no cenário atual do cinema de terror, poucos gêneros são tão apreciados quanto as histórias de assassinato em série e o conceito de viagem no tempo. Contudo, o filme time cut, que acaba de ganhar vida nas telas, parece ter pegado essas ideias promissoras e transformado em uma obra que, sinceramente, decepciona em múltiplos níveis. Lançado a 30 de outubro de 2024, sob a direção de Hannah Macpherson, a produção promete muito, mas entrega pouco. Com uma trama centrada em uma jovem que viaja no tempo para salvar sua irmã de um serial killer, as expectativas eram altas. Entretanto, o que se vê na tela é um misto de preguiça criativa e uma narrativa sem tensão, que pode deixar o público mais irritado do que envolvido.
a história inicia-se em 2003, quando quatro adolescentes são brutalmente assassinados pelo tal Sweetly Slasher, sendo que a irmã mais nova, Lucy (vivida por Madison Bailey), nasceu após essa trágica sequência de eventos. Enquanto o tempo passa, Lucy cresce em uma cidade devastada pela dor e pela perda, onde sua família carrega a sombra desse passado sombrio. A relação entre Lucy e seus pais, que mantêm o quarto da irmã falecida intacto, revela a intensa dor que permeia a dinâmica familiar. No entanto, quando a protagonista encontra um antigo bilhete ameaçador e, em seguida, um dispositivo misterioso que a transporta de volta ao dia dos assassinatos, a narrativa ganha um tom de urgência, mas não suficiente para cativar realmente o espectador.
o ponto negativo principal, porém, reside na execução do filme, que não consegue decidir sua verdadeira essência. Tanto os elementos de terror slasher quanto as nuances de uma narrativa de viagem no tempo são tratados com superficialidade. Revelações e detalhes são apresentados de maneira desajeitada, quase como se os criadores simplesmente queriam passar por cima do que poderiam desenvolver mais profundamente. O medo da criação de uma ‘paradoxo universal’ é mencionado, mas essa ideia nunca é explorada de forma que realmente intrigue ou provoque reflexões no público. A promessa de emoção e tensão é constantemente frustrada por um enredo que parece estar mais interessado em detalhes triviais de exposição do que na construção de um ambiente realmente ameaçador.
a questão do terror parece ainda mais comprometida. As sequências de sustos são incapazes de manter qualquer sensação de tensão, e o vilão, embora envolto em mistério, carece de desenvolvimento, o que o torna insípido e previsível. Ao invés de brindar o público com inovações que poderiam deixar a experiência cinemática envolvente, time cut se recusa a mergulhar no potencial de seu próprio cenário, resultando em uma experiência de visualização sem inspiração. A comparação com o filme Totally Killer, que explora conceitos semelhantes de maneira mais eficaz e atraente, não é apenas à toa, mas sim um testemunho da falta de audácia que permeia Time Cut.
no meio de todo esse desgaste, há um traço cativante na narrativa: a complexidade da relação de Lucy com a tragédia familiar. Ao se deparar com a imagem de sua irmã falecida, os conflitos emocionais que surgem estabelecem um elo que, se bem explorado, poderia dar ao filme profundidade e ressonância. A dinâmica entre as duas irmãs poderia ter sido o fio condutor de uma narrativa mais rica e provocativa, mas acaba se perdendo na tentativa de conectar terror e ficção científica de forma medíocre. As cenas que capturam essas emoções são, sem dúvida, os pontos altos do filme, no entanto, fica a sensação de que o que poderia ter sido uma reflexão profunda sobre luto e identidade se torna um mero eco da narrativa principal que falha em todo o resto.
em suma, time cut vai marcar presença na plataforma Netflix como uma promessa não cumprida, um filme que poderia ter explorado um espaço interessante entre o terror e a ficção científica, mas que se deixou levar pela mediocridade da execução. Com 95 minutos de duração, a produção parece mais uma viagem descontrolada pelas linhas do tempo do que uma experiência cinematográfica envolvente. O resultado final é claro: para fãs ardorosos de ficção de viagem no tempo ou de slasher, essa obra pode ser uma decepção, mas, quem sabe, sirva de lição sobre a importância da paixão e da criatividade na arte de contar histórias.