A neuropatia periférica é uma condição que afeta diretamente a forma como nossos nervos coletam informações do ambiente e enviam respostas ao corpo. Essa conexão essencial, que nos permite sentir, reagir e interagir com o mundo ao nosso redor, pode ser severamente prejudicada por essa desordem do sistema nervoso periférico. Esse artigo visa explorar em detalhes o que é a neuropatia periférica, suas causas, consequências e opções de tratamento, especialmente no contexto da pandemia de COVID-19, que trouxe à tona novas evidências sobre a incidência dessa condição.
A neuropatia periférica é definida como uma desordem que atua na rede nervosa que se estende do cérebro e da medula espinhal até os tecidos do corpo. Quando essa rede é comprometida, pode resultar em sintomas como formigamento, dor, dormência e fraqueza, sendo frequentemente mais sentida nas extremidades, como mãos e pés. Dados recentes indicam que cerca de 2,4% da população é afetada por essa condição, com esse número aumentando para 8% entre os pacientes mais velhos. Mais preocupante é a descoberta de que cerca de 56% dos pacientes recuperados de COVID-19 relataram sintomas relacionados à neuropatia após a infecção, levantando questões sobre a relação entre o coronavírus e esta condição debilitante.
As causas que levam ao desenvolvimento da neuropatia periférica são variadas e frequentemente complexas. Trauma físico, inflamações, diabetes, infecções bacterianas ou virais, certos medicamentos, condições hereditárias, má nutrição e desequilíbrios hormonais estão entre os fatores que podem desencadear essa desordem. Há casos em que um quarto dos pacientes não apresentam uma causa clara, o que torna o diagnóstico ainda mais desafiador. Os especialistas ainda subdividem essas neuropatias em mono-neuropatias, que afetam um único nervo, e polineuropatias, que envolvem múltiplos nervos. A classificação correta é fundamental para entender a natureza do problema, pois a neuropatia pode ser demielinizante, onde a camada de mielina que protege os nervos é danificada, ou axonal, que envolve o tronco longo do neurônio.
Mas afinal, o que poderia levar a COVID-19 a causar neuropatia periferica? Pesquisadores, como a neurologista Lindsay McAlpine, identificaram duas categorias principais de neuropatia associadas à infecção por COVID-19. A primeira é a neuropatia mediada pela doença aguda, que se apresenta de forma súbita e intensa durante o episódio de COVID-19. Já a segunda, conhecida como neuropatia de fibras pequenas, pode surgir semanas após a infecção e costuma se manifestar como uma dor ardente nos pés. Estudos recentes indicam que as formas axonais e demielinizantes de neuropatia têm sido observadas em pacientes pós-COVID, sugerindo que a disfunção do sistema imunológico pode levar o corpo a atacar suas próprias células nervosas, em vez de focar apenas nos patógenos virais.
Para diagnosticar a neuropatia periférica, um exame detalhado é fundamental. Os profissionais médicos farão uma série de perguntas sobre os sintomas relatados, como a localização da dor, frequência e intensidade das sensações. Além disso, serão realizados exames neurológicos completos, que incluem testes de reflexo e eletromiografia (EMG), que ajudam a distinguir as formas de dano nervoso. Se necessário, exames laboratoriais adicionais podem ser solicitados para descartar deficiências nutricionais, como a de vitamina B12, ou doenças autoimunes que podem estar contribuindo para o quadro clínico.
Quanto ao tratamento da neuropatia periférica, a abordagem geralmente envolve um conjunto integrado de técnicas, incluindo fisioterapia, reabilitação e medicações. O importante, segundo Dr. McAlpine, é otimizar o ambiente para a recuperação dos nervos, controlando doenças que possam agravar os sintomas, como o diabetes. Medicamentos como gabapentina, pregabalina e duloxetina são frequentemente utilizados para aliviar a dor neuropática. Além disso, a suplementação de vitaminas do complexo B pode proteger os nervos e reduzir os sintomas, desde que seja feita com cuidado, pois a superdosagem de vitamina B6 pode resultar em danos adicionais.
Embora existam várias opções terapêuticas, o acesso ao tratamento pode ser um desafio. A espera para consultas com neurologistas pode durar meses, fazendo com que os médicos da atenção primária, em muitos casos, prescrevam medicamentos para o alívio da dor enquanto os pacientes aguardam. O uso de imunoglobulina intravenosa (IVIg) também apresenta uma perspectiva interessante no tratamento da neuropatia resultante de danos autoimunes; no entanto, os custos e questões de cobertura de seguros podem representar um obstáculo para muitos pacientes.
Em síntese, a neuropatia periférica, especialmente em pacientes que se recuperaram de COVID-19, representa um desafio significativo tanto para os indivíduos afetados quanto para os profissionais de saúde. Embora os medicamentos possam oferecer algum alívio da dor, a identificação da causa subjacente continua sendo o aspecto mais crítico do tratamento. Com a diabetes como a principal causa nos Estados Unidos e na Europa, o controle eficaz dessa condição é essencial para minimizar os riscos associados à neuropatia. Para os pacientes pós-COVID, a compreensão dessa condição ainda está em desenvolvimento, e as opções de tratamento são ainda muito debatidas na comunidade médica.