Após a passagem dos furacões Milton e Helene, o estado da Flórida enfrenta crises de ansiedade e depressão

A passagem dos furacões Milton e Helene deixa um rastro de destruição não apenas nas estruturas, mas também na saúde mental dos habitantes da Flórida. Recentemente, Amber Henry, uma mãe solteira, compartilhou sua experiência angustiante enquanto buscava abrigo com seus quatro filhos em sua casa em Lakeland, estado da Flórida. Com o furacão Milton despejando águas da inundação em sua residência, a situação se tornava cada vez mais desesperadora. “Tudo o que pude fazer foi rezar e precisava ser corajosa”, revelou Henry. Nesse cenário caótico, sua filha de dez anos expressou preocupação ao afirmar: “Mamãe, não quero morrer pelo meu aniversário.” Um relato que ilustra a tensão emocional que muitas famílias enfrentaram diante da força implacável da natureza.

A devastação causada por Milton, que já deixou ao menos 17 mortos, gerou uma onda de pânico e incerteza entre os residentes da Flórida. O furacão trouxe consigo um aumento considerável no número de rescatas e na força das tempestades, sendo que casas foram submersas e comunidades inteiras, como a de Valrico, sofreram com inundações significativas. O xerife do condado de Hillsborough, Chad Chronister, expressou a dor e a empatia que sentiu ao testemunhar a perda em sua comunidade: “É difícil não imaginar a tristeza”, disse Chronister, destacando os esforços feitos pelas equipes de emergência que resgataram mais de 700 pessoas desde a passagem do furacão na noite de quarta-feira, quando o Milton se tornou um furacão de categoria 3 ao cruzar a costa oeste da Flórida.

O impacto emocional é difícil de medir imediatamente, mas os especialistas alertam para os efeitos prolongados que esses desastres sucessivos podem ter na saúde mental dos floridianos. As inundações geradas pelas tempestades não apenas causam destruição física, mas também desencadeiam problemas psicológicos, incluindo estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade e depressão. Estudo realizado sobre os furacões Irma e Michael, em 2017 e 2018, sugere que os residentes destes eventos enfrentaram um aumento nas questões de saúde mental logo após as catástrofes. Dana Rose Garfin, psicóloga e professora de saúde pública na UCLA, destaca que as consequências psicológicas podem ser exacerbadas pela repetição dos desastres naturais: “Estamos vendo agora uma intensidade muito maior em termos de exposição repetida às catástrofes.”

As consequências da passagem de dois furacões em um curto espaço de tempo elevam as preocupações com o bem-estar emocional dos afetados. Além das questões relacionadas à saúde mental, muitos floridianos ficam em situação de vulnerabilidade total, sem ter onde ir após perderem suas casas. Chronister, ao observar a luta das comunidades afetadas, questionou onde as pessoas oprimidas por esses desastres poderiam se abrigar se não possuíam amigos ou família que pudessem ajudar. As equipes de socorro têm se esforçado para encontrar soluções para aqueles que não têm condições financeiras de permanecer em hotéis ou centros de acolhimento, enquanto lidam com a realidade de que muitas pessoas ainda estão perdendo suas casas.

Somente no estado da Flórida, mais de um milhão de clientes de energia ainda estavam sem eletricidade durante o final de semana, com as maiores interrupções ocorrendo nas áreas onde o Milton fez sua aparição devastadora. O furacão trouxe consigo uma força de ressaca que resultou em vários pés de água em algumas regiões do estado, além de um profundo impacto emocional. O furacão Milton não se limitou a causar estragos nos lares; ele devastou os centros de apoio à comunidade e gerou um clima de insegurança em localidades que já estavam vulneráveis.

A realidade enfrentada pelos residentes que sobreviveram ao furacão é dantesca. Indivíduos que foram resgatados de abrigos improvisados, como no caso de um lar de idosos em Tampa, que foi atingido por águas de inundação, relatam experiências traumáticas. O xerife Chronister falou comovidamente sobre os desafios que o bairro enfrenta após o furacão Milton, enfatizando a necessidade de apoio urgente e atenção às necessidades básicas dos sobreviventes. Esses testemunhos evidenciam que a luta pela recuperação física é apenas uma parte do desafio. Com os lares e espaços de vida sendo destruídos, o caminho para a recuperação emocional pode ser longo e tortuoso.

Em um contexto onde fenômenos climáticos extremosos se tornam cada vez mais frequentes, a predição de pesquisadores de que desastres consecutivos se tornarão normais torna-se alarmante. Os efeitos psicológicos das catástrofes climáticas são preocupantes, pois os residentes encontram dificuldades para se recuperarem antes que uma nova crise os atinja. Essa nova era de eventos climáticos extremos exige que tanto especialistas quanto comunidades se preparem para enfrentar não apenas os danos físicos, mas também os traumas duradouros que os desastres naturais podem provocar. A situação atual da Flórida, balançada entre a recuperação e a incerteza, serve como um manuscrito da luta constante para encontrar resiliência diante da devastação.

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