No cenário político americano, à medida que se aproxima o dia das eleições, o ex-presidente Donald Trump apresentou, em um evento realizado na última quinta-feira, novas propostas de isenção fiscal voltadas para alívio financeiro de certos contribuintes, especialmente aqueles envolvidos na indústria automobilística e os cidadãos americanos residentes fora do país. A sua abordagem foi formalizada em um discurso perante o Detroit Economic Club, em Michigan, um dos estados chave na corrida eleitoral, reconhecido por abrigar várias montadoras e um grande número de trabalhadores da indústria automotiva.
Durante seu discurso, Trump fez uma promessa impactante: tornar os juros pagos em empréstimos de automóveis totalmente dedutíveis no imposto de renda. Essa proposta se assemelha à dedução já existente para os juros de hipoteca, e o ex-presidente argumentou que essa medida deveria promover um aumento significativo na produção interna de automóveis, além de tornar a posse de veículos mais acessível para inúmeras famílias de trabalhadores americanos. Ao se dirigir à plateia predominantemente composta por profissionais do setor automobilístico, Trump enfatizou a importância dessa promessa para a revitalização do setor e a prosperidade econômica dos cidadãos.
Adicionalmente, Trump anunciou que notificaria formalmente México e Canadá, no início de seu novo mandato, sobre sua intenção de invocar a cláusula de renegociação a cada seis anos do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), que entrou em vigor em janeiro de 2020 como substituto do antigo NAFTA. Essa medida foi apresentada como parte de um “plano detalhado para salvar a indústria automobilística americana”, e Trump declarou que, com seu apoio nas urnas, seria possível observar uma transferência significativa de empregos industriais de volta para os Estados Unidos, especificamente para o estado de Michigan. Com um tom enfático e provocador, ele caracterizou a situação atual como um “roubo” à economia americana, propondo um retorno da produção feita no exterior para solo americano.
Por outro lado, especialistas em tributação levantaram questionamentos sobre a proposta de dedução, indicando que restringir o benefício apenas aos empréstimos de automóveis pode ser limitador, visto que a maioria dos americanos não optam pela dedução detalhada em suas declarações de impostos. Howard Gleckman, um respeitado analista fiscal, comentou que a proposta é mais uma das manobras de campanha de Trump, sem um claro benefício para a população em geral.
Outro ponto abordado por Trump durante seu discurso foi a promessa de eliminar a dupla tributação enfrentada pelos cidadãos americanos que vivem no exterior, embora não tenha especificado como esse alívio seria implementado. Em um vídeo divulgado, ele destacou que acabaria com essa situação que tem gerado insatisfação na comunidade americana fora dos Estados Unidos. Atualmente, muitos desses cidadãos enfrentam a obrigação de pagar impostos tanto ao governo dos Estados Unidos quanto ao país onde residem. Contudo, é importante notar que os valores pagos a governos estrangeiros podem ser considerados, e cidadãos que recebem menos de $126,500 estão isentos de tributos americanos para o ano de 2024. Essa questão contrasta com as políticas de outros países, que geralmente não impõem tributos sobre os seus cidadãos que residem no exterior.
No vídeo, Trump fez um apelo emocional aos cidadãos vivendo fora do país, pedindo que se registrassem para votar e prometendo que cuidaria de suas necessidades. Ele assegurou que suas vozes seriam ouvidas, enfatizando que estas questões já foram negligenciadas por seus representantes até o momento, e que ele faria o necessário para atender às suas demandas.
Essas propostas fiscais se juntam a uma série de cortes tributários que Trump tem promovido nos últimos meses, com um foco específico em grupos eleitorais que almeja conquistar. Entre as promessas anteriores, destacam-se a eliminação de impostos sobre gorjetas, benefícios da Previdência Social e horas extras, além da remoção do limite de dedução de impostos estaduais e locais, estipulado em $10,000, uma medida que foi parte da Lei de Cortes de Impostos e Empregos de 2017, aprovada durante seu primeiro mandato. As alterações propostas, que necessitam da aprovação do Congresso, se somam à promessa de extensão das disposições de imposto de renda individual e imposto sobre heranças que estão prestes a expirar, cobrindo um de seus legados mais significativos na política fiscal americana.
Contudo, essas iniciativas apresentam um custo elevado, que, segundo especialistas, não é coberto pelo aumento de tarifas que ele busca implementar. Um estudo recente feito pelo Comitê para um Orçamento Federal Responsável estima que as propostas de Trump aumentariam a dívida nacional em $7.5 trilhões ao longo de uma década. Em comparação, um pacote de políticas elaborado pela vice-presidente Kamala Harris teria um impacto financeiro de $3.5 trilhões na dívida nacional.
Diante desse panorama, restam questões sobre a viabilidade das promessas de Trump e suas implicações para a economia americana em um possível segundo mandato, diante de uma política fiscal que já enfrenta desafios significativos. O cenário atual envolve não apenas a promessa de isenções e cortes tributários, mas também um contexto mais amplo sobre como a administração federal lidará com a sustentabilidade fiscal e as necessidades de serviços públicos essenciais, impactando direta e indiretamente a vida dos cidadãos.