No panorama dos filmes de suspense disponíveis na Netflix, Do Patti se destaca não apenas por seu elenco estelar, incluindo as consagradas atrizes Kajol e Kriti Sanon, mas também por uma narrativa que não consegue encontrar seu equilíbrio. Sob a direção de Shashanka Chaturvedi e a escrita de Kanika Dhillon, o filme busca explorar temas complexos, mas acaba se perdendo entre oscilações de identidade e confusão temática. Em um cenário onde as montanhas servem como plano de fundo para um mistério que não empolga, o espectador é desafiado a entender a proposta real desta produção.
Uma Premissa Confusa que Falha em Conduzir o Enredo
Do Patti, que pode ser traduzido como “Dois Cartas”, possui uma premissa que promete mais do que entrega. O filme gira em torno da vida de duas irmãs gêmeas, Saumya e Shailee, interpretadas por Kriti Sanon, que representam personagens antagônicos em termos de personalidade. A expectativa é de que a narrativa investigue temas relevantes como o bem e o mal ou o sistema judicial, mas na prática, a trama parece querer abarcar tantas questões que acaba não se aprofundando em nenhuma delas. O filme poderia ser uma crítica aos relacionamentos tóxicos ou uma denúncia ao ciclo de violência doméstica, mas essas mensagens legítimas são ofuscadas por um enredo mal estruturado.
O espectador se vê questionando se Do Patti é um drama de tribunal confuso ou uma história de redenção. Essas incertezas não favorecem a construção narrativa e deixam os personagens sem consistência. Assista ao filme na esperança de presenciar a força das mulheres e sua complexidade, como prometido por Dhillon em entrevistas. No entanto, o que se apresenta são personagens que não mostram evolução, engessados em um clichê que remete a velhas narrativas do cinema indiano, onde a dualidade entre o bem e o mal é explorada, mas com um olhar sem inovação.
O Desempenho do Elenco é Impactado pela Roteirização Fraca
Kriti Sanon, como co-produtora, tinha motivos para acreditar que sua performance em um papel duplo destacaria sua versatilidade. Saumya, a irmã mais vulnerável e marcada pela ansiedade, contrasta com Shailee, que apresenta uma personalidade mais provocativa. Embora Sanon se empenhe em dar vida a esses personagens, a falta de profundidade em suas características limita a eficácia de suas atuações. A conexão entre as irmãs é superficial e, como resultado, o impacto emocional que deveria ser a base da narrativa acaba se perdendo.
Neste contexto, Kajol, interpretando a investigadora Vidya Jyothi, carrega o peso de ser a única figura forte na tentativa de trazer justiça ao enredo confuso, mas a superficialidade com que sua personagem é desenvolvida diminui o efeito da sua presença na tela. Com poucos momentos onde realmente personifica uma mulher determinada e em ascensão, Vidya parece mais uma caricatura do que uma protagonista encorajadora. Mesmo sua credencial como advogada, que deveria somar ao enredo, é abordada de forma imprecisa e pouco convincente, desrespeitando o conhecimento jurídico que poderia enriquecer a narrativa.
Referências e Inspirações que Não Conseguem Sustentar a Trama
Ao longo do filme, há referências a obras clássicas do cinema indiano que exploraram a ideia de gêmeos, como Ram Aur Shyam e Seeta Aur Geeta, mas a tentativas de reinvenção falham em manter a audiência engaged. O jogo de espelhos entre as irmãs não é inovador e resulta em cenas previsíveis que não oferecem novidades ao espectador. A falta de um desenvolvimento claro dos personagens contrasta com os esforços da produção e do elenco que, mesmo talentoso, não consegue brilhar sob a sombra de um roteiro deficiente.
Além disso, a utilização de elementos como a narração não confiável por parte da empregada das irmãs, Maaji, traz um alívio cômico que, embora bem interpretado por Tanvi Azmi, não é suficiente para salvar a narrativa. O CGI empregado nas cenas de parapente, que deveria adicionar emoção e dinamismo, acaba parecendo artificial, contribuindo para a sensação geral de que a produção não atinge o potencial desejado.
Conclusão: Uma Produção que Deixa a Desejar em Coerência e Narrativa
Em conclusão, Do Patti se apresenta como um filme com várias boas intenções, mas que não consegue se decidir sobre sua identidade. As interações entre os personagens têm potencial, mas não há um desenvolvimento que sustente o peso dramático necessário para que o público se importe genuinamente com os destinos de Saumya, Shailee e Vidya. O filme, ao tentar ser muitos gêneros ao mesmo tempo – thriller, drama, crítica social – acaba se transformando em um clichê mal executado. Ao contrário do que suas estrelas merecem, a produção se perde na confusão, deixando o espectador com a sensação de que poderia ter explorado um mundo mais rico de histórias. E enquanto as montanhas podem ser bonitas, a narrativa de Do Patti definitivamente não faz jus a sua paisagem.