Nos últimos meses, um projeto internacional de pagamentos, conhecido como mBridge, respaldado por países como china, emiratados árabes unidos, tailândia e hong kong, tem se tornado motivo de preocupação para autoridades em washington. A estrutura inovadora do mBridge, que utiliza tecnologia de registro descentralizado para agilizar pagamentos e contornar bancos intermediários, levanta questões sobre o futuro das transações financeiras globais e a crescente influência da china no setor. O tema ganhou ainda mais relevância após declarações do presidente russo, vladimir putin, durante a cúpula do brics, que sugeriu a criação de um sistema alternativo de pagamentos liderado pelos países do bloco.
contexto e desenvolvimento do mBridge e seu impacto nas transações internacionais
O projeto mBridge, uma iniciativa das autoridades monetárias da china, tailândia, emiratados árabes unidos e hong kong, com a adesão da arábia saudita neste ano, visa modernizar e ir além do sistema financeiro tradicional, como o swift. O sistema foi desenvolvido para que os bancos possam realizar transferências de dinheiro de forma mais rápida e com custos reduzidos, eliminando a necessidade de bancos correspondentes, que muitas vezes servem de intermediários entre instituições financeiras de diferentes países que não mantêm relações formais. Desde junho de 2023, o projeto alcançou a fase mínima viável (MVP), permitindo que bancos participantes implementassem nodos de consenso e realizassem transações comerciais.
Atualmente, a plataforma mBridge suporta funções importantes para seus participantes, como emissão e resgate de moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDC), pagamentos em moeda estrangeira, transferências de CBDC e gerenciamento de filas e alertas de saldo. De acordo com informações da Hub de Inovação do Banco de Compensações Internacionais (BIS), até outubro de 2024, 32 membros observadores, incluindo o banco central da austrália e o banco central da luxemburgo, estavam envolvidos no projeto, que contava com a participação de 39 bancos comerciais dos países mencionados.
Entre abril e setembro de 2024, o mBridge facilitou pagamentos e transações em quatro moedas digitais, contabilizando 35 bancos comerciais que dirigiram a execução destas operações. Os defensores do mBridge acreditam que a iniciativa pode solucionar alguns dos principais problemas enfrentados pelo sistema bancário tradicional, especialmente em regiões que historicamente têm sido mal atendidas. A inovação se torna ainda mais relevante em um contexto onde países podem liquidar pagamentos em suas próprias moedas, evitando o amplo uso do dólar americano e acelerando transações por meio de tecnologias de registro distribuído.
Um exemplo prático dessa agilidade foi destacado durante a semana de fintech em hong kong, onde li shu-pui, conselheiro do governador do banco central dos EAU, mencionou que em um teste realizado em fevereiro, foi possível transferir dinheiro de uma instituição em abu dhabi para uma em beijing em apenas dez segundos. Essa abordagem demonstra uma vontade crescente de países da região do oriente médio, asiáticos centrais, africanos e até sul-americanos em superar as limitações do sistema bancário tradicional.
desafios e preocupações sobre a influência da china no sistema financeiro global
Entretanto, a questão que se coloca sobre o mBridge não está apenas ligada à inovação, mas também à sua capacidade de criar um sistema financeiro alternativo que pode desafiar a hegemonia financeira ocidental. Durante a cúpula do brics, comentários de putin sobre a necessidade de um sistema de pagamentos alternativo provocaram discussões acaloradas entre os participantes e aumentaram a preocupação nas esferas políticas dos EUA e da europa em relação aos riscos geopolíticos do projeto. Estes temores se concentram na possibilidade do mBridge reduzir a capacidade de imposição de sanções econômicas por parte dos EUA e da europa, além de reforçar a dependência de países em tecnologia desenvolvida pela china.
Yaya J. Fanusie, atual diretor de política de riscos de lavagem de dinheiro e cibernéticos no Crypto Council for Innovation, já havia alertado sobre a necessidade de os formuladores de políticas dos EUA estarem atentos ao surgimento de iniciativas como o mBridge, que não apenas oferecem uma infraestrutura de pagamento mais eficiente, mas também podem servir como uma ferramenta para que adversários dos EUA, como a china, busquem neutralizar a influência desta na esfera econômica global.
Com o crescente número de países adotando políticas de “dedolarização” e buscando alternativas ao dólar americano para transações internacionais, o mBridge se destaca como um projeto que representa não apenas uma inovação na forma como pagamentos são realizados, mas também uma potencial mudança no equilíbrio de poder financeiro. Enquanto o banco central da suíça, BIS, não se manifestou oficialmente sobre as preocupações levantadas em washington, a discussão sobre mBridge e suas implicações continua a ser um tópico crucial no cenário financeiro global.
Em conclusão, o mBridge promete transformar a dinâmica das transações financeiras internacionais, oferecendo uma alternativa promissora ao sistema financeiro tradicional. No entanto, com essa inovação vêm considerações profundas sobre a geopolítica e as implicações de um sistema financeiro em que países que buscam maior autonomia, como a china e a rússia, estejam à frente. Assim, à medida que o mBridge avança, as reações nas esferas políticas dos EUA e da europa precisam ser cuidadosamente monitoradas, não apenas por seu impacto imediato, mas pela maneira como esse projeto pode moldar o futuro das relações econômicas globais.