A controvérsia que gira em torno da escultura de uma mão gigante, nomeada Quasi, culminará em sua remoção do telhado da City Gallery, em Wellington, Nova Zelândia, neste fim de semana. A escultura, que se tornou um marco da cidade desde sua instalação em 2019, provocou reações diversas entre os residentes locais, variando de repulsa a um surpreendente afeto. Concebida pelo escultor australiano Ronnie van Hout, Quasi, com 16 pés de altura, carrega um semblante humano sem expressão, um detalhe que gerou tanto descontentamento quanto admiração, enquanto figurava como um adorável ou temível símbolo da capital neozelandesa.
Quasi, além da sua imensa escala, é composta de materiais como aço, polistireno e resina. Seu nome foi inspirado, em parte, em Quasimodo, o icônico sino do romance “O Corcunda de Notre-Dame”, de Victor Hugo, o que desencadeou discussões sobre sua representação masculina. Em sua jornada artística, Quasi já havia sido apresentado em Christchurch, mas, após ser considerado uma presença polarizadora, foi deslocado para Wellington, onde retirou aplausos e críticas em igual medida. De acordo com Ben McNulty, membro do conselho da cidade de Wellington, a reação inicial da população ao novo “morador” da cidade foi, com frequência, de estranhamento e desagrado. No entanto, ao longo do tempo, a escultura começou a conquistar alguns corações, formando um inesperado grupo de admiradores.
O que alguns viam como um “monstro” rapidamente se tornou uma parte que se tinha decorado do cenário urbano. O rápido giro de sentimentos em relação a Quasi é um tanto comum em arte pública: ela pode ser inicialmente rejeitada ou incompreendida, mas, com o tempo, pode se tornar um elemento de orgulho local. Durante uma conversa com a Associated Press, McNulty observou que se, inicialmente, cerca de 80% da população reprovava Quasi, essa porcentagem foi se reduzindo, enquanto um movimento pro-Quasi emergiu com o tempo. Em um espírito de comunidade, as pessoas começaram a ver a escultura não apenas como uma aberração, mas como um testemunho da resiliência e da identidade cultural da cidade.
A iminente remoção de Quasi está programada para acontecer em um sábado, quando a escultura será içada por um helicóptero e levada para uma localização desconhecida na Austrália. A decisão foi recebida com opiniões divididas. Enquanto alguns cidadãos expressaram a sua tristeza e desapontamento nas redes sociais, outros mostraram uma leve alegria com a mudança. O artista Ronnie van Hout, em uma declaração sobre a partida de Quasi, chamou atenção para a inevitabilidade das transições na arte e na vida, observando sabiamente que “tudo chega ao fim eventualmente”. Ele também fez uma observação intrigante, comparando a escultura a “pesadelos lovecraftianos que devem retornar de onde vieram”, uma frase que, sem dúvida, provocou reflexões sobre a natureza efêmera da percepção artística.
A presença de Quasi também gerou um interessante debate local sobre identidade e pertencimento. Muitos residentes lembraram como a escultura estava presente em alguns dos momentos mais difíceis da cidade, servindo como um farol visual em tempos tumultuosos, incluindo problemas envolvendo construções propensas a terremotos e divisões políticas. Especialistas e defensores da arte pública vêm se perguntando como Wellington procederá após a partida de Quasi, e se um novo ícone poderá surgir para preencher o vazio deixado. A escultura foi vista como um reflexo das lutas e vitórias da cidade, tornando sua despedida um evento histórico.
Enquanto a galeria se prepara para a despedida de Quasi, a cidade de Wellington se vê em um momento de introspecção, onde a arte, a divisividade e a identidade local se entrelaçam. É a própria arte, em sua essência, que provoca esses sentimentos, e, portanto, a remoção de Quasi pode ser um catalisador para discussões futuras sobre o que significa ser uma comunidade, o que se celebra e o que se deseja deixar para trás. Mais do que uma escultura, Quasi se tornou um personagem na narrativa em constante mudança de Wellington, deixando um legado que, mesmo após sua remoção, pode perdurar nas memórias e corações dos que passaram por debaixo da sua sombra.