A situação humanitária no norte de Gaza se torna cada vez mais crítica, com a Organização das Nações Unidas (ONU) relatando que, desde o início de outubro, nenhum alimento entrou na região, deixando cerca de um milhão de pessoas vulneráveis ao risco de fome. O Programa Alimentar Mundial (WFP) destacou em declarações feitas à CNN que as condições se deterioraram significativamente ao longo dos últimos meses. Em agosto, cerca de 700 caminhões de ajuda humanitária conseguiram acessar o norte de Gaza, enquanto em setembro, esse número caiu para 400, refletindo a interrupção das operações comerciais no cruzamento de Allenby, que liga a Cisjordânia ocupada à Jordânia. Este quadro alarmante se agravou em outubro, quando não houve entrada de caminhões de alimentos, de acordo com informações do WFP.

Na última quarta-feira, o WFP também informou que a assistência humanitária recebida pela faixa de Gaza atingiu seu nível mais baixo em meses, levando a organização a suspender a distribuição de pacotes alimentares neste mês. A escassez de suprimentos alimentares está diretamente relacionada aos intensos combates e restrições de movimento na região, o que aumenta as dificuldades enfrentadas pela população. A entidade alertou que “a fome continua rampantemente e a ameaça de fome persistente é um real temor”. Destacou ainda que, caso o fluxo de assistência não seja restabelecido, um milhão de pessoas vulneráveis serão privadas deste recurso essencial para a sobrevivência.

A cidade de Khan Yunis, em Gaza, tem sido uma das mais afetadas pelos conflitos, onde os cidadãos têm enfrentado não apenas a falta de alimentos, mas também um sistema de saúde em colapso. Recentemente, um ataque aéreo atingiu um hospital materno, deixando um morto e vários feridos. Atualmente, menos de um terço dos hospitais em Gaza estão operando de forma minimamente eficaz, com hospitais como o Nasser, em Khan Yunis, recebendo um fluxo constante de pessoas feridas, resultado do aumento dos ataques direcionados a militantes do Hamas, que se intensificaram ao longo do último mês.

Com relação à produção de alimentos, a situação é igualmente alarmante. Duas das principais padarias da região central de Gaza, Al-Banna Bakery e Zadna Bakery, pararam de funcionar devido à falta de farinha e combustível. Trabalhadores das padarias relataram a CNN que a escassez desses insumos resultou em um colapso na produção de pão, um alimento básico fundamental para a população local. Ahmad Abed, que trabalha em Al-Banna Bakery, expressou a situação desesperadora em que se encontra, afirmando que, sem o trabalho, sua família não tem o que comer. A luta por farinha é uma realidade crescente, com as pessoas se mobilizando dentre as padarias na esperança de encontrar pão disponível.

Amjad Al-Shawa, diretor da Rede de Organizações Não-Governamentais da Palestina, apontou que a diminuição dos materiais de produção tem levado ao fechamento de padarias essenciais. Ele enfatizou que a população tem dependido de ajuda humanitária e que agora se vê ameaçada pela iminente fome. A situação se torna ainda mais crítica considerando que o pão é considerado o alimento básico mais importante para os palestinos, especialmente após a escalada do conflito armada que começou há mais de um ano, tornando a disponibilidade de pão uma questão vital para a sobrevivência diária.

Conforme reportado pelo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), setembro registrou o menor volume de suprimentos comerciais e humanitários entrando em Gaza desde pelo menos março de 2024. A resposta militar de Israel na região se intensificou com a nova operação terrestre iniciada no dia 6 de outubro, que foi motivada por indícios de que o Hamas estava se reestruturando. Embora as forças israelenses tenham emitido novas ordens de evacuação para os residentes do norte de Gaza e ampliado a “área humanitária” em Al-Mawasi, muitos habitantes relataram a relutância em deixar as áreas cercadas, temendo ataques israelenses, mesmo nas chamadas zonas seguras designadas pelas autoridades israelenses.

Em meio a esta crise, a escassez alarmante de alimentos e a falta de assistência humanitária estão se tornando desafios insuperáveis para a população de Gaza, que enfrenta a combinação devastadora de um sistema de saúde colapsado, a ameaça de fome iminente e um ambiente de segurança cada vez mais volátil. A comunidade internacional deve prestar atenção urgente e trabalhar em direção à restauração de um fluxo regular de ajuda, uma vez que o tempo está se esgotando para muitos cujas vidas dependem dessa assistência.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *