O mês de outubro de 2023 trouxe novidades intrigantes para o universo dos dispositivos de leitura, destacando-se o lançamento de novos produtos pela gigante do varejo, Amazon. Entre as adições notáveis estão um novo iPad mini, alguns lançamentos da Boox e um adaptador incomum de e-reader para iPhone da Astropad. No entanto, o grande destaque fica por conta da renovação da linha Kindle, que reafirma a posição de liderança da Amazon no mercado de e-readers, onde a empresa detém cerca de 80% da fatia de mercado dedicada a esses dispositivos. O cenário revela um setor que, embora não seja muito barulhento, continua a nos surpreender com inovações sempre necessárias.

Os e-readers, embora sejam uma categoria estável de eletrônicos de consumo, têm se mostrado um tanto suprimidos pela hegemonia da Amazon, que tem promovido atualizações em sua linha de produtos de forma esporádica. Contudo, neste ano, a corporação decidiu fazer uma grande renovação na linha Kindle em preparação para a temporada de festas. Dentre as novidades, o Scribe, o modelo de maior tamanho, agora conta com capacidades aprimoradas de anotação e resumos de textos gerados por inteligência artificial. Já o Paperwhite, um dos mais vendidos, terá melhorias como um display maior e um processador mais rápido. Além disso, a versão base do Kindle agora oferece transições de página mais rápidas, uma iluminação frontal mais brilhante e opções de cores adicionais.

No entanto, as atualizações mais significativas foram ofuscadas pelo lançamento de um novo modelo que há muito tempo estava sendo aguardado: o Kindle Colorsoft. Após 16 anos de desenvolvimento da linha Kindle, muitos consumidores haviam praticamente abandonado a ideia de ter um e-reader colorido. A boa notícia é que a tecnologia de papel eletrônico colorido se tornou realidade nos últimos anos, com a principal concorrente da Amazon, a Kobo, lançando o Libra Colour em abril. O colorido no papel eletrônico representa uma verdadeira revolução, um passo que muitas pessoas esperavam, e a Amazon, curiosamente, conseguiu enveredar por esse caminho.

O que torna o Colorsoft tão interessante é que ele mantém a essência do que representa um Kindle. A nova adição compartilha traços muito mais próximos do Paperwhite do que de qualquer tablet Fire. De fato, poderia facilmente ser nomeado como Kindle Paperwhite Color. A implementação da cor é possível devido a uma camada secundária adicionada à estante de papel eletrônico, que se baseia no filtro de cor Kaleido da E Ink, desenvolvido especificamente para a linha Kindle. O resultado dessa inovação se mostra sutil, onde a cor é quase pálida, e em algumas condições, ao observar indiretamente a tela, pode-se ficar em dúvida se é realmente um modelo colorido. Essa comparação é uma forma de ressaltar o que parece uma tentativa da Amazon de equiparar a experiência de leitura ao que encontramos na impressão tradicional.

A experiência de leitura agora é mais suave para os olhos do que a reprodução de cores em um tablet, como, por exemplo, o iPad. O efeito das cores e das passagens destacadas é bem-vindo, embora se o leitor for predominantemente de prosa, as aplicações práticas desse novo recurso possam ser limitadas. Para quem busca um dispositivo para ler quadrinhos, a tonalidade pode parecer um pouco apagada. Essa adição de cor tão esperada, no entanto, relembra de maneira agridoce o fim do Comixology, que tinha muito potencial sob a abóbada da Amazon, mas que nos deixou com a sensação de que a empresa poderia ter dominado esse nicho completamente. O papel eletrônico ainda apresenta uma taxa de atualização que não é ideal para o dinamismo que o Comixology trouxe a essa visualização.

O Colorsoft, por fim, apresenta características que o aproximam do estilo mais tradicional de leitura, sendo uma reprodução que lembra a leitura das tiras de jornal. O novo filtro de cores evoca o processo de impressão CMYK, tipicamente utilizado para jornais. O efeito é amplificado pela tonalidade levemente cinza da tela do Kindle, que contrasta com a brancura de um tablet ou telefone. Além da nova tela colorida, as edições Paperwhite Signature e Colorsoft são bastante semelhantes, ambas com displays de 7 polegadas e densidade de 300 ppi. O formato das duas é idêntico, medindo 5 x 7 x 0,3 polegadas, embora o Colorsoft pese um pouco mais, com 7,7 onças, enquanto o Paperwhite Signature pesa 7,5 onças, uma diferença que provavelmente passa despercebida na leitura.

Ambos os produtos vêm com 32GB de armazenamento padrão, o que é o dobro da capacidade do Paperwhite básico e do Kindle padrão. O novo Scribe também tem opções de 16GB, 32GB e 64GB. Analisando a padronização do conector USB-C, apenas o modelo Signature do Paperwhite e o Colorsoft têm carregamento sem fio, algo que, provavelmente, não representa um quebra-galho para a maioria dos consumidores. Apesar da variedade de cores dos modelos Paperwhite e do Kindle básico, o Colorsoft vem apenas na cor preta, algo que poderia surpreender, mas que não ofusca suas qualidades.

A escolha da Amazon por utilizar o Paperwhite como base para o Colorsoft faz sentido, pois é o Kindle mais vendido, equilibrando a linha dos modelos básicos e do Scribe. O premium Oasis, uma opção que sempre teve seu público fiel, foi aposentado, especialmente porque não havia recebido atualizações em cinco anos. A realidade é que a maioria dos consumidores não parecia se importar tanto em ter um e-reader de alta gama. Um ponto onde o Paperwhite se destaca é na duração da bateria, com o Colorsoft listado para “até oito semanas” enquanto o Paperwhite promete “até 12 semanas”. Ao entrar no território de múltiplos meses com uma única carga, essa diferença se torna quase irrelevante, já que o usuário apenas precisa reservar 2,5 horas em algum momento para recarregar seus dispositivos.

O Paperwhite, além de tudo, apresenta um preço mais atrativo. O Colorsoft, com valor de US$ 280, entra na categoria dos e-readers premium, custando aproximadamente o mesmo que o Oasis. Em contraste, o modelo Paperwhite e o Paperwhite Signature estão disponíveis por US$ 160 e US$ 200, respectivamente, enquanto o novo Kindle básico é acessível a partir de US$ 110 e o Scribe, que pode ser um investimento para muitos, está na casa dos US$ 400. A essência do que a linha Kindle representa ainda permanece viva, e o tão aguardado recurso de cores, esperando por mais de uma década, finalmente chegou ao universo da leitura digital. O debate sobre se vale a pena os US$ 80 a mais em relação ao Paperwhite Signature pode ser mais sutil do que o preço sugere, especialmente considerando que a maior parte do tempo de leitura será em tons de monocromia conhecida do Kindle. Ainda assim, o novo Colorsoft se beneficia de várias gerações de melhorias, oferecendo uma experiência de leitura globalmente excelente, mesmo que a cor ainda se apresente como uma novidade um tanto intrigante.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *