Desafios enfrentados pelas redes de transporte público no pós-pandemia

O cenário dos sistemas de transporte público nos Estados Unidos tem sido profundamente impactado pela pandemia, que resultou em uma redução significativa no número de passageiros. Dados coletados até setembro de 2023 indicam que cerca de 26% dos usuários habituais ainda não retornaram ao transporte público, alimentando uma crescente preocupação com questões de segurança em um contexto onde a percepção de violência parece se intensificar. Um evento trágico destaca essa realidade: a morte de um adolescente em uma plataforma do MetroLink, em East St. Louis, Illinois, ocorreu enquanto Dominique Davenport aguardava seu transporte, evidenciando o potencial de criminalidade que permeia os sistemas de transporte. A percepção de que a segurança é uma questão séria em muitos desses sistemas faz com que as autoridades busquem novas maneiras de garantir a segurança de seus usuários e, ao mesmo tempo, estimular a volta dos passageiros.

Implementação de medidas de segurança e controle de tarifas no MetroLink

As operadoras de transporte, cientes do desafio de restaurar a confiança da população, começaram a adotar medidas mais rígidas para coibir a evasão tarifária. O MetroLink, por exemplo, introduziu portões metálicos de oito pés (aproximadamente 2,4 metros) para evitar que os passageiros ingressem nas plataformas sem um cartão de tarifa válido. Essa mudança representa um desvio significativo do sistema de honra que foi adotado desde a criação da linha em 1993, no qual as tarifas eram verificadas apenas por meio de checagens aleatórias a bordo e a possibilidade de multas para infratores habituais. Agora, as autoridades percebem que a segurança dos passageiros é um aspecto chave para a revitalização dos sistemas, e não apenas uma questão de fiscalização de tarifas. Kevin Scott, gerente geral de segurança da Bi-State Development, enfatiza que a instalação de “portões de segurança”, junto com a implementação de 1.200 câmeras de monitoramento, representa uma mudança fundamental na abordagem do sistema, com o objetivo de garantir um ambiente mais seguro para todos.

Recentemente, outros sistemas de transporte em grandes áreas metropolitanas, como Nova Iorque e Chicago, também intensificaram suas medidas de segurança. Muitos desses sistemas exigem o pagamento antecipado para acesso aos veículos e têm reforçado os portões de entrada para minimizar as tentativas de evasão. As ações em grande escala de fiscalização nos transportes públicos refletem a crescente preocupação com a criminalidade.

Segundo a Administração Federal de Trânsito, entre 2011 e 2023 houve um aumento significativo de cerca de 100% em agressões e homicídios nos transportes públicos. Entretanto, muitos sistemas, incluindo o MetroLink, reportaram quedas recentes nas taxas de criminalidade, embora dados nacionais atualizados sobre a conexão entre crime e evasão tarifária sejam escassos. Porém, um estudo revelou que, entre maio de 2023 e abril de 2024, cerca de 94% dos indivíduos presos por crimes violentos no Metro de Los Angeles eram passageiros que não pagaram a tarifa.

A complexa relação entre evasão tarifária e segurança pública

O impasse acerca da abordagem da evasão tarifária em relação à segurança é debatido entre especialistas em transporte. Joshua Schank, que estuda a questão do transporte gratuito, aponta que a instalação de entradas com portões ilustra uma pergunta central nos transportes públicos: a quem o serviço deve ser destinado? Ele questiona se a imposição de tarifas e portões é, de fato, a solução para os problemas de segurança, ou se a análise deveria ser mais ampla, considerando outros fatores comportamentais que contribuam para a segurança nas operações de transporte público. Há uma crescente pressão para que as autoridades encontrem um equilíbrio entre garantir o pagamento justo pelas tarifas e melhorar a segurança dos passageiros que pagam para utilizar esse serviço.

Na cidade de Nova Iorque, por exemplo, a evasão tarifária no sistema de metrô é um problema histórico, onde diversas estratégias de controle têm sido testadas, como a elevação das hastes de controle para dificultar o acesso daqueles que não pagam. Em Washington, D.C., o aumento das patrulhas resulta em mais de 10.000 multas aplicadas este ano, refletindo um aumento de quase três vezes em comparação ao mesmo período do ano passado. Visando a segurança, as autoridades se vêem diante do desafio de coibir a evasão tarifária ao mesmo tempo em que lidam com as consequências da violência pública que pode resultar da falta de controle.

Envolvimento da comunidade e a busca por soluções sustentáveis

Em resposta a uma série de incidentes violentos, sistemas de transporte como o Bay Area Rapid Transit, em San Francisco, têm reavaliado suas políticas. Desde 2018, medidas ampliadas de fiscalização foram adotadas, onde infratores enfrentam multas se não apresentarem comprovantes de pagamento. A perspectiva de que a evasão tarifária não se trata apenas de uma questão financeira, mas sim um compromisso cultural com a segurança e o respeito pelo sistema, ganha força. Além disso, dados de diferentes regiões indicam que a evasão tarifária pode resultar em perdas substanciais, como no caso da Autoridade de Transportes da Pensilvânia, que calcula um prejuízo anual de cerca de 68 milhões de dólares devido à evasão tarifária.

Com o objetivo de aumentar a segurança e melhorar a percepção pública sobre os transportes, estratégias mais rigorosas foram implementadas em muitos sistemas. Enquanto o sistema fare gates do MetroLink oferece uma tentativa eficaz de combater a evasão tarifária e aumentar a segurança, é fundamental que as autoridades continuem a escutar as preocupações dos usuários e explorem métodos que possam trazer conforto e confiança. À medida que novas abordagens são testadas e implementadas, a colaboração entre as autoridades locais e as comunidades será crucial para o sucesso dessas iniciativas. Assim, espera-se que o futuro do transporte público não apenas promova a segurança, como também reverta a tendência de declínio no número de passageiros.

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