Iniciativa polêmica visa reverter abstenção nas eleições de novembro nos Estados Unidos
A empresa Chicagoense Cards Against Humanity, conhecida pelo seu jogo de cartas repleto de humor ácido e controverso, anunciou uma nova iniciativa intrigante: oferecer pagamentos de até $100 para pessoas que não votaram nas eleições de 2020, desde que compareçam às urnas em novembro deste ano. Este movimento é parte de uma estratégia inovadora para encorajar a participação cívica, especialmente entre um eleitorado que demonstrou alto índice de abstenção nas últimas eleições. Através de um site dedicado, a empresa coleta informações pessoais de potenciais eleitores, que são então validadas contra dados de registro de votação. A empresa ainda alegou que a obtenção das informações foi facilitada pela aquisição de dados de um corretor externo.
O programa visa especificamente aqueles que, por qualquer razão, optaram por não votar em 2020. Para se qualificarem ao pagamento, os interessados precisam cumprir três requisitos: escrever uma carta de desculpas por não terem votado nas eleições anteriores, elaborar um plano concreto de como e quando votar nas próximas eleições, e publicar um comentário pré-escrito depreciativo sobre o ex-presidente Donald Trump em suas redes sociais. A empresa comentou especificamente que, em 2020, Trump perdeu o estado da Geórgia por uma diferença de apenas 12.000 votos, um número consideravelmente inferior ao que eles esperam alcançar entre os não-votantes desta vez, ao que já 1.767 americanos “pediram desculpas” até o momento pela sua abstenção.
Detalhes da campanha e impacto nas eleições
A iniciativa não se limita apenas a pagamentos; Cards Against Humanity também está vendendo um pacote de expansão do seu jogo, intitulado “Cards Against Humanity Election Pack”, que custa $7.99. Os lucros deste pacote contribuirão para o fundo de uma super PAC denominada “Cards Against Humanity PAC”, que foi registrada oficialmente junto à Comissão Federal de Eleições dos Estados Unidos em 5 de agosto de 2024. A campanha tem como alvo prioritário eleitores dos sete estados estratégicos, conhecidos como “swing states”, que são Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin, locais onde cada voto pode ter um impacto significativo no resultado das próximas eleições.
Embora a campanha tenha gerado interesse e engajamento, a equipe da campanha de Donald Trump não fez nenhum comentário imediato sobre a nova proposta da companhia de jogos. Por outro lado, é interessante ressaltar que a America PAC, um grupo pró-Trump financiado pelo bilionário Elon Musk, lançou uma campanha semelhante, promovendo a arrecadação de assinaturas de petições em apoio às Primeiras e Segunda Emendas, oferecendo $47 por cada eleitor registrado que conseguisse obter assinaturas em estados ainda indefinidos.
Além de todos esses aspectos financeiros e estratégicos, a relação entre Cards Against Humanity e Elon Musk parece estar se tornando contenciosa. Em setembro, a empresa de jogos processou a SpaceX, companhia de Musk, acusando-a de ter invadido e danificado a propriedade que compraram em 2017, com a intenção de bloquear a construção de uma seção do muro entre os Estados Unidos e o México, um projeto que gerou muitas controvérsias durante a administração Trump.
A tendência de envolver jogos e entretenimento na política, através de iniciativas inovadoras e até provocativas, pode simbolizar um novo fenômeno nas campanhas eleitorais contemporâneas. Em momentos onde a abstenção pode definir futuros eleitorais, campanhas como a da Cards Against Humanity buscam conectar-se com um público-alvo que pode ter sentido que sua voz não foi ouvida. Embora o resultado e a resposta da população a essa proposta permaneçam incertos, o fato é que a criatividade e a ousadia da empresa em buscar soluções fora do convencional certamente desafia as normas estabelecidas no setor político.
A combinação entre humor, crítica política e engajamento cívico parece estar moldando uma nova estratégia que, se bem-sucedida, poderá influenciar a maneira como as empresas e os cidadãos interagem durante as eleições no futuro. Com a boca no mundo, a empresa de jogos demonstra que, além de divertidos, seus jogos podem ser um instrumento de mudança social.