No tribunal de Plymouth, em Brockton, os advogados de Karen Read estão buscando um adiamento de uma ação judicial por morte por negligência que pesa contra ela, argumentando que a continuidade do julgamento poderia violar seus direitos garantidos pela Quinta Emenda contra a auto-incriminação. Esta questão foi discutida em audiência perante o juiz William White, Jr. na recente segunda-feira. A defesa de Read apresenta um argumento que liga a necessidade de um adiamento às acusações criminais que ainda estão em andamento.

Os advogados de Read, que diferem dos que a representam em seus processos criminais, sustentam que a realização do julgamento cível neste momento não apenas a exporia a uma situação constrangedora, mas também poderia prejudicar sua defesa na esfera criminal, caso tenha que depor ou responder perguntas que poderiam incriminá-la. O advogado William Keville, que defende Read, assinalou a gravidade dos encargos a que sua cliente está submetida e expressou que um depoimento no contexto civil poderia colocá-la em uma posição difícil, caso optasse por se apoiar na Quinta Emenda durante os procedimentos legais.

O advogado da família O’Keefe, Marc Diller, não tardou a acusar Read de “armar” a Quinta Emenda em seu favores. Segundo Diller, a estratégia da defesa é altamente questionável, já que Read não hesitou em dar entrevistas para veículos como Vanity Fair e ainda tem um documentário em produção no Netflix, o que demonstra um aparente contraste entre sua posição na mídia e no tribunal. Diller destacou que Read está atualmente promovendo um sorteio onde, por US$ 50, duas pessoas podem ganhar um jantar com ela. “É totalmente inédito que uma ré que invoca a Quinta Emenda nas instâncias judiciais tenha a liberdade de se comportar desta forma nos meios de comunicação”, comentou Diller. Ele enfatizou que Read não pode se manter em silêncio nas cortes enquanto se apresenta de maneira atenta ao público.

A questão do calendário dos processos civis e criminais se complicou com os pedidos de um atraso por parte de outros réus nomeados na ação por morte, como os restaurantes CF McCarthy’s e Waterfall Bar & Grille. Representantes legais destes estabelecimentos argumentaram que Read é o centro da controvérsia em questão e que seria logisticamente desafiador coordenar os depoimentos dos mesmos testemunhos, tendo em vista os dois processos judiciais. Acusações apontam que os dois estabelecimentos em questão serviram em excesso Read na noite da morte de John O’Keefe em janeiro de 2022.

O juiz White declarou que considerará o pedido e que uma decisão escrita será divulgada em uma data futura. O processo de morte por negligência foi movido pela família O’Keefe no verão de 2024, após o primeiro julgamento criminal de Read ter sido declarado nulo. O segundo julgamento criminal de Karen Read está previsto para 27 de janeiro de 2025 no tribunal superior de Norfolk, enquanto seus advogados planejariam comparecer à Suprema Corte Judicial de Massachusetts em 6 de novembro para discutir a possibilidade de anular duas acusações contra ela com base em pesquisas feitas com o júri após o término do julgamento.

Karen Read, de 44 anos, enfrenta sérias acusações que incluem homicídio de segundo grau, deixar o local do crime e homicídio culposo, vinculadas à morte de seu namorado, o policial de Boston John O’Keefe. Os promotores alegam que ela o atropelou com seu SUV após uma noite de excessos e o abandonou em uma tempestade de neve. Por outro lado, os advogados de Read elevam uma narrativa de que ela foi incriminada, sugerindo que O’Keefe teria morrido na residência de um colega policial de Boston, e que o corpo foi posteriormente arrastado para fora do local.

A complexidade desta situação legal não se limita apenas aos aspectos jurídicos, mas também provoca reflexões sobre os limites entre as defesas legais e a presença da personalidade pública no contexto de um caso tão delicado. O que começaria como um julgamento cível pode se desdobrar em um dos casos mais observados da região, desafiando tanto as normas jurídicas tradicionais como as percepções populares sobre a justiça.

Assim, Karen Read se vê no epicentro de uma disputa que não é apenas sobre a responsabilidade legal, mas que toca na integridade da justiça, na ética da defesa e no uso das mídias em um cenário de tribunal, onde o peso das alegações pode desviar de um julgamento imparcial. O desfecho desse enredo jurídico ainda está longe de ser escrito.

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