A prática de atividades físicas é amplamente reconhecida como um dos pilares fundamentais para uma vida saudável, especialmente à medida que envelhecemos. No entanto, muitas pessoas têm uma rotina apertada, o que as leva a se exercitar esporadicamente, geralmente durante os fins de semana. Uma nova pesquisa publicada no British Journal of Sports Medicine sugere que aqueles que se enquadram no perfil de “guerreiros de fim de semana” apresentam riscos de demência leves semelhantes aos de indivíduos que se exercitam com mais frequência. Este dado é especialmente significativo em um contexto em que mais de 55 milhões de pessoas atualmente convivem com demência em todo o mundo, com novos casos surgindo a cada dez segundos.
A pesquisa focou em indivíduos que realizam uma ou duas sessões de exercícios por semana, destacando que essa prática pode ser tão eficaz quanto uma rotina de exercícios mais sustentada na prevenção de condições cognitivas adversas. Os acadêmicos, provenientes de diversas instituições da América Latina e da Europa, buscaram entender melhor como a frequência do exercício físico influencia o risco de demência leve. Os resultados indicam que a prática de atividades físicas nos territórios delimitados para os “guerreiros de fim de semana” não só preserva a saúde mental, como também pode ser mais viável para aqueles que possuem um estilo de vida agitado.
O estudo analisou dados de duas pesquisas distintas que fazem parte do Estudo Prospectivo da Cidade do México, um projeto que acompanha a saúde de milhares de pessoas na capital mexicana ao longo dos anos. Realizada entre os anos de 1998 e 2004, a primeira fase da pesquisa coletou informações sobre a frequência e a duração das atividades físicas realizadas pelos participantes. Já na segunda fase, realizada de 2015 a 2019, foram avaliadas funções cognitivas utilizando o Mini Exame do Estado Mental, uma ferramenta amplamente utilizada para detectar possíveis declínios cognitivos.
Ao longo do estudo, 10.033 indivíduos, com uma idade média de 51 anos, foram entrevistados. Os pesquisadores agruparam os participantes conforme seus hábitos de exercício: os sedentários, os que se exercitam uma ou duas vezes por semana – os “guerreiros de fim de semana” –, os que se exercitam de forma regular, ou seja, pelo menos três vezes por semana, e um grupo combinado de regularmente ativos e guerreiros de fim de semana. Os resultados foram notáveis. Aqueles que se exercitavam apenas nos finais de semana apresentaram uma diminuição de 13% na probabilidade de desenvolver comprometimento cognitivo leve em comparação com os sedentários. Por outro lado, os que estavam no grupo de atividades regulares e aqueles que se encaixavam como um grupo combinado apresentaram uma queda de 12% no risco.
Esses dados foram consistentes para ambos os gêneros. Gary O’Donovan, um dos autores do estudo e professor adjunto na Escola de Medicina da Universidade dos Andes, na Colômbia, explicou que aproximadamente metade dos guerreiros de fim de semana reportou a prática de exercícios por pelo menos 30 minutos a cada sessão, enquanto o restante se exercitou por cerca de uma hora ou mais. O’Donovan enfatizou que, embora as reduções nos riscos sejam semelhantes entre os grupos analisados, a intenção é reforçar a ideia de que o que importa é a prática física regular, independente da frequência.
O estudo apresenta um avanço importante na compreensão dos benefícios da atividade física esporádica para a saúde mental, especialmente considerando que muitos indivíduos se sentem desencorajados a se exercitar devido à falta de tempo. O’Donovan ressaltou que é crucial desmistificar a noção de que apenas uma rotina intensa de exercícios é capaz de garantir benefícios à saúde. Ao contrário, o modelo do “guerreiro de fim de semana” pode assegurar que todos tenham acesso a essas vantagens, tornando a prática de exercícios mais inclusiva e factível. A questão do tempo é um obstáculo significativo, com pesquisas indicando que cerca de dois terços da população adulta mundial desejam se exercitar mais, mas não conseguem devido a diversas responsabilidades.
Com base em pesquisas relacionadas que indicam que treinos de fim de semana podem ser tão eficazes quanto rotinas de exercícios mais frequentes para a mitigação de mais de 200 doenças, os autores acreditam que suas conclusões podem influenciar positivamente políticas de saúde e iniciativas práticas para encorajar a atividade física entre diversas populações, especialmente em contextos urbanos e dinâmicos como os encontrados na América Latina.
Por fim, Chris Russell, professor sênior da Associação de Estudos sobre Demência da Universidade de Worcester, ressaltou a importância de mais pesquisas sobre demência em países de média e baixa renda, como o México. Russell não esteve diretamente envolvido neste estudo, mas acredita que a atividade física, incluindo esportes informais como danças e caminhadas, pode contribuir para a prevenção da demência. Além dos benefícios físicos evidentes, o aspecto social da atividade física desempenha um papel importante, potencializando a interação humana e a companhia em ambientes de exercícios, o que também pode ajudar a prevenir o declínio cognitivo.
Em vista do crescente número de diagnósticos anuais e da elevada taxa de incidência de demência, a mensagem é clara: não importa se você é um guerrreiro de fim de semana ou um atleta devotado, o importante é manter-se ativo e se adaptar à sua rotina, celebrando cada pequena conquista em termos de saúde.