No dia 27 de outubro de 2024, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, apresentou um plano audacioso com o objetivo de mais que dobrar o teto do atual programa de créditos fiscais para a indústria do entretenimento, que ultrapassa os 330 milhões de dólares por ano. Essa iniciativa surge em um momento crítico, enquanto o setor cinematográfico e de televisão da Califórnia tenta se reerguer após severas interrupções devido a greves e a uma lenta mas contínua fuga de produções para outros estados e países. Com essa nova proposta, Newsom pretende, não apenas revitalizar a produção local, mas também garantir que a Califórnia volte a ser um polo atrativo para cineastas e produtores. Se a proposta for aprovada, ela se tornará um dos subsídios mais generosos oferecidos por qualquer estado, exceto Geórgia, que, curiosamente, não estabelece um teto quanto ao valor oferecido anualmente às produções.

A importância dessa medida foi reiterada por Karen Bass, prefeita de Los Angeles, que expressou que “essa indústria é nossa rocha”. A prefeita destacou a perda contínua de projetos para outras localidades, enfatizando a necessidade de que a Califórnia restabeleça seu status como líder na produção cinematográfica. A diretora da comissão cinematográfica do estado, Colleen Bell, também reconheceu a crescente concorrência entre jurisdições em busca de atrair produções para seus territórios.

O sucesso dessa nova abordagem, segundo os especialistas do setor, não se restringe a simplesmente aumentar o teto do programa. Bell, por exemplo, sugere que o escopo do programa deve ser ampliado, considerando a inclusão de novos tipos de despesas e categorias de produção que possam se qualificar para os créditos fiscais. Além de aumentar o montante máximo que uma única produção pode receber, também há um apelo para que custos que estão atualmente excluídos da elegibilidade, como salários de atores, diretores e produtores, sejam incluídos.

Essa questão é exemplar quando se observa a saída de grandes produções da Califórnia. Tom Cruise, por exemplo, poderia optar por filmar a próxima edição de “Missão: Impossível” no Reino Unido, onde parte de seu salário poderia ser recuperado por meio de incentivos fiscais. Joe Chianese, vice-presidente sênior de uma empresa de serviços de folha de pagamento em Hollywood, afirmou que essa questão é “crítica”, ressaltando a importância de que a Califórnia permaneça competitiva no cenário cinematográfico mundial. Para alguns especialistas, a possibilidade de obter uma alíquota de alívio fiscal sobre os salários de estrelas é vista como um aspecto vital para a obtenção de financiamento em projetos independentes, o que nos leva a refletir: será que a California vai finalmente dar um passo significativo para manter suas produções e talentos dentro de seu território?

Além dos grandes estúdios, a proposta também abrange a produção de conteúdo não roteirizado, especialmente em um cenário em que a filmagem de reality shows em L.A. caiu 56% no terceiro trimestre de 2024 em comparação ao mesmo período em 2023. Esse tipo de programação, normalmente mais econômica de produzir, não tem acesso ao crédito fiscal de produção, o que deixa uma lacuna significativa no apoio ao setor. A falta de um crédito fiscal específico para efeitos visuais também tem sido um fator de perda para o estado, uma vez que várias produções estão optando por terceirizar o trabalho para países que oferecem incentivos mais generosos nesse aspecto.

Ainda assim, a aprovação desta proposta não garante que as produções continuarão na Califórnia. A diretora executiva da Guilda dos Diretores da América, Rebecca Rhine, destacou que, para que mudanças sejam efetivas, é essencial que os estúdios e empregadores se comprometam a manter o trabalho na Califórnia. Além disso, a proposta de Newsom oferece uma perspectiva otimista, que poderia beneficiar não apenas os trabalhadores da indústria, mas também as empresas subsidiárias que dependem do fluxo constante de trabalho em Hollywood. Entretanto, a resistência de alguns legisladores para expandir os subsídios em um momento de déficit orçamentário poderia restringir a viabilidade da proposta. Os economistas e analistas de orçamento expressam ceticismo quanto à eficácia dos créditos fiscais cinematográficos como estimuladores do emprego e da economia, sugerindo que essas iniciativas podem não ter o impacto desejado.

A discussão sobre as mudanças propostas deve ser cuidadosa, pois, como apontou Thom Davis, presidente do Conselho IATSE da Califórnia, é fundamental criar empregos sem impor um ônus excessivo sobre as finanças do estado. A expectativa é de que a proposta não apenas mantenha o retorno positivo que o programa atualmente proporciona, mas também capacite a Califórnia a recuperar seu legado como o epicentro da produção cinematográfica mundial. Agora, resta saber se as mudanças serão suficientes para que a Califórnia consiga resistir à crescente concorrência e atrair produções de volta ao seu solo, garantindo que Hollywood não perca o brilho que a tornou famosa.

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