A recente reunião entre o presidente russo Vladimir Putin e seu homólogo iraniano, Masoud Pezeshkian, marcou um evento crucial em um contexto de crescente tensão no Oriente Médio, especialmente após um ataque com mísseis por parte do Irã que gerou uma expectativa de resposta por parte de Israel. Durante esse encontro marcante, realizado em Ashgabat, a capital da Turcomenistão, Putin salientou a existência de uma visão de mundo “muito próxima” entre as duas nações, que enfrentam severas sanções internacionais. Esse estreitamento das relações coincide com uma intensificação das ligações militares entre Rússia e Irã nos últimos anos, particularmente após a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.
A Rússia tem buscado fortalecer sua parceria militar com o Irã, que fornece drones de ataque, conhecidos como “Shahed”, e contribui com a construção de fábricas de drones dentro do território russo. Conforme apontado por autoridades dos Estados Unidos, o Irã também transferiu mísseis balísticos de curto alcance para a Rússia, um movimento que eleva consideravelmente seu apoio ao esforço militar russo na guerra da Ucrânia. Em um pronunciamento durante a reunião, Putin expôs que “estamos trabalhando ativamente juntos na arena internacional e nossas avaliações dos eventos que ocorrem no mundo são frequentemente muito próximas”, conforme relatado pela TASS, agência estatal de notícias russa.
Segundo a analista sênior Aniseh Bassiri Tabrizi, do Chatham House, os dois países parecem ter alcançado um equilíbrio maior em suas interações. “Desde o início do conflito na Ucrânia, ambos se necessitam mais e se apoiam em questões específicas, o que é visto como benéfico do lado iraniano”, afirmou ela. Os laços entre Moscou e Teerã têm evoluído para formar uma aliança militar de fato na região, que tem como um de seus focos apoiar o regime do presidente sírio Bashar al-Assad. Esta colaboração se intensifica à medida que ambos os países enfrentam um isolamento crescente provocado por sanções globais, aumentando a dependência mútua.
Pezeshkian, uma figura reformista que assumiu a presidência do Irã em julho após a morte do presidente Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero, destacou sua intenção de fortalecer a cooperação bilateral com a Rússia como uma estratégia para enfrentar as “cruéis” sanções impostas pelo Ocidente. Recentemente, em um encontro com o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, em Teerã, o líder iraniano pediu uma aceleração dos projetos conjuntos entre as nações. A Rússia, por sua vez, manifestou interesse em expandir a cooperação econômica e diversificar o comércio bilateral com o Irã, com Mishustin convidando Pezeshkian para participar da cúpula do BRICS, onde um acordo estratégico abrangente poderá ser assinado.
Ao abordar o contexto regional durante suas conversas, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, indicou que a pauta se concentraria principalmente nas relações bilaterais, mas acrescentou que a situação no Oriente Médio também mereceria atenção. Esse movimento de aproximação entre Rússia e Irã é evidenciado por vários encontros recentes, os quais, segundo a TASS, estão no “mais alto nível” na história das relações entre os dois países. Entretanto, especialistas advertiram que este fortalecimento das relações pode não ser totalmente linear, uma vez que a dinâmica geopolítica e as diversas estratégias de cada nação podem gerar tensões e desajustes.
Além disso, surgiram relatos sobre a participação russa em transferências de armas para os Houthis, um grupo apoiado pelo Irã no Iémen. Segundo informações de veículos de comunicação ocidentais, Viktor Bout, um comerciante de armas que foi trocado por uma jogadora de basquete americana, pode ter retornado ao comércio de armamento ao negociar a venda de US$ 10 milhões em armas automáticas para os rebeldes. Contudo, Bout nega essas acusações, e isso levanta questões sobre a complexidade das interações de Rússia e Irã na esfera militar.
Analistas como Tabrizi enfatizam que as recentes tensões no Oriente Médio não necessariamente solidificam as relações entre Moscou e Teerã. Há um entendimento de que a Rússia pode se beneficiar dos conflitos envolvendo os proxies iranianos, já que isso poderia desviar a atenção internacional da guerra na Ucrânia. “Estamos cientes de que a Rússia está focada no que está acontecendo na Ucrânia e, provavelmente, não pode se estender em termos de entrega de capacidades técnicas e militares ao Irã além de certo ponto”, declarou a analista. Embora a relação entre os dois países esteja em expansão e provavelmente continuará a crescer, é esperado que surjam tensões e desajustes na cooperação estratégica entre eles.