O tão esperado filme Conclave, uma adaptação do romance homônimo de Robert Harris, promete uma experiência cinematográfica que cativa tanto os admiradores do livro quanto novos espectadores. Com uma narrativa centrada nas complexidades e na política de alto risco de uma eleição papal, o filme proporciona uma nova perspectiva sobre temas de fé, poder e vulnerabilidade humana. No entanto, as adaptações cinematográficas costumam exigir adaptações de seu material original, algo que Conclave não é exceção. Este artigo explora as mudanças significativas que foram feitas e como elas impactam a obra como um todo.
Um dos mais notáveis aspectos da transição do livro para o filme foi a mudança de nome do protagonista. Originalmente conhecido como Cardinal Lomeli, ele se tornou o Cardinal Lawrence no filme. Essa alteração não é meramente sem importância; o nome Lomeli carrega conotações italianas e uma ligação histórica com a região da Lombardia, uma terra rica em cultura, arte e tradições católicas. O nome é relativamente raro, sendo o 13.136 mais comum do mundo, e com frequente associação à ancestralidade italiana. Em contrapartida, o nome Lawrence é de origem latina, significando “coroado com louros”, e remete a São Lourenço, um mártir reverenciado. Isso se torna importante, pois a mudança reflete um esforço dos cineastas para fazer com que o personagem se torne mais acessível a um público mais amplo.
Outra notável mudança na adaptação de Conclave foi a nacionalidade do Cardinal Bellini. No romance, ele é descrito como italiano, enquanto no filme seu personagem foi transformado em um americano. Essa transição não é à toa; ao colocar um personagem americano no contexto clerical, o filme traz uma nova dinamicidade ao cenário da Igreja, uma vez que o catolicismo se expande e diversifica no século XXI. Esse reflexo da atualidade também poderia ser visto como um modo de abordar questões de mentalidade moderna e aberta que contrastam com as tradições mais conservadoras dos cardeais europeus.
Na intrigante mudança de cenário, o Cardinal Benítez passou de servir em Bagdá, no Iraque, para Kabul, no Afeganistão. Essa alteração não apenas intensifica os níveis de risco e os desafios que Benítez enfrenta no filme, mas também destaca a coragem por trás do seu fervor religioso. O Afeganistão, por sua vez, é reconhecido atualmente como um dos lugares mais perigosos do mundo, aumentando ainda mais a tensão dramática que permeia a narrativa.
Ao contrário do que se encontra na obra original, onde a presença da Sister Agnes era restrita, a versão cinematográfica a eleva a um papel proeminente. Sua inclusão como personagem central fornece uma influência feminina significativa na narrativa, equilibrando a, geralmente, dominada perspectiva masculina do Vaticano. A ampliação do seu papel é uma escolha direcionada a adicionar profundidade à história e a explorar as temáticas de gênero e poder dentro da Igreja.
Além disso, a idade do protagonista foi ajustada; enquanto no livro o Cardinal Lomeli é um personagem idoso que carrega o peso de suas experiências, no filme o Cardinal Lawrence é representado como mais vibrante e enérgico, uma escolha que se encaixa melhor na dinâmica de um thriller, enfatizando ação sobre introspecção. Embora o caráter introspectivo e a vulnerabilidade histórica de uma figura mais idosa pudessem ser mais atraentes para alguns, a abordagem mais ativa e tangencial ao filme tornam-no mais atraente para o público moderno.
Conclave também traz uma subplot altamente emocionante envolvendo um atentado com carro-bomba, uma cópia que não estava presente no romance. Essa nova trama adiciona um nível de urgência e perigo que mantém a atenção dos espectadores, em contraste direto com a narrativa mais lenta e introspectiva do livro. Este destaque na adaptação é um reflexo das tendências cinematográficas contemporâneas para manter o público conectado através de elementos de ação dramática.
Ao final, apesar das alterações feitas em relação à obra de Harris, Conclave consegue manter a essência de sua narrativa, expandindo as camadas de complexidade ao oferecer uma variedade de experiências e perspectivas. Isso é não apenas um testemunho da adaptabilidade do material original, mas também uma ilustração de como o cinema contemporâneo busca atrair um público variado por meio da diversidade e da modernização dos personagens e cenários. O longa, que tem estreia marcada para 25 de outubro de 2024, traz um elenco de peso, incluindo Ralph Fiennes, Stanley Tucci e John Lithgow, todos prontos para oferecer performances que prometem capturar os desafios e a tensão do processo eleitoral papal.