionam contra essa medida. O secretário enfatizou que o fechamento da agência “seria uma catástrofe” em um cenário já devastador.
Com a UNRWA tendo 13.000 empregados apenas em Gaza, seu fechamento ou funcionamento restrito poderia resultar em uma crise de emprego sem precedentes e na escalada da pobreza em comunidades que já enfrentam dificuldades imensas. A agência também desempenha uma função crucial na vacinação e controle de doenças, como demonstrado recentemente por sua parceria na campanhade vacinação contra a pólio, que foi interrompida devido ao aumento da violência.
Resposta da comunidade internacional e as preocupações sobre o futuro
A reação da comunidade internacional foi imediata e forte. Ministros de Relações Exteriores de sete países, incluindo Canadá, Austrália e países europeus, manifestaram sua “grave preocupação” em relação à legislaçãode banimento da UNRWA, enfatizando a importância da agência para a prestação de ajuda humanitária e serviços essenciais a milhões de refugiados. O governo dos EUA também deixou claro que a proibição da UNRWA criaria um “vácuo que Israel seria responsável por preencher”.
Neste panorama complexo, a situação dos milhões de refugiados palestinos permanece delicada e precária. O futuro dos serviços prestados pela UNRWA e o bem-estar dos refugiados dependem de uma verdadeira reflexão sobre as consequências de políticas que buscam deslegitimar e desmantelar essa importante agência. Se a UNRWA não puder mais operar, dificuldades inimagináveis esperarão por aqueles que já enfrentam adversidades de forma contínua e intensa. O que ocorre a seguir pode afetar não apenas os palestinos, mas a estabilidade regional como um todo.