As Filipinas, um arquipélago frequentemente atingido por fenômenos climáticos extremos, somam mais um capítulo em sua história de resiliência frente a desastres naturais. O recente impacto da tempestade tropical Trami, conhecida localmente como Kristine, revelou-se ainda mais devastador do que muitos previam. Com inundações severas e deslizamentos de terra em várias localidades, a tempestade se tornou a mais mortal e destrutiva do ano, trazendo um luto profundo e exigindo uma mobilização urgente das autoridades e da população.
A devastação trazida pela tempestade tropical Trami e os desafios no resgate
O jovem Kierwen Garlan, de apenas 22 anos, é um exemplo da solidariedade que surge em meio ao caos. Com a água já na altura dos joelhos, ele primeiramente se preocupou em auxiliar seus vizinhos que enfrentavam inundação em suas residências. Trami, que atravessou a região nordeste das Filipinas na semana passada, inundou cidades inteiras, causando a morte de quase 130 pessoas e deixando pelo menos 30 desaparecidas, conforme reportado pela agência nacional de socorro a desastres do país.
Embora a tempestade não tenha se caracterizado por ventos extremamente fortes no momento em que atingiu a costa, as chuvas torrenciais foram o fator que contribuiu para a devastação. Este fenômeno climático não é exclusividade do presente; as Filipinas enfrentam a passagem de múltiplos tufões anualmente. Contudo, a intensidade das chuvas desta vez pegou a população de surpresa e causou inundações em localidades antes consideradas seguras.
Localizada a mais de 575 quilômetros ao sudeste de Manila, a cidade de Bulan, em Sorsogon, foi uma das primeiras a declarar estado de emergência, tendo sido rapidamente submersa pelas águas. Garlan, que ajudou com um grupo de voluntários a limpar as estradas e viabilizar a distribuição de ajuda, mencionou a preocupação com a saúde da população em meio ao cenário caótico, dado que crianças já apresentavam sinais de resfriados e a possível contaminação por leptospirose.
As consequências do desastre e as perdas irreparáveis
Uma verdadeira tragédia se abateu sobre a localidade de Talisay, na província de Batangas, onde os deslizamentos de terra causados pela torrente de chuvas impediram o acesso a famílias que se encontravam em situações vulneráveis. A magnitude dos danos foi alarmante, com quase 3.000 residências detidas pela lama e as ruas cobertas por uma espessa camada de sedimentos. Os habitantes, já acostumados com situações de desastre devido à proximidade ao vulcão Taal, não estavam preparados para a quantidade de chuva que a tempestade trouxe.
As autoridades locais não conseguiram contornar a situação em tempo, e muitos foram tragicamente impactados, incluindo o luto coletivo por 20 vítimas, entre elas 12 crianças, em uma cerimônia realizada em um ginásio da cidade. Um pai, Raynaldo Dejucos, expressou sua dor incomensurável ao perder sua família, incluindo um filho de apenas dois anos, em um deslizamento de terra. “Estou tentando ser forte. Nunca poderei esquecer isso… Não sei quanto tempo levará para eu curar”, disse ele, refletindo sobre a perda devastadora que a tempestade deixou em sua vida.
Respostas do governo e os desafios futuros diante da mudança climática
O presidente filipino, Ferdinand Marcos, em uma manifestação de solidariedade, mobilizou tropas do exército e recursos aéreos, incluindo sua própria aeronave, para intensificar os esforços de resgate e alívio. “Por ar, terra ou mar, vamos manter nosso suporte. Juntos, iremos nos reerguer”, afirmou Marcos, sublinhando a necessidade urgente de ações para mitigar os impactos da próxima tormenta, o tufão Kong-Rey, que já se aproxima com força.
As Filipinas, em sua geografia vulnerável, tornaram-se um símbolo das mudanças climáticas globais. Especialistas alertam que a região é uma das mais suscetíveis a eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor, tempestades e inundações. O governo filipino reconheceu a necessidade de reavaliar projetos de desenvolvimento a longo prazo, especialmente no que diz respeito ao gerenciamento de bacias hidrográficas, a fim de encontrar soluções para os desastres cada vez mais frequentes.
Durante a passagem de Trami, a região central do Vietnã também foi atingida, resultando em pelo menos duas mortes, ressaltando o alcance da devastação em toda a área do Sudeste Asiático. Já em comparação com outros desastres recentes no país, em 2023, a capital Manila e partes de Luzon enfrentaram inundações devastadoras por conta do tufão Gaemi e, no mês anterior, o tufão Yagi também deixou um rastro de destruição durante sua passagem.
Reflexões finais sobre o futuro das Filipinas diante das calamidades naturais
À medida que o arquipélago das Filipinas tenta se reerguer das cinzas da devastação deixadas pela tempestade tropical Trami, é essencial que propostas de prevenção e mitigação de desastres sejam implementadas com urgência. A sociedade civil e as autoridades devem colaborar em busca de soluções sustentáveis que possam reduzir os impactos da mudança climática e proteger a população vulnerável das tempestades que se tornam cada vez mais frequentes. O luto pela perda de vidas não pode apenas ser um lamento, mas deve se converter em um chamado à ação em busca de um futuro mais seguro para todos os filipinos.