Na última semana, o bilionário da tecnologia Elon Musk se destacou na cena política ao fazer uma série de previsões audaciosas relacionadas ao cenário eleitoral americano, enfatizando um desempenho robusto dos Republicanos nas primeiras votações. Segundo Musk, o ex-presidente Donald Trump estaria “caminhando rumo a uma vitória esmagadora” na Pensilvânia, e até sugeriu que a vice-presidente Kamala Harris deveria se preocupar em perder a Virgínia. Essas afirmações foram baseadas em uma análise de dados de votação antecipada que ainda não foram contabilizados até o dia da eleição. Contudo, especialistas em votação mostram-se céticos em relação a essa abordagem, indicando que a falta de dados confiáveis torna essas projeções ineficazes e potencialmente prejudiciais à integridade do processo eleitoral.
Os perigos das previsões eleitorais na era da desinformação
A confiança de Musk em dados públicos sobre a votação antecipada tem gerado questionamentos. Vários analistas eleitorais, como David Becker, diretor do Centro de Inovação e Pesquisa Eleitoral, alertam que não há fundamentos suficientes para apoiar as previsões de Musk, enfatizando que a corrida pela presidência pode ser extremamente próxima. Becker afirmou que “nenhuma pessoa racional deve se surpreender se qualquer candidato vencer”, destacando a imprevisibilidade do resultado final. Este fenômeno não se limita a Musk; membros de ambos os lados do espectro político frequentemente utilizam dados de votação antecipada para promover seus candidatos e tentar motivar uma maior participação dos eleitores, mesmo na presença de informações insuficientes.
As redes sociais estão repletas de declarações de especialistas autoproclamados, jornalistas e consultores políticos de várias matizes, todos reivindicando interpretação das informações de votação que muitas vezes carecem de respaldo estatístico. As afirmações feitas por Musk são acompanhadas por figuras pro-Trump que alegam a inevitabilidade da vitória do ex-presidente, criando um clima de desconfiança que pode se manifestar caso Trump não consiga ganhar nas urnas.
A natureza volátil da votação antecipada
Enquanto analistas e observadores políticos, incluindo a CNN, notam uma melhoria no desempenho dos Republicanos em relação ao que ocorreu em 2020, o que inclui estados críticos como Carolina do Norte e Nevada, Musk avançou para reivindicações ainda mais audaciosas, sugerindo que esses dados poderiam resultar em vitórias esmagadoras para Trump em estados de inclinação mista e até significar uma potencial disputa em estados tradicionalmente azuis como Nova Jersey e Virgínia. No entanto, as informações sobre a votação antecipada se restringem apenas aos eleitores que optaram por votar antes do dia da eleição e não revelam intenções de voto de milhões que irão às urnas no dia da votação. Isso limita a interpretação do que esses números realmente significam.
Becker advertiu que “os totais de votação antecipada não dizem nada sobre quem está ganhando”. Ele ressaltou que os dados disponíveis não fornecem informação criteriosa, como a possibilidade de que esses eleitores já planejavam participar da votação no dia da eleição ou se são novos eleitores emergentes. Dessa forma, não se pode afirmar se a situação é vantajosa para qualquer um dos lados. Uma declaração do porta-voz do super PAC de Musk se absteve de comentar sobre as previsões de seu líder.
A comparação com dados de 2020 e suas limitações
O núcleo da previsão específica de Musk, que postulou que Trump venceria na Pensilvânia de forma esmagadora, baseou-se em comparações de participações de votos por correspondência em relação ao mesmo período da eleição de 2020. O post de Musk em sua plataforma X foi visualizado mais de 54 milhões de vezes até quarta-feira. Na verdade, a participação entre os Republicanos registrados neste ano não está tão aquém da dos Democratas quando comparado aos números de 2020. Contudo, os especialistas consideram irresponsável fazer previsões exageradas sobre a vitória com base nessa única métrica. De acordo com dados de Catalist, uma empresa de análise em apoio a dados e serviços para democratas e grupos acadêmicos, 32% dos votos antecipados na Pensilvânia são de Republicanos, um aumento em comparação com 21% em 2020. Ainda assim, os Democratas tiveram 68% do voto usual na mesma etapa em 2020 e estão agora com 58%.
Reflexões sobre a coerência das informações e seus impactos
A melhora da posição dos Republicanos na votação antecipada, conforme destacado por Musk, também é observada em outros estados, como Carolina do Norte, onde os Republicanos representam aproximadamente 34% da votação preliminar, perto de 4 pontos percentuais a mais em comparação com 2020. Já no Arizona, os Republicanos compõem 42% do total, um aumento de mais de 5 pontos percentuais em relação ao mesmo período em 2020. A análise do advogado eleitoral Ben Ginsberg sugere que “estamos diante da presunção de um partidário que reivindica muitos créditos, mas as pessoas devem receber isso com ceticismo”. Ele também enfatizou que a irresponsabilidade em ambos os lados do espectro político em relação à interpretação de dados de votação antecipada alimenta a desconfiança potencial que poderá surgir após o resultado final das eleições.
É interessante notar que, ao mesmo tempo em que Trump faz ataques constantes à votação por correio, uma abordagem que adotou em sua campanha de 2020, nesta ronda eleitoral, ele e o Comitê Nacional Republicano têm promovido mensagens direcionadas para incentivar os apoiadores a utilizarem a votação por correspondência, embora continue a questionar a integridade do sistema eleitoral como um todo. Além disso, uma parte significativa dos eleitores não está afiliada a nenhum partido, tornando-se impossível prever como irão se posicionar em relação às candidaturas de Trump e Harris. Essa realidade reforça que nem todo Republicano registrado votará em Trump, assim como nem todos os Democratas registrados apoiarão Harris.
A análise feita por Isaac Saul, que escreve uma newsletter política não partidária, levanta dúvidas sobre a compreensão de Musk sobre esses elementos ou se ele apenas decide ignorá-los, o que expõe a fragilidade das previsões feitas com base em dados suscetíveis e não conclusivos. Dessa forma, a narrativa em torno das previsões de Musk sobre a influência expressiva do voto antecipado deve ser recebida com cautela, evitando a adoção de conclusões precipitadas em um cenário eleitoral que pode rapidamente mudar conforme a data da eleição se aproxima.