O combate à crise climática é um enorme quebra-cabeça, e um dos principais componentes desse enigma se encontra na construção civil e no setor imobiliário, que juntos representam cerca de 40% das emissões globais de gases de efeito estufa. A startup Emidat, com sede em Munique, surge como uma resposta a esse desafio, oferecendo uma plataforma de software que automatiza a geração de Declarações Ambientais de Produtos (EPDs) validadas para o setor da construção. Em um momento em que a sustentabilidade é mais importante do que nunca, a solução da Emidat promete não apenas simplificar processos, mas também impulsionar uma mudança significativa nas práticas da indústria.

As EPDs são essenciais para entender e mitigar o impacto ambiental do ambiente construído, pois envolvem a avaliação do ciclo de vida (LCA) de produtos e materiais, fornecendo informações padronizadas sobre seu impacto ambiental em cada etapa, desde a produção até o descarte. Contudo, a criação de EPDs é frequentemente um processo complexo e dispendioso, dificultando a adesão por parte dos fabricantes. A CEO e cofundadora da Emidat, Lisa Oberaigner, destaca a necessidade de transformar esse procedimento, ressaltando que muitos grandes fabricantes já possuem conhecimento sobre como se descarbonizar, mas enfrentam barreiras para monetizar esses esforços.

Com sua plataforma de dados, a Emidat oferece um canal digital que permite a coleta de informações de produtos e a automatização das declarações de impacto ambiental. Através de um banco de dados acessível via API, Excel ou BIM (modelagem da informação da construção), a startup espera promover uma concorrência saudável entre os fabricantes, incentivando a produção de materiais de construção mais sustentáveis e efetivamente reduzindo a pegada de carbono dos novos empreendimentos. Oberaigner enfatiza a necessidade de um modelo de incentivo que recompense os fabricantes pelos seus esforços em sustentabilidade, criando um ciclo virtuoso que beneficia toda a cadeia de suprimento.

A plataforma da Emidat promete uma redução significativa no tempo e custo para a produção de EPDs. Atualmente, esse processo pode levar até um ano utilizando métodos tradicionais, que envolvem consultorias e verificadores externos. Com a Emidat, esse tempo pode ser reduzido para apenas uma semana por produto, e o custo, de cerca de 15 mil euros, pode ser drasticamente diminuído para aproximadamente 50 euros. Essa economia é particularmente relevante à luz das novas regulamentações que começarão a ser aplicadas na União Europeia no início do próximo ano, como o Regulamento de Produtos de Construção (CPR), que introduzirá requisitos de sustentabilidade e auditorias para verificar as declarações ambientais feitas pela indústria de construção.

Oberaigner observa que o CPR poderá acelerar ainda mais a adoção da plataforma da Emidat, pois facilita a verificação da conformidade. Atualmente, a indústria opera em um ambiente fragmentado, onde diferentes padrões são utilizados por diferentes verificadores, o que pode resultar em inconsistências nos resultados. Ao padronizar o cálculo e a verificação das EPDs, a Emidat se posiciona como uma solução inovadora para um problema persistente e complexo.

A startup, fundada em 2023, já conquistou 25 clientes que utilizam sua plataforma em cerca de 350 projetos de construção, com um banco de dados que abrange mais de 150 mil produtos de construção em 13 categorias. Embora os componentes estruturais com o maior impacto ambiental, como cimento, aço e janelas, tenham sido o foco inicial da empresa, Oberaigner planeja expandir para incluir componentes operacionais e decoração interna no futuro, entendendo a quantidade imensa de declarações necessárias para cobrir todos os elementos envolvidos em um único projeto de construção. Isso deixa claro como uma plataforma escalável que automatiza as etapas do processo de EPD pode transformar o cenário da construção civil.

A plataforma da Emidat integra-se aos sistemas dos fabricantes via API, permitindo assim que a coleta de dados ocorra de maneira fluida e eficiente. Outro aspecto inovador é a utilização de inteligência artificial para analisar os dados carregados, ajudando a criar benchmarks para diferentes produtos, permitindo que os fabricantes comparem seu desempenho com o de seus concorrentes. Além disso, a Emidat planeja utilizar IA para analisar modelos 3D, facilitando a projeção de emissões com base nos materiais propostos para os projetos de construção.

A perspectiva de um mercado europeu de EPDs que pode valer pelo menos 5 bilhões de euros por ano mostra a relevância e a oportunidade de atuação da Emidat. O ambiente regulatório em evolução reforça a demanda por soluções eficazes que não apenas atendam a novas exigências, mas que também ajudem as empresas a se diferenciarem em um mercado cada vez mais competitivo e voltado para a sustentabilidade. Com o governo dos Estados Unidos investindo em iniciativas semelhantes, o cenário global aponta para uma convergência em direção à sustentabilidade.

Observando para o futuro, Oberaigner vê a Emidat como um catalisador para uma competição mais robusta no setor de construção, incentivando os fabricantes a inovar e a adotar materiais sustentáveis. A geração de dados mais precisos e acessíveis não apenas ajudará a atender as exigências regulatórias, mas também criará um novo paradigma na forma como os produtos são avaliados, promovendo um ambiente mais transparente e favorável ao desenvolvimento sustentável. A estratégia da empresa é clara: ao estabelecer uma plataforma sólida que integra informações valiosas de fabricantes, arquitetos e desenvolvedores, a Emidat busca se consolidar como um líder de mercado em meio a uma transformação necessária e urgente.

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