A terapia eletroconvulsiva (ECT) é um tratamento psiquiátrico que gera correntes elétricas no cérebro, e mesmo após décadas de uso, ainda luta contra uma imagem negativa forjada por percepções errôneas. Robert Ostroff, psiquiatra da Universidade de Yale, destaca que “as críticas em torno da ECT baseiam-se muitas vezes em opiniões não médicas em vez de evidências científicas”. Essa visão distorcida é especialmente lamentável, uma vez que a ECT se revela uma opção segura e altamente eficaz para pacientes com condições severas, como depressão major e transtorno bipolar. A evolução na maneira como a ECT é administrada ao longo do tempo também é significativa, e é crucial esclarecer os métodos modernos que a diferenciam de suas aplicações originais, parte de uma história que remonta quase um século.
No seu início, na década de 1930, a ECT foi desenvolvida pelo neurologista italiano Ugo Cerletti, que observou uma correlação entre pacientes com epilepsia submetidos a “curas de repouso” para depressão, que melhoravam seu estado de ânimo após crises convulsivas. Este insight o levou à ideia de que induzir uma breve convulsão por meio de correntes elétricas poderia aliviar rapidamente os sintomas de condições mentais severas. Embora a ECT tenha sido introduzida nos Estados Unidos na década de 1940, as práticas de segurança e conforto dos pacientes se aprimoraram drasticamente apenas a partir da década de 1960, com a implantação do uso de anestésicos gerais antes da aplicação do tratamento.
Em um panorama contemporâneo, a ECT é disponibilizada através dos serviços de psiquiatria interventiva para pacientes que não obtiveram sucesso com tratamentos farmacológicos tradicionais. Além da ECT, outras opções incluem o uso de ketamina intravenosa, esketamina via spray nasal e estimulação magnética transcraniana (TMS), que também são alternativas em constante evolução para dificuldades psiquiátricas severas. A ECT é reconhecida por apresentar uma taxa de eficácia de aproximadamente 60% entre os pacientes, superando as taxas de resposta dos antidepressivos tradicionais, que geralmente variam de 30% a 35%. Para aqueles com depressão resistente ao tratamento, a ECT se torna uma opção viável e necessária.
As sessões de ECT ocorrem tipicamente três vezes por semana, e, em média, os pacientes precisam de cerca de seis a dez tratamentos antes de notarem uma melhora significativa. Antes do início do procedimento, os pacientes recebem um anestésico geral e um relaxante muscular para garantir a máxima segurança e conforto. Durante o tratamento, que geralmente ocorre em ambiente ambulatorial, os pacientes são monitorados através de um eletroencefalograma (EEG) e tem suas funções cardíacas e respiratórias vigiadas. Um dispositivo gera uma corrente elétrica que provoca uma convulsão generalizada, que dura cerca de 60 segundos, com os pacientes normalmente adormecendo por um breve período em seguida.
Apesar da efetividade da ECT, é importante reconhecer que o procedimento não é isento de efeitos colaterais. Alguns pacientes podem experimentar dores musculares leves, náuseas ou, em casos raros, perdas temporárias de memória. Embora a amnésia de curto prazo possa afetar até 10% dos pacientes, especialmente nos períodos imediatamente anterior e posterior ao tratamento, estudos mostram que a função da memória tende a melhorar após a recuperação da depressão. Isso ocorre porque muitos dos déficits cognitivos observados podem estar mais associados à própria condição depressiva do que ao tratamento em si.
Muitas vezes, a percepção negativa da ECT é alimentada por retratos inverossímeis em filmes e na cultura popular, como o icônico filme “Um Estranho no Ninho”, que, segundo Dr. Ostroff, perpetua a ideia de abusos e tratamentos coercitivos no cuidado psiquiátrico. Essa imagem distorcida contribui para o estigma em torno do tratamento, o que poderia estar afastando a metade dos pacientes que poderiam se beneficiar ao perderem a oportunidade de receber a ECT. A busca atual é equilibrar a eficácia da ECT com reduções nos efeitos colaterais cognitivos, aprimorando técnicas como a TMS, que promete ser uma alternativa não invasiva e inovadora.
Concluindo, a ECT surge como uma ferramenta poderosa e muitas vezes subestimada no arsenal contra doenças mentais severas, e à medida que as percepções públicas sobre a saúde mental evoluem, é vital que adotemos uma nova postura em relação a essa terapia. Com a continuidade dos estudos e dos avanços na prática psiquiátrica, novas esperanças emergem para aqueles que ainda enfrentam batalhas difíceis contra a depressão e outros distúrbios psiquiátricos. Como sociedade, precisamos abraçar um futuro em que o tratamento de condições mentais é visto sob um prisma de compaixão, ciência e, acima de tudo, eficácia.