Aos 90 anos, uma reflexão sobre a carreira e o legado de uma ícone de Hollywood
A renomada atriz e vencedora do Oscar, Shirley MacLaine, aos 90 anos, revisita sua longa e ilustre carreira através de um acervo fotográfico que captura momentos memoráveis da sua vida. Durante uma conversa aberta, MacLaine expressou sua surpresa e humor ao relembrar algumas das imagens, particularmente as em preto e branco. Ao contemplar uma fotografia sua, sentada no capô de um Cadillac no estúdio Paramount, a atriz comentou de forma espirituosa: “Aqui, estou apenas tentando ser provocativa, de propósito. Jesus. Que idiotice!” Além disso, ela fez uma observação divertida sobre a forma como suas pernas apareciam nas fotos, afirmando: “Bem, eu nasci com boas pernas”, um traço que sempre lhe conferiu uma aura sedutora. MacLaine sempre foi uma figura multifacetada, destacando-se como cantora, dançarina e, evidentemente, atriz. Sua presença magnetizante atraiu a atenção não apenas de colegas, mas também de grandes nomes da indústria, como Dean Martin, que ela descreveu como a pessoa mais engraçada que já conheceu. Embora tenha nutrido uma paixão por Martin, ela nunca deixou que isso evoluísse para algo romântico, revelando: “Eu tinha medo de que, se me aproximasse, ele se tornasse menos engraçado, e isso significava mais para mim.”
Da infância em Virginia à ascensão em Hollywood: a formação de uma estrela
O início da jornada de MacLaine remonta à sua infância em Virginia, onde nasceu em uma família de educadores, sendo a irmã mais velha do futuro ator e diretor vencedor do Oscar, Warren Beatty. Em sua narrativa, a atriz compartilha memórias de cuidar de Beatty quando ainda era uma criança. Ao contrário do irmão, que entrou para a atuação apenas na faculdade, Shirley já havia mudado seu sobrenome para seu nome do meio e se aventurado a Nova York, mesmo antes de completar o ensino médio. Ela atribui sua paixão pela arte ao incentivo de dois professores que lhe disseram que sua dança tinha muita expressão e que ela deveria considerar a atuação. MacLaine fez sua estreia no teatro como substituta na produção original da Broadway de “The Pajama Game”. Quando a estrela Carole Haney se machucou, Shirley foi chamada para substituir a colega com apenas cinco minutos de aviso. Surpreendentemente, essa rápida mudança de papéis a levou a ser notada por Alfred Hitchcock, que a escalou para seu primeiro filme, “The Trouble with Harry”. Este filme se tornou um marco em sua carreira, e MacLaine recorda-se dos almoços regulares com o icônico diretor, lembrando-se com humor de como ganhou peso devido à alimentação farta.
MacLaine também relembra de uma experiência desconfortável no estúdio Paramount, onde, logo no seu primeiro dia, foi saudada por um produtor de forma imprópria. Ele, segundo ela, se inclinou para dentro do carro e, em uma atitude bastante invasiva, colocou sua língua em sua boca, deixando-a perplexa. No entanto, a atriz estava em um relacionamento na época com Steve Parker, o único homem que casou, descrevendo-o como o amor de sua vida. O casal teve uma filha, Sachi Parker, e MacLaine reflete sobre a natureza não convencional de seu casamento, que se desenrolou principalmente entre Nova York e Hollywood, enquanto Steve e Sachi residiam no Japão. Ao considerar seu papel como mãe e parceira, Shirley admite que sua abordagem poderia ser considerada não tradicional. Ao longo de sua vida, ela não hesitou em falar sobre seus relacionamentos e suas percepções sobre a própria atratividade, admitindo que em alguns momentos duvidou de sua beleza, mas teve experiências afetivas que contrabalançaram essa insegurança.
Uma carreira que atravessa décadas: presença constante em cenas icônicas
MacLaine não parou de viver a sua arte e sempre encarou as oportunidades que lhe foram oferecidas. Em um de seus discursos mais memoráveis após receber o Oscar por sua atuação em “Terms of Endearment”, ela fez uma menção bem-humorada a Jack Nicholson, com quem trabalhou no filme. Ao agradecer, ela expressou sua admiração por ele, mencionando uma cena de um filme anterior que foi um marco em sua escolha por Nicholson: “Eu queria muito trabalhar com a química cômica de Jack Nicholson desde sua cena do sanduíche de frango em ‘Easy Pieces’, e tê-lo na cama foi uma alegria da meia-idade!” O compromisso de MacLaine com sua arte a levou a desempenhar papéis significativos em filmes como “Steel Magnolias” e “Postcards from the Edge”. Sua versatilidade a permitiu se manter relevante em diversos papéis, desde sua aparição em “Downton Abbey” até sua recente participação em “Only Murders in the Building”, mesmo já em seus 80 anos. Essa habilidade de se reinventar e permanecer no centro das atenções é um testamento de sua paixão pela arte e por se conectar com novas audiências.
Com uma vida rica em experiências e histórias, MacLaine revelou estar aberta às discussões sobre a vida e a morte. Conhecida por acreditar que já viveu várias vidas, ela expressa seu interesse em explorar o que vem depois. Ao falar sobre sua perspectiva sobre a morte, ela afirma: “Oh, não. Estou até interessada em ir para lá. Estou ansiosa para fazer parte da experiência no céu. Realmente estou.” Apesar de suas reflexões sobre o fim, ela ainda vive em Santa Fe e comenta sobre sua conexão com o local, sentindo-se em casa entre a história e a arte que permeiam a cidade. O projeto “The Wall of Life”, que ela agora compila em um livro, encapsula não apenas seu legado, mas uma visão detalhada de como a vida é uma tapeçaria rica de memórias, reflexões e experiências que merecem ser compartilhadas.
Mais do que um mero compilado de fotografias, a obra “The Wall of Life: Pictures and Stories from This Marvelous Lifetime” se apresenta como um testemunho de décadas da vivência de Shirley MacLaine, disponibilizando essa riqueza de conteúdo ao público em diversas plataformas a partir de 22 de outubro. Para a atriz, não se trata apenas de retornar ao passado, mas de celebrar a vida em todas as suas nuances, uma jornada contínua em busca da essência do ser humano.