Em pleno verão de 2020, um incêndio devastador afetou o navio de guerra USS Bonhomme Richard, que se encontrava ancorado na Baía de San Diego. Este trágico incidente se transformou em um desafio significativo para os envolvidos na investigação, pois não apenas a conflagração durou mais de quatro dias, mas também trouxe à tona a complexidade de manusear arquivos tridimensionais gerados por tecnologia lidar, essenciais para avaliar os danos. O incêndio fez com que helicópteros despejassem água de cima, enquanto embarcações lutavam para controlar as chamas de baixo. Com o incêndio ainda em chamas, análises lidar foram realizadas para determinar a extensão da destruição e as causas do fogo. No entanto, essa tarefa se esbarrou em um empecilho inesperado: as principais plataformas de armazenamento em nuvem, como Google Drive e iCloud, não ofereciam suporte para os arquivos pesados e tridimensionais, muitas vezes alcançando múltiplos terabytes, resultantes da tecnologia lidar.

Os responsáveis pela unidade naval em San Diego ficaram forçados a utilizar unidades flash e discos Blu-ray para enviar os escaneamentos lidar do navio carbonizado a autoridades em diversas partes do país. Essa situação caótica inspirou Clark Yuan, um veterano do Exército dos Estados Unidos, a criar a Stitch3D, uma plataforma baseada em navegador que possibilita visualizar, compartilhar, anotar, interagir e gerenciar grandes arquivos 3D. A Stitch3D armazena cada arquivo como uma “nuvem de pontos”, ou seja, uma coleção de milhões de pontos discretos com valores de coordenadas x, y e z que representam digitalmente uma cena tridimensional. Se a Stitch3D já estivesse disponível, a tarefa de transmitir escaneamentos lidar do USS Bonhomme Richard poderia ter sido muito mais simples e eficiente.

Aos poucos, Yuan foi se tornando ciente das ineficiências no envio de arquivos lidar, mesmo durante seu tempo no Exército, onde muitos soldados eram vistos correndo com backups que continham discos rígidos lotados de escaneamentos lidar. A importância da tecnologia lidar para a milícia é reconhecida, especialmente em situações onde mapas precisos e equipamentos adequados são cruciais para a missão no terreno. A tecnologia lidar elabora mapeamentos tridimensionais das paisagens ao medir o tempo que os feixes de luz levam para refletir em uma superfície sólida. Ao contrário das fotografias aéreas que apenas criam imagens 2D, o lidar revela altura e profundidade, podendo indicar buracos em um campo de batalha, a elevação de montanhas ou a altura de edifícios em ambientes urbanizados. A evolução da tecnologia dos drones facilitou significativamente a obtenção desses escaneamentos lidar, permitindo que dados essenciais sejam coletados de forma mais rápida e eficiente.

Além disso, a Stitch3D conseguiu um financiamento de US$ 1,8 milhão da Força Aérea para desenvolver sua tecnologia de maneira segura, juntamente com um aporte de US$ 750 mil em uma rodada pré-seed feita por amigos e familiares. A Força Aérea tem interesse na aplicação desta tecnologia para medir a erosão costeira em bases aéreas na Flórida ou avaliar danos em campos de aviação após ataques, o que demonstra a relevância e a aplicabilidade do que a Stitch3D traz para o cenário militar. Contudo, Yuan destaca que a Stitch3D não se limita a aplicações militares; durante uma demonstração com a TechCrunch, ele ressaltou como a plataforma permite navegação em um mapa 3D detalhado de um campus universitário, com a possibilidade de visualização sob diferentes ângulos, medições das dimensões de prédios e características geográficas, além da anotação de áreas com notas e cores.

Outra perspectiva interessante que Yuan menciona é o potencial de integração da Stitch3D com a realidade aumentada (AR). Usando o sensor lidar presente na parte traseira de smartphones – sim, muitos dispositivos já possuem essa tecnologia – seria possível criar escaneamentos interativos de objetos ou cômodos. Embora Yuan reconheça a grande batalha que será desenvolvê-la nesse campo, ele acredita que, no futuro, as nuvens de pontos da Stitch3D podem se fundir harmoniosamente com dispositivos de realidade aumentada, ampliando ainda mais as capacidades da plataforma. Portanto, se você é um entusiasta da tecnologia ou um profissional nas indústrias de silvicultura, mineração, arquitetura, topografia de terras, perfuração de petróleo, entre outros, a Stitch3D promete abrir um novo leque de oportunidades para o manuseio e compartilhamento de dados tridimensionais.

Em síntese, o lançamento da Stitch3D não apenas endereça um problema crítico identificado durante o incêndio do USS Bonhomme Richard, como também se posiciona como uma ferramenta inovadora na coleta e compartilhamento de dados tridimensionais. À medida que a demanda por modelos 3D precisos cresce em diversas indústrias, essa plataforma pode se tornar uma referência na forma como interagimos com o espaço e nossas necessidades de visualização de dados.

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