Nos últimos meses, o interesse pela terapia hiperbárica de oxigênio (HBOT) tem crescido de forma significativa, especialmente no contexto da covid longa. Imagine se permitir flutuar em uma câmara fechada enquanto é envolvido por um mar de oxigênio puro, sob pressões que variam de duas a três vezes as que sentimos ao nível do mar. Essa é a experiência que muitos pacientes estão vivenciando em busca de alívio para os sintomas persistentes da covid longa. A terapia, que existe há décadas e é utilizada principalmente para tratar condições como a descompressão em mergulhadores e a intoxicação por monóxido de carbono, agora começa a ser explorada como uma solução promissora para essa condição debilitante que acomete tantas pessoas após a infecção inicial pelo coronavírus.
John M., um paciente que já passou por inúmeras sessões de HBOT para aliviar seus sintomas persistentes, descreve sua experiência como um verdadeiro divisor de águas. “O silêncio no interior da câmara é ensurdecedor no início”, comenta ele. Para muitos, a terapia ainda permanece uma incógnita, e as expectativas são variáveis. O protocolo atual para a HBOT nos pacientes de covid longa ainda está sendo refinado, e há a possibilidade de que os pacientes passem por até 40 sessões para tratar sintomas que persistem de maneira indesejada. A ideia é que, assim como em outros tratamentos onde a terapia se mostrou eficaz, a HBOT traga alívio e processos de cura para aqueles que enfrentam a complexidade dos efeitos colaterais da covid longa.
Os princípios da terapia hiperbárica envolvem a exposição do corpo a 100% de oxigênio, uma quantidade notavelmente maior do que os 21% que respiramos normalmente. Durante o tratamento, a pressão do ar na câmara é aumentada, o que potencializa a quantidade de oxigênio que alcança os tecidos do corpo. A expectativa é que esse aumento na oxigenação possa ajudar a resolver a fadiga debilitante frequentemente relatada pelos pacientes de covid longa. De acordo com a pesquisa de Inderjit Singh, professor assistente na Yale School of Medicine, essa fadiga está relacionada à dificuldade que os músculos têm em extrair e utilizar o oxigênio de forma eficiente, dificultando tarefas cotidianas e deixando os pacientes se sentindo como carros sem combustível suficiente para funcionar adequadamente.
Além disso, uma revisão sistemática conduzida por pesquisadores da China Medical University Hospital revelou que a HBOT poderia ser eficaz no combate a um fator relevante da covid longa: o estresse oxidativo, que ocorre quando o corpo encontra dificuldades em equilibrar moléculas nocivas conhecidas como radicais livres, causando inflamações crônicas. Pesquisas sugerem que a HBOT, ao criar um ambiente rico em oxigênio, pode ajudar a reduzir essa inflamação crônica, melhorando a atividade mitocondrial e diminuindo a produção de substâncias prejudiciais. As potencialidades da HBOT não se limitam apenas à melhora da oxigenação; também pode restaurar o oxigênio em tecidos carentes, reduzir a produção de citocinas inflamatórias e aumentar a mobilização de células-tronco hematopoiéticas, que são fundamentais para a formação dos diferentes tipos de células sanguíneas.
Com relação à eficácia da HBOT no tratamento da covid longa, estudos recentes têm mostrado resultados encorajadores. Um ensaio clínico rigoroso, que seguiu o padrão ouro da pesquisa médica contemporânea com um design randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, observou que 73 pacientes com covid longa que receberam 40 sessões de HBOT apresentaram melhorias significativas em sua qualidade de sono, níveis de dor e energia. Além disso, um estudo longitudinal da Universidade de Tel Aviv acompanhou pacientes até um ano após a última sessão de terapia, evidenciando que as melhorias clínicas se mantiveram. No entanto, um trial em andamento no Karolinska Institute, na Suécia, trouxe preocupações quanto à segurança, com quase metade dos pacientes relatando tosse ou desconforto no peito durante o tratamento. A incerteza permanece acerca da causa real desses sintomas, que pode ou não estar vinculada à terapia hiperbárica.
Contudo, a realidade é que para a HBOT se consolidar como uma opção de tratamento convencional para a covid longa, é necessário abordar algumas prioridades críticas. Atualmente, não existe um método estabelecido para ajustar as dosagens de HBOT de acordo com as necessidades individuais dos pacientes, e os pesquisadores precisam aprofundar-se nas características e sintomas específicos que podem indicar benefícios dessa terapia. Ademais, será fundamental entender melhor os fatores que possam estar associados a possíveis efeitos adversos e o tempo de duração dos benefícios observados em um grupo mais amplo de pacientes.
O preço também é uma barreira significativa, já que a falta de cobertura por planos de saúde transforma a HBOT em uma terapia inacessível para muitos. De acordo com estimativas de especialistas, um tratamento de seis semanas pode custar cerca de 60 mil reais. É um valor expressivo para um tratamento que ainda está sendo estudado e cujos resultados variam consideravelmente de paciente para paciente. A médica Sandra K. Wainwright destacou que alguns pacientes notam melhorias após apenas 10 ou 15 sessões, enquanto outros podem necessitar de até 45 para perceber mudanças. “Acredito que a HBOT pode oferecer ações promissoras em muitos casos, mas é preciso encará-la como um complemento a outras formas de tratamento que os pacientes com covid longa devem considerar, como programas de reabilitação e exercícios”, afirma Wainwright.
Por fim, Dr. Singh alerta sobre os desafios que a heterogeneidade da covid longa cria para as pesquisas. A dificuldade em identificar quais sintomas tratar e como inscrever os pacientes em ensaios clínicos em razão dessa variedade permanece um obstáculo considerável. Não obstante, ficou claro que tratamentos direcionados a múltiplos aspectos da covid longa, como é o caso da HBOT, podem ajudar a superar essa complexidade e, quem sabe, oferecer uma nova luz para aqueles que lutam contra os sintomas persistentes da doença.