A atual onda de inovações impulsionadas pela inteligência artificial traz à tona questões éticas e legais que se entrelaçam com o conceito de propriedade de conteúdo. No contexto da conferência Disrupt 2024, o CEO da Perplexity, Aravind Srinivas, participou de uma discussão intrigante com Devin Coldewey, onde os desafios em torno da definição de “plágio” e as controvérsias envolvendo o uso de conteúdo de outros veículos de comunicação pela sua plataforma foram o foco principal. A conversa ocorre em um cenário em que grandes instituições de mídia, como o News Corp e o New York Post, entraram com ações judiciais contra a Perplexity, acusando-a de integrar um sistema de “kleptocracia de conteúdo”. A recente resposta de Srinivas às alegações expôs uma batalha complexa que pode moldar o futuro do jornalismo e do consumo de informação online.

Srinivas, ao longo da sua apresentação, destacou a posição da Perplexity de que a plataforma “sempre cita suas fontes” e não reivindica a propriedade de qualquer conteúdo. “Estamos surfando conteúdo da web, resumindo-o de uma maneira que o usuário pode digerir”, declarou, defendendo que este processo se assemelha ao trabalho realizado por jornalistas e acadêmicos. O executivo enfatizou que a função da Perplexity é agregar informações relevantes para os usuários, promovendo um entendimento mais amplo dos dados disponíveis, aspecto que ele considera crucial no uso da plataforma.

No entanto, mesmo com essa defesa, o tema é delicado e gera reações contraditórias no setor de mídia. Apenas este mês, o The New York Times enviou uma notificação de cessar e desistir à Perplexity, uma demonstração do crescente descontentamento sobre o modo como os conteúdos estão sendo utilizados. Srinivas, por sua vez, não se esquivou de abordar as implicações dessas alegações. Em um recente post de blog em resposta à ação da Dow Jones, a Perplexity argumentou que muitos editores desejam que a sua tecnologia “não existisse” e prefeririam que “fatos reportados publicamente fossem de propriedade de corporações”. Contudo, a postagem não abordou de forma direta se a Perplexity realmente replica conteúdos em grande escala, conforme tem sido afirmado por alguns editores, competindo diretamente por uma audiência comum.

Um estudo recente da ferramenta de detecção de plágio, Copyleaks, trouxe à tona resultados alarmantes. Em seu relatório, foi revelado que um resumo da Perplexity reproduziu 48% de um artigo da Forbes, enquanto outro incluiu 28% de paráfrases e 7% de plágio, de acordo com a definição da ferramenta. Srinivas, ao se referir a esses números, repudiou a ideia de que a Perplexity estivesse, de fato, desconsiderando os direitos autorais, afirmando que a empresa se esforça para fornecer credibilidade nas suas citações. “No final de cada frase, há uma nota de rodapé ou a página correspondente de onde a informação foi obtida. É claro que não é extremamente preciso… mas estamos fazendo o nosso melhor”, assegurou.

Um dos pontos mais relevantes discutidos foi a colaboração de Srinivas com várias empresas de mídia, como Time, Fortune e Der Spiegel, em um programa de compartilhamento de receitas. O CEO indicou que a Dow Jones também poderia ter sido uma parceira, mas optou por intensificar a situação legal em vez de firmar uma aliança produtiva. “A Dow Jones alegou que não respondemos, e isso não é verdade. Respondemos no mesmo dia. Portanto, espero que as pessoas valorizem nossa intenção de colaborar e engajar-se”, ressaltou ele, destacando a importância de um diálogo aberto entre as empresas de tecnologia e os veículos de mídia.

Além disso, Srinivas abordou a questão do uso da Perplexity para resumir artigos que estão atrás de paywalls, um dos aspectos que a ação da Dow Jones sugere. Ele declarou que, na verdade, a maioria dos usuários da Perplexity busca a plataforma para pesquisas financeiras. “Ninguém vem à Perplexity para consumir suas notícias diárias. As pessoas acessam aqui para entender o que está acontecendo. Como isso afeta a mim? Essas não são perguntas que você pode simplesmente perguntar ao TechCrunch”, disse Srinivas, evidenciando um uso distinto e especializado da plataforma.

Por fim, enquanto a Perplexity busca levantar cerca de 500 milhões de dólares com uma avaliação de 8 bilhões de dólares, a companhia parece ter batido a marca de 100 milhões de consultas de busca por semana. O acesso à informação continua a se expandir, e a Perplexity tem lançado novos produtos continuamente, incluindo ferramentas de compras online, rastreadores de resultados esportivos, bem como novas capacidades publicitárias. Neste contexto, Srinivas se colocou a questionar sobre o futuro do jornalismo na era digital, onde “cientistas reivindicam a propriedade sobre um determinado fato” enquanto “outras pessoas” — possivelmente publicadores — não conseguem controlar onde esses fatos aparecem ou como estão contextualizados. “Nossa crença é que os fatos precisam ser distribuídos universalmente a todos”, finalizou o CEO, deixando uma indagação no ar sobre o que realmente significa “pertencer” à informação na sociedade contemporânea.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *