A recente mudança na postura da campanha de Donald Trump em relação à votação antecipada e por correio tem gerado surpresa e curiosidade. Durante anos, o ex-presidente fez declarações contundentes contra essas modalidades de voto, chamando-as de perigosas e propensas a fraudes. Entretanto, com a aproximação de uma eleição acirrada, a campanha de Trump inicia um esforço para encorajar os eleitores a utilizarem esses métodos de votação, especialmente em estados-chave como a Carolina do Norte, que recentemente enfrentou os desafios impostos pelo furacão Helene.
A nova mensagem da campanha de Trump diante das eleições de 2024
À medida que a data das eleições se aproxima, a campanha de Trump realiza um esforço significativo para promover a votação antecipada e por correio. Em iniciativas recentes, como reuniões virtuais e mensagens automatizadas, tanto Trump quanto Lara Trump, atual co-presidente do Comitê Nacional Republicano, têm incentivado os eleitores a aproveitarem essas opções de votação. Uma das mensagens automatizadas destaca a urgência de votar antes do dia da eleição: “Oi, aqui é Lara Trump ligando em nome da campanha do presidente Trump, e estamos pedindo que você saia para votar antes do Dia da Eleição.” Esta abordagem contrasta fortemente com os argumentos que Lara havia apresentado anteriormente, alegando fraudes massivas na eleição de 2020 devido ao uso de cédulas por correio.
Dados do aplicativo Nomorobo revelam que pelo menos 286 mil chamadas automáticas, contendo esse tipo de mensagem, foram enviadas a eleitores em estados cruciais, incluindo Pennsylvania, Georgia, Wisconsin, Arizona, Nevada e Michigan, a partir do início de outubro. Além de incentivar a votação, a campanha de Trump também está atuando para expandir o acesso ao voto na Carolina do Norte em resposta aos danos causados pelo furacão, apesar de a oposição republicana em Georgia ter se posicionado contra a extensão de prazos de registro em situações semelhantes.
A análise dos defensores dos direitos de voto e a incoerência nas mensagens de Trump
Defensores dos direitos de voto têm manifestado sua satisfação em ver a campanha de Trump adotando uma postura que pede a ampliação do acesso ao voto, mas também expressam preocupação com a discordância desta nova posição em relação ao histórico recente da campanha, que buscou restringir o voto durante as eleições de 2020, especialmente em um cenário de pandemia, onde a votação por correio era uma solução necessária para minimizar aglomerações.
Sean Morales-Doyle, diretor do programa de direitos de voto do Brennan Center for Justice, observou que essa mudança não representa uma abordagem uniforme, o que levanta dúvidas sobre a genuinidade da nova posição da campanha. Em 2020, a campanha de Trump ingressou com várias ações judiciais para anular as mudanças que tornavam mais fácil o voto pelo correio, mudanças estas implementadas visando a segurança dos eleitores durante a pandemia da COVID-19. A mudança repentina nas táticas da campanha parece acentuada por uma percepção de que a ampliação do acesso ao voto é necessária para atrair eleitores e garantir a vitória em um cenário eleitoral competitivo.
Com a Carolina do Norte se configurando como um dos estados decisivos na eleição presidencial, a mudança de estratégia da campanha de Trump parece calculada. No que concerne aos 25 condados afetados pelo furacão Helene, Trump conquistou quase 63% dos votos em 2020. Na região, o número de eleitores registrados como republicanos supera em muito o de democratas, o que dá à campanha de Trump um incentivo adicional para garantir que esses eleitores possam votar, apesar das dificuldades impostas pelo desastre natural.
Propostas em resposta ao furacão e a resposta mista dos republicanos
A recente proposta da campanha de Trump para expandir o acesso ao voto na Carolina do Norte inclui sugestões para flexibilizar horários de votação e permitir locais temporários de votação em caso de impossibilidade de uso de certas seções eleitorais. Essas propostas foram posteriormente aprovadas, recebendo reconhecimento por parte de defensores do acesso ao voto. Contudo, em Georgia, a resposta dos republicanos à expansão do acesso ao voto em resposta ao furacão foi negativa, demonstrando uma diferença notável nas abordagens dentro do mesmo partido, dependendo da situação específica de cada estado.
A distinção entre as mudanças propostas, que foram apoiadas pela Assembleia Geral da Carolina do Norte, e aquelas implementadas de forma emergencial durante a pandemia de 2020, tem sido um ponto de debate. Os defensores dos direitos de voto argumentam que as circunstâncias podem variar, mas a necessidade de permitir que eleitores deslocados participem das eleições é uma constante que deve ser mantida em qualquer situação de crise.
Considerações finais sobre a nova estratégia da campanha de Trump
Às vésperas de uma eleição crucial, o contraste entre o passado e as atuais influências da campanha de Trump não pode passar despercebido. O apelo à votação antecipada e por correio coloca em evidência uma estratégia de adaptação ao cenário eleitoral competitivo, ao mesmo tempo em que revela as tensões internas do partido sobre como lidar com questões controversas relacionadas ao acesso ao voto. Com as datas das eleições se aproximando, o sucesso dessa nova estratégia pode muito bem depender da capacidade da campanha de aparar suas abordagens contraditórias, ao mesmo tempo em que mobiliza sua base de eleitores para garantir uma participação significativa nas urnas.